O "Rabo da Porca" ficará nesse limiar absurdo que só as figurinhas de bastidores e o mais desanimado leitor podem perceber: o ensaísmo pragmático à imbecilidade. São sonetos políticos que refletem a vida num chiqueiro da Fazenda do Manguaço. O que passará, aos nossos olhos lassos e subrepticios, é a bandalheira de uma ação social que acontece entre porcos, mas que poderia ser refletida por nós, neste plano supra-racional. AH! TUDO AQUI É DO TEMPO DE ANTES DESSA IDIOTA REFORMA ORTOGRÁFICA
quarta-feira, 31 de agosto de 2011
"Gato Fedorento"
Este soneto aqui é uma homenagem aos malucos bacanas do programa de humor português, Gato Fedorento.
Transgressão, cinismo e ironia - receita precisa para um bom humor.
"Gato Fedorento"
É uma questão de pescas, ora pá?!
Pois sapateio e faço deste ofício
O riso largo no teu orifício,
Que nem Bocage fez tua mãe gozar.
Gosto do riso quando muito irônico -
Riso de graça? Desses eu me afasto!!
Me lembro um dia que ao cagar no pasto
Te encontrei peidando um supersônico.
Falas de humor e eu te digo: o gato
Que não tem dono ou quem o alimente,
Vive no beco só de comer rato.
Mas a fuder e beber na contramão.
Tal qual prefiro a vida delinquente
Que ser cachorro e ainda ter patrão.
(F.N.A)
"Rui, o Rebelde Retraído"
...Ele finge que vai, finge que vai estourar, está a um passo de explodir, mas se retrai.
É um valete tímido com sérios problemas de imposição.
"Rui, o Rebelde Retraído"
Quando um fedelho, Rui torceu o joelho
E sua mãe o prendeu como bem quis.
Um mês de tala sem se olhar no espelho...
Tentou se rebelar. Foi por um triz.
Subiu na vida o Rui. Deixou o cabelo
Crescer como sua morsa no nariz.
Prefeito de mulambo deposto do castelo
Pensou vingar. Calou! - Foi porque quis.
À idade, lobo velho, ele descansa
E se revolta quando alguém ainda lhe eriça -
O pelo sobe, se atiça e sobe a pança.
Lá na Casa do Conde, zangado pela cidade,
Cansou de tanta avaria na areia movediça,
Quis se zangar, parou. Não xinga a cara metade.
(F.N.A)
terça-feira, 30 de agosto de 2011
"Assembléia dos Espíritos"
Extra! Extra!
Partido antecipa juízo final. Quer zumbis cumprindo compromisso e votando.
"Assembléia dos Espíritos"
Pensava que os Judeus - eles somente -
Contavam com o Juízo sobre a serra,
Pra ver brotar da mansidão da terra
O espírito dos mortos, plenamente.
Daí vêm outros povos que lhe seguem
Ao máximo regimento da fronteira
E em muito alistam em suas fileiras
Os bem finados pra que não sosseguem.
Não são só povos que recrutam mortos,
Que alimentam a fome de vingança
Que faz o homem diferir dos porcos.
Até um Partido já acha essencial
Listar defuntos pra pesar à balança
A aprovação do próprio carnaval.
(F.N.A)
domingo, 28 de agosto de 2011
"Leite de Magnésia"
...Esse é bom pra uma bela cagada, mas pra amnésia, não!
"Leite de Magnésia"
Pó, purpurina, placa, pé, Platão,
Palmas, platéia... patuscada é pouco!
Agora sei que Mister M é louco -
Sumiu o flagrante de sua própria mão.
"Não faças, oh mocinha!, da malcriação
O favo natural nos lábios do veneno!
Crianças tolas - de Guerrilha ou não
Temem na guerra as gotas do sereno."
Quem se assombra com mandatos vagos
Ou se aliança nos lençóis alheios
Quando sê pego - é pelos próprios bagos.
Se truque ou mágica, o resto é amnésia.
Até quem foi um homem sem receios
Sofre, mas toma leite magnésia.
(F.N.A)
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
"A Era da Decrepitude"
...Um estado de direito onde não há direito; soberano que não tem soberania; moderno contemporaneamente atrasado...
- Já me emputeci com esse peleguismo escroto e todas suas vertentes!!
“A Era da Decrepitude”
Obama foi sem calça ao puteiro
Querendo dar calote em puta velha:
Comer, beber, fuder sem ter dinheiro,
Sardinha, pão com ovo e mortadela.
Ninguém toma um estado por tabela,
Sem golpe, atentado ou força bruta.
Pois, mesmo Che Guevara amava aquela
Cantiga “Pouco pão? Mais árdua a luta.”
Não resta uma esquerda sem o crivo
Dos mesmos atentados que a direita
Causou, cedendo ao mundo um mel nocivo.
Não sobra um só gigante, um anjo, alguém
Que ampare o cidadão com a receita
Da prática do reino como um bem.
(F.N.A)
"Ariadna & Ariadno"
...Victor ou Victória? Enfim, não sei dizer se é um exagerado folhetim ou temos mesmo candidatos assim?!
"Ariadna & Ariadno"
- Não me dê gole, nem golão, mas um golin'
Num copo sujo de esmalte, americano,
Pois só bebum talvez entenda qual o plano
Pro cabaré não pegar fogo igual capim?
Já grita o gringo, o cão sem rabo e o verdin´;
Faz-se modelos - do reitor ao pé de pano,
Que domicílio o futebol não deu ao fulano,
Mas a morena Ali Babá do vermelin´.
Agora surge essa patroa sem uma forma,
Que lhe projete a outro andar de consciência
Que não do alto de seu salto... plataforma.
Porque às vistas perniciosas, logo vi!,
Que do batom que usa a doida na aparência
Mais usa o rouge seu esposo-lingerie...
(F.N.A)
"Memória de Cabano"
...Minha saudade me leva a igarapés que bebi quando ainda eu era um índio sem tapera...
...Dedico este soneto ao poeta e amigo de versos, Luiz Martins.
"Memória de Cabano"
Dizia Claudia, e já vão lá uns tantos anos,
Que "dói no peito uma dor que não é pouca."
Sabia disso enamorado em sua voz rouca,
Quando crescia a juventude de meus danos.
Não levo mesmo muita coisa - só os ciganos
Jeitos de vida em minha vida sempre louca.
Deixar dizer tudo o que penso noutra boca
Seria amar com menos sonhos mais enganos.
Prefiro eu mesmo, eu gritar meu eu cabano
- Caboclo manso que o Pará pariu na terra -
Que muito erra, além da serra, o rio estranho
Que leva as dores de existir como um direito
De renegar essa semente onde a guerra
Desfez o índio que eu fui dentro do peito.
(F.N.A)
domingo, 21 de agosto de 2011
“Brasília”
"...Deixa, deixa, deixa eu dizer o que penso dessa vida. Preciso demais desabafar."
(CLÁUDIA, Deixa eu dizer)
“Brasília”
Dei um chute na mesa e salvei o gargalo –
Meu pescoço arrochado em um fiapo de pano.
Reparei que na cuca não deu nenhum dano.
Só uma música velha e um band-aid no calo.
Os Cristais fumam o Bosque na ronda noturna –
A cortina de sons é soprada num trago.
Solidão reprimida? Haja sexo pago...
A ossada do Azar enterrei numa urna.
Três, seis, doze projéteis: a tirada do dia.
De um zumbi me desperta o arraial de Brasília,
Que se assusta candanga. Ainda ontem – bóia fria.
Dei um chute na noite. Acordei, era vento.
Fui aos rastros do vício espantar a mobília
Destes prédios sem ar que sufocam o cimento.
(F.N.A)
“A Casa na Intendente”
Definitivamente, a MOCIDADE no interior do Pará, nos anos 80, não era fácil.
Rua Intendente Floriano: coisa estilo "Bye Bye Brasil".
“A Casa na Intendente”
Não sou de cabaré algum cliente,
Mas puta na batalha eu admiro _
O claustro em seu universo não prefiro:
A solidão, a dor, alguém ausente.
A mãe que foi obreira; o pai ausente;
O lar da jogatina em seu suspiro.
Talvez sirvam o jantar em seu retiro
Com o sexo infeliz de alguém doente.
Meu velho pai, que tinha um cabaré,
Eu lembro (ah, poções de grosso encanto!)
Que as quengas de teu bar fudiam em pé...
E quando eu pageava ardendo o ensino
No mel da velha teta vinha o espanto:
“Sussega, que tu é só um mininu!!”
(F.N.A)
“O evangelho, segundo São João”
...Não se livra da sanha o sabor da aranha: veneno.
“O evangelho, segundo São João”
Não penses, seu doutor, que o Rivotril
Desfaz meus traços finos e perversos.
Fora esse papo de Jesus, transformo em versos
A faca cega que amolo no esmeril.
Ok! Já fui um advogado bem Bombril –
De mil e uma sub-inutilidades.
Agora, solto bomba azul sobre as cidades,
Pois rezo alegre pra limpar nosso Brasil.
O filho, o pai, as bestas novas e os asseclas
E todo aquele que inspira minha cruzada
E invade manso, quando escrevo, minhas teclas,
Temei até bala com bala, olho furado!
Pois sendo louco lambedor de bula errada
Eu só acalmo por um cargo abdicado.
(F.N.A)
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