quarta-feira, 31 de março de 2010

"Soldo Ração"






...Não acredito que a compra de consciência e de votos vá começar, descaradamente, de novo!?!?







"Soldo Ração"


A vida no quartel é como um Spa:
Conforme sua patente é seu cardápio.
Só corre, pra pegar qualquer larápio,
Soldado e Cabo Velho em Quixadá.

Agora, Oficial é um Buda Velho -
A pança se desdobra no escritório,
A calça se mantém a suspensório
E o peido é mais pesado que Gás Hélio.

O governante entende que o comando,
Que vota independente de regime,
Precisa comer bem de vez em quando.

Sanciona a bate-pau a promoção.
"- Comida é um reforço contra o crime!"
É a troca de sufrágio por ração.


(F.N.A)

terça-feira, 30 de março de 2010

“Fumaça Branca”






...Dessa Sede Vacante, em que se transformou o pleito, nem Camerlengo quer assumir a vaga...









“Fumaça Branca”


Quem há de anunciar o novo papa
E recobrar ao estado de sua sina??
Luz dos Comandos Celestiais assina:
Homem sem Deus há de acertar a caçapa.

Mas quem seria o novo mandatário
Neste sertão de Terras do Sem Fim?
Há um ensaio que não chega ao fim
E que despista o nome do Canário.

Do alto do palácio, domo Vaticano,
Da terra de São Pedro, acenderá a chama
Que engatará o santo que irá pelo cano.

Codex Sinaiticus de nomes proibidos,
Aventa nomes que não armam a cama...
Seja, por isso, estarem tão perdidos!?!?


(F.N.A)

“Musa Impassível”




...Peruca, mau humor, riso forçado levam votos?? Pior que sim!




“Musa Impassível”


Três anos de cadeia podem tanto,
Que nem marmita a rodo açoda o humor.
A guerrilheira é feita do tumor
Que gela a espinha em grande desencanto.

Moça arrastada em seu primeiro manto –
Virgem sem sonhos lúbricos de Amor.
Talvez, o barbudo lhe seja o salvador,
Que seus delírios há de encoxar no canto...

Dito que há vida, depois da prisão,
Tudo lhe afere um ar de mal amada,
De coisa frígida a simular tesão.

Estoicamente, ao mundo parnasiano,
A Musa Impassível mostra-se lotada
Da estátua fria em um coração humano.


(F.N.A)

sexta-feira, 26 de março de 2010

"Poltergeist"

...Um espírito brincalhão não se desapega dos lares que assusta, nem quando lhe pedem:

“ - Entrega os cargos, poltergeist!”

“- Eu, hein!?!? Desencarnei...”



“Poltergeist”


O afago dos espíritos que não partem
- Lâmpada de Tesla a fosforar a sombra -
Induz o medo e sua energia lombra
O exorcista e a estética de Baumgarten.

Se afiam ao apego de energias mortas
Nos móveis velhos e nos espaços tortos;
E se deslumbram (da gnose) os mortos
Com nossa alma a mulambar nas portas.

Um poltergeist doma o que habita
E, desse apego morto, nem Quevedo
Lhe extirpa o frio do carma sodomita.

É como um deputado em possessão –
No vício de prender aos próprios dedos
Os cargos que incorpora em comissão.


(F.N.A)

quinta-feira, 25 de março de 2010

“O Inigualável Chapolin”





...Todas as tentativas de levante popular, deste mouco, soam desastrosas...

...Ao conclamar apoio à sua jornada incerta, mostra que é um anti-herói solitário!






“O Inigualável Chapolin”


Num misto de lerdeza e mouquidão,
O lobisomem uiva além da cerca –
Pra que a matilha a caça não mais perca
E assim o alimente a longa prestação.

Como um canil formado por leitão,
Veado, cobra, rato e carrapato,
Ninguém na horda há de polir o sapato
Que esse bicho usou sem distinção.

Na ofensiva, depois de estar perdendo,
É tarde hora em que descobre a bomba -
Não lhe fará trair, matar, explodir remendo...

Como um bufão, a lamentar em sonidos tons,
Pelo cercado, o Chapolin nos zomba:
- Se hão de seguir, me sigam os bons!”


(F.N.A)

quarta-feira, 24 de março de 2010

"Convite"



Quando te convidam, das duas, uma: ou é pra te fu**r ou é pra que vc se f*da.



“Convite”


“Governo é só Governo...”, ensaia o asceta,
Descrente que a ordem a um estafeta
É saracotear, nas micaretas,
As obras licitadas sem dar seta...

“Compondo-me o budismo de Sidharta
E negando as relações mais zen-fuleiras,
Assim é que eu deixei meu cú na feira –
Aberto, cheio de mosca e de cordata.

Nas relações bem públicas que nego,
Na base da influência ou lambe-ovo,
Me fodo, pois não chupo ou sento em prego.

E, triste, com o pau mole e melado,
Na festa da suruba ao cú do povo,
Não fodo, porque não fui convidado.


(F.N.A)

sábado, 20 de março de 2010

"Balancete"


...Política é verdade matemática. Ex: X, Y, B no repasse de A, B, C conforme a variante R, Z, T dá a equação P.Q.P...


“Balancete”


I


As contas que somei, zeraram exatas,
Mas minha mulher, num ábaco, atestou:
“- Erraste cinco dígitos, Amor!
Com a sobra hás de comprar uma ciabatta!”

Mas, meu irmão checando, não absorve
Os cálculos refeitos e da abcissa,
Que aprendeu com a freira, após a missa,
Nos diz: “- Melhor tirar prova dos nove!”

Um novo resultado surge e alguém
Do Tribunal de Contas bate à porta
E toma os balancetes num harém

De velhas pitagóricas a somar...
Um número político é forma morta
Difícil de entender e de contar!


II


Desdobram os combalidos numismatas,
Em coleções de verba, a contagem
E assustam-se com o fundo da bagagem –
Furado cofre velho de mamatas.

Entenda-se o princípio: é geometria
E menos matemática exata.
Um maço de verdinha em nota fria
Triplica seu volume em negociata,

Pois chega urrando amorfo no tesouro;
E, do maço auditado num convênio,
A lavagem o transforma em um cubo d´ouro.

Daí, a necessidade de um balanço
Forjado pela lâmpada do gênio
E com visto judicial que dá descanso.


III


E não sabe-se quem faz conta melhor!
Um político, um auditor e um advogado,
Sensíveis aos compromissos de um estado,
Toparam aferir um pão maior.

A receita fermentada com aditivos
Aos olhos da estratégia fazendária
Sumia, quando alguém passava o crivo,
Em notas de empresas societárias.

Fechados numa sala com um milhão,
Nem mal a auditoria iniciaram
E um raio armou, num poste, um apagão.

Na volta da energia, a conta feita:
Não tinha um só centavo que auditaram
E ninguém a quem tacar qualquer suspeita.


(F.N.A)

"Água de Colônia




...Como tenho Sorte!! Nesta província, boa parte tem nariz entupido...




"Água de Colônia


Um homem sem dinheiro é igual a um poste,
Aonde um vira-lata verte água:
Ninguém o toma em lhe saber sua mágoa;
Nem bêbado que, ao menos, em si encoste.

É um bacilo! Um vírus! Uma cultura
De bactérias que escapou à quarentena;
Um infeliz sinal no mundo, uma antena
A irradiar sua miséria às criaturas.

Não se compara ao Humanismo ou hominídeo,
- Filho de Spencer, Kafka, Stendhal, Malarmé -
Pois é menor que o fotograma de um lipídio.

É como um vulto; e quando notam sua presença
É pelo cheiro de pobreza démodé
Em seu perfume de fantasma sem essência.


(F.N.A)

"Novembro"



...Da minha infância, fragmentos da cidade em que cresci...



...De madrugada, o som da selva atravessa a aldeia e vibrava no ar, deixando tudo envolto numa dormência esquisita...




“Novembro”


Na casa onde morei meus breves anos
Da infância, uma casinha pau a pique,
Corria no meu sangue de cacique
O sangue da aldeia e seus ciganos.

A cama era encostada na janela
E, dela, a velha bica trespassava –
No dia em que chovia, eu me banhava
E, por ali, fugia até a cancela.

A aldeia desmaiava e eu ia junto.
E, à hora em que Altamira desmaiava,
Nas ruas do povoado, seus defuntos

Gemiam um som etéreo que eu me lembro –
Um velho crepitar de vela ardia
No sono dos finados, em novembro.


(F.N.A)

"Disk Entulho"





...Putz! Enfim...





"Disk Entulho"


Na falta de dedinhos de leproso,
Tomei uma mão biônica emprestada,
Somente pra acenar-te, da estrada,
O Adeus de um cão vingado e orgulhoso.

Vá para o Inferno, meu bichinho Elemental!
Nutra a delícia do Jardim de Hieronymus!
Se não quiseres ir até lá tomando um bus
Eu mesmo levo tua carcaça até o umbral.

E, se acaso, tu encontrares o Nicodemo,
Entregue ao pobre esta cartinha em suas mãos
Recomendando-te esposa ideal ao Demo.

Partas após o sol se pôr, por caridade.
Talvez um caminhão de lixo abra o alçapão
E te despeje além dos muros da cidade.


(F.N.A)

quinta-feira, 18 de março de 2010

"Mortágua"




...Enfim, a beleza clássica de um ícone que não sai de moda! Os fãs, como eu, agradecem os anos que passam...




“Mortágua”


Se a mansidão dos anos ofuscasse
O que o mel nos cedros dá ao vinho,
A língua e o nariz leriam espinhos
Na busca de um sabor que energizasse;

A idade, então, mais velhos, nos ofusca?
Que então seria a vida sem o passado?
Ninguém lhe saberia em estar errado,
Se os olhos no passado fossem à busca?

O tempo amadurece e torna belo
A natureza, a deusa, o mar e vésper,
Conforme os anos passem no Castelo

Do sonho, em ideais que não se apaga.
Em suma, a Perfeição se fez mulher
Nos anos da beleza em ti, Mortágua!


(F.N.A)

"República Federativa"



...A forma como nossa linda árvore genética foi criada dispensa comentários.



“República Federativa”



Cabaça, Vera Cruz, Monte Paschoal;
Caminha, Pero Vaz, que a índia é à toa;
Sentindo as agonias de Cabral,
Cacique dá bordoada em prensa boa.

Alguém sugere um cú neste contrato
Do índio e homem branco. Um mau sinal!!
Na troca, com certeza, no contato,
A bunda não será a de Portugal.

Um índio – Gabiru – caiu de quatro,
Cabral pulou da gávea e o pau armado
Quebrou, do índio, as pregas, como um prato.

O pobre adoeceu e cagou-se inteiro
Na mata, se embrenhou envergonhado...
Assim, nasceu o povo brasileiro.


(F.N.A)

terça-feira, 16 de março de 2010

"Omo Dupla Ação"






...S.A determina perfil de recrutamento com base no absurdo...







"Omo Dupla Ação"


O filho do vizinho é que é viado;
Só o nosso é que é um homossexual.
Olhando assim, por cima do quintal,
A vida do vizinho causa agrado

À língua de quem morde quando chupa
Ou tem inveja mansa do cumpadi,
Num mal do Taylorismo em ser metade
Da lícita vazão à força bruta.

Bem como nós, os doutos jornalistas,
Que impomos más sentenças nos colegas,
Se o Dom em suas veias não nos assista.

Formando-se a "Panela do Cercado":
Quem lambe - se respeita, sem ter prega;
Quem nega a felação, esse é viado!


(F.N.A)

quinta-feira, 11 de março de 2010

"Balística"



...Falta pouco pra apoteose de um miserável!!





“Balística”



I


Ok! Vamos direto aos finalmentes...
Estou a um passo breve para o vício
E a tentação feliz pra meu suplício
Sentir todos projéteis deste pente.

O cromo, o chumbo e o olhar dos penitentes
Da mira num gatilho a ferro armado,
Bailando em meus dedinhos de finado
E me despedindo triste dos parentes.

Cansado de correr a gritar nos postes
Com fios de alta tensão em minhas cáries
Lambendo meu sorriso às pentecostes.

Não dou mais altivez ao que me sobra –
Meu corpo a esmaecer no céu de Áries
Inoculando angústia igual uma cobra.


II


Como os detritos de uma massa acinzentada,
Que escapuliram com os ratos da Febem,
Eu vou manchar minha quitinete à madrugada
Randomicamente igual pintou Kurt Cobain.

Alguém me note, alguém me dê sua vaga mão,
Palavra, ódio, xingamento ou entorpecente,
Como a enfermeira dá veneno a um doente
E o empregado dá o cú a seu patrão.

Mas não me deixem apodrecer, aqui, sozinho!
Não deixem agora, que meu encefalograma
Mapeou meu crânio com repulsa e carinho!

Pois nele há súplicas perdidas e caladas,
Idéias vagas que colhi à flor da lama...
Não, não me deixem ir assim sem dizer nada!


(F.N.A)

terça-feira, 2 de março de 2010

"Taquaruçú Way Of Life - V"


...Flora dos estrumes, caldo da boa vontade, quem quer voltar a ser anão nas Minas de Moria?



“Quintal Elemental”


O sumo do orvalho em minha cama,
A névoa do cerrado em minha língua
De chumbo, tão pesada tabatinga,
Nuvem encharcada, o suor de Deus derrama.

A luz nos campos que corria douda,
Numa Hosana de estalos alienígenas,
Tem o linguajar das almas de indígenas –
Colchão do rio, que águas mortas tolda...

E cá, lá dentro em meu esconderijo,
Comendo cana em teias de aranha,
O bambuzal desnuda o vento, rijo...

Me sublimando em uma chaleira azul,
Nos locomelos que Alice apanha,
Transmigro à Elemental Taquaruçú.


(F.N.A)

"Cores Primárias"


...Quem comprou o Hulk, que ele assumiu, sorry: amarelou, de novo...



“Cores Primárias”


Pra se alcançar o verde alguém mistura
O amarelo e o azul numa mesma tina:
Cores fingidas com que se atura
O cromatismo morno que se descortina

Quando nos pintam arranjos coloridos,
Na envergadura dos que morrem urrando
Tanto furor esverdeado com pruridos
De um negrume bem covarde se pintando.

De uma mistura mal mexida em duas tintas,
Alguém pintou, de verde, o moço cor de rosa,
Que desbotou seu roseiral nas nossas quintas...

E o que era verde se azulou, quando o rastelo
Rejuntou suas folhas mortas ao fim da prosa
E o que sobrou foi só um covarde amarelo.


(F.N.A)