O "Rabo da Porca" ficará nesse limiar absurdo que só as figurinhas de bastidores e o mais desanimado leitor podem perceber: o ensaísmo pragmático à imbecilidade. São sonetos políticos que refletem a vida num chiqueiro da Fazenda do Manguaço. O que passará, aos nossos olhos lassos e subrepticios, é a bandalheira de uma ação social que acontece entre porcos, mas que poderia ser refletida por nós, neste plano supra-racional. AH! TUDO AQUI É DO TEMPO DE ANTES DESSA IDIOTA REFORMA ORTOGRÁFICA
sábado, 31 de março de 2012
"Pendências"
...Tudo a dizer antes que a terra nos cale, antes do último suspiro, antes que a língua atrofie, antes do primeiro verme...
"Pendências"
Luzes tranquilas adormecem, quando eu caio
Na mais profunda imensidão do meu azul -
Rastro de calma, solidão, vento do sul,
Rio da montanha, tempestade, para-raio.
- São essas noites, meu amor, de muito frio;
Noites dormindo o sono que dormi na infância.
- São essas árvores torcendo-se no rio,
Onde media com o olhar tua distância.
Ontem perdi meus sentimentos de andarilho;
Deixei a casa de meus pais, como a aranha
Pula de assalto sobre a presa no ladrilho...
Quem sabe hoje em que a cidade me ignora,
Possa entender a dor cabal que me acompanha
Pra, enfim, dormir quando chegar a hora.
(F.N.A)
sexta-feira, 30 de março de 2012
"O Joio e o Trigo"
...Ouvirás uma conversa solta, morna e acolhedora como a mordida da cobra. Pronto. Estás envenenado!!
"O Joio e o Trigo"
Boneca de Cera aonde é que entendes
Que tanta coisa feita a parafina,
Como a aliança dessa tal menina,
Pode durar enquanto tu acendes
Novo paiol, faísca cega, chama rouca?
- Assim adoecem em tanta pirotecnia
As doações, velhos contratos, alforria,
Que uma colher de salamargo salga a boca...
A eternidade, como as rugas num botox,
Sofre da ausência muscular com a idade:
Até a ferrugem vence a cor do aço inox.
Alguém soprou pela campina um alarido
E isso espalhou negras sementes na cidade,
Que ninguém pode mais te dar ouvido...
(F.N.A)
quinta-feira, 29 de março de 2012
"Anã"
...O escopo já não conta muito. A língua ajuda bastante...
"Anã"
Era uma anã, só uma anã, seguindo o fardo
De, porventura seu esqueleto diminuto,
Estar com a boca na altura do charuto
Tocando a tromba do patrão por algum cargo.
Seguia assim, forçando a barra, amando o vício
E ainda segue em seu esforço por cautela,
Pois, afinal, não é nenhuma Cinderela
E socialismo não é muito seu ofício.
Mas se diverte quando a festa é do barrão:
Corta churrasco, espanta mosca da cerveja
E enche o peito pra dizer: "É meu irmão!"
E, no emprego, quando vem fedendo a alho,
Não lava a boca, pra que todo mundo veja
A língua suja: seu instrumento de trabalho.
(F.N.A)
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