quarta-feira, 30 de março de 2011

"Escola de Sagres"




...Navego, desbravo, canso e derivo nestas águas que me afogam...








"Escola de Sagres"


Desbravo igual um marujo sem morada
As lanças do oceano e ainda encontro
A fórmula geográfica do helesponto
Que fez a minha vida mais cansada.

Confesso. Alguém me dê água salgada
Em cálices que as mãos se unem mortas
E enterre meu destino entre as comportas
Que às lágrimas do abismo estão cerradas.

Eu muito naveguei em terra firme
E quando me lancei no mar bravio
As tábuas do calado contorceram -

Ruiram, pois não pude nem sentir-me
Uma parte deste mundo em meu vazio
Nos sonhos que vivi e que morreram.


(F.N.A)

terça-feira, 29 de março de 2011

José Alencar - "Apego"







...A José Alencar - homem rico na terra em suas conquistas; mais ainda no céu em boa-aventurança...







José Alencar - "Apego"


Na praça, um anúncio. No alto-falante,
A morte é dissecada e os olhos disparam
No silêncio a multidão - e a tudo encaram,
Pois a vida sorriu-lhe o acalanto adiante.

No descanso do ocaso, o horizonte agradece;
A oração reverbera, quando máquinas param,
O fio que se tecela, enquanto roupas quaram,
E desfia no tempo o destino em uma prece.

Morre agora - Morrendo, não! Emurchecendo
A flor de sua velhice e o canto da coragem
No recanto ilustrado da Vida, entendendo

Que só leva do mundo, o sorriso e o sossego,
Quem, na luta do tempo, não bebeu da miragem,
Mas da sanha da vida em seu maior apego.


(F.N.A)

segunda-feira, 28 de março de 2011

“O Goebbels da Reserva”




...Quando a farra corria solta e mantinha o estado de sítio vigiado, conscrito achava bão...

...Agora, quer bancar uma de censor da ditadura e baixar cota ração...







“O Goebbels da Reserva”


Milico que não gosta de mensagem
Furtiva que afronta alto comando,
Parece uma TV ruim, chuviscando,
Com rachas pelo tubo da imagem.

Não sabe em estratégia o nobre Pirro,
Que Hitler não errou em metalinguagem;
Pecou porque fez grande a sacanagem
Da gripe ser menor do que o espirro.

Milico entende bem é de atentado –
Rio Centro, meia oito, Marighella,
Lamarca, pacotão, golpe de estado.

Nem busco compreender esse jerico
Que guarda sua cachola sem tramela
Invés num capacete, num penico.


(F.N.A)

terça-feira, 22 de março de 2011

"Bico Seco"



...A cana tá cara? Tá, sim senhor! A pinga subiu, mas o álcool baixou? Milagre de Santo Expedito!





"Bico Seco"


Preciso de uma pinga bem fraquinha,
Pois como o preço anda Aquele preço,
Nem bago de Caiana em sobrepreço
Consegue ser mais parco que a branquinha.

Há muito tomar pinga foi um costume
Pra tantos, por pobreza, em seus centavos,
Cingindo o amargo banzo dos escravos
Por lenitivo que não se resume.

Confesso: Bebo pinga porque gosto!
Mas como meu salário pouco sobra
Pra conta do gargalo e o tira-gosto,

Com o brinde do cartel espalhando talco
Que o Santo Expedito não nos cobra,
Melhor parar na bomba e beber álcool.


(F.N.A)

segunda-feira, 21 de março de 2011

"Riachão da Braboleta"





...Ah, o Progresso... esse, sim, justifica os meios!

...E quem quiser respirar, aqui, que compre seu balão de gás!!






"Riachão da Braboleta"


"Um córrego, silente, água pura...
E quem toma defesa a favor disso?
A largura desse rio é um caniço
E o leito não é lá essa fundura..."

"Eu fui um Tsunami Boy, um dia,
Lá no sopé dos Andes, inda criança -
Descia com as neves da barranca
E poluía os rios quando escorria."

"Eu temo por canções de primavera,
De lágrimas e de amor à natureza,
Pois amo, no Progresso, sua quimera"

"De andar de mãos atadas rente aos paus
Da mata a tombar pela avareza
De um processo que celebra o Caos."


(F.N.A)

"Ouro Negro"


...A culpa não é dos Postos, mas dos dinossauros...

...Não fosse isso, talvez nem estivéssemos nas mãos do santo das causas impossíveis...



"Ouro Negro"


Se os dinossauros, antes de ser óleo,
Bem antes da hecatombe no seu toba,
Soubessem que a flor era uma cobra
Radioativa em seu legado de petróleo,

Ninguém mais teimaria em ser fusível,
Nem metanol ou diesel ou gasolina,
Nem gás GLP, álcool ou vacina
Pra carros com padrão bi-combustível...

Se muitos dos teimosos brontossauros
Soubessem que seriam disputados
Por conta de centavos muito caros,

Dariam ao meteoro uma canseira -
Seria o fim em andar motorizado;
E corrida? Só em banguela na ladeira.


(F.N.A)

"Inteligência Artificial"







...Eis a localização revelada da fortaleza do Super-Boy - La barra da saia da mama...







"Inteligência Artificial"


Eu lembro do menino, um rapazinho,
Robô com sentimento de humanos -
Queria ver sua mãe, pelo seus planos,
Eternamente a lhe cingir carinho.

No filme de Spielberg, ele alcança,
Numa ilusão fortuita e bem futura,
A lágrima do sonho em sua candura
E a força que existe na esperança.

Mas, hoje, percebi outro robô,
Que atesta inteligência natural,
Maquiada em sua oferenda de Êbo.

Não passa de um autômato sem brilho,
Que une uma frieza emocional
Ao código genético de filho.


(F.N.A)

sexta-feira, 18 de março de 2011

“Sem Sexto Sentido”





...Raul Seixas disse que viu Pedro negar Cristo, por três vezes, diante do espelho...

...E eu que vi o genérico negar desencarnados diante dos hebdomadários?!?!...









“Sem Sexto Sentido”


Fantasmas a vagar em cargos públicos,
Temei!Vocês são peças de museu.
Melhor, não são nem espectros, nem júbilos
Ao lar que Alan Kardec não benzeu.

Visagens dos umbrais nas autarquias
Mantidas encarnadas por partidos,
Nem vós mais existis – sois fantasias.
Não crede em vós o ateu dos possuídos.

Nem tábua de Ouija mais detecta
A vossa assombração paranormal...
O médium sem poder nem vos conecta

Ao seu próprio saber e já nem suporta
Negar à inquisição ministerial,
Que ele não emprega gente morta.


(F.N.A)

quinta-feira, 17 de março de 2011

"Fashion Pavão"


...Só falta se exigir dos homens, cueca samba-canção ou ceroula; e das mulheres, anágua e bustiê...



"Fashion Pavão"


Não ando acostumado em andar invocado -
De terno. E jornalista entende disso??
É o Custo que nos causa esse suplício
E gravata é corda grossa pra enforcado.

Quiça, pra ver feliz um deputado
Fingindo cortesia e andando em pompa(?!)
Esquece. Tal regimento me amedronta -
E Regimento seria andar sempre alinhado...

...Não um pavão em terno ou num vestido -
Alinhamento ao código moral
E de ética é UM traje sério pretendido,

Que nunca se utiliza por quem cobra.
Mas vá cobrar essa veste de um amoral?!?!
Capaz nem se cobrir, pois não lhe sobra.


(F.N.A)

"Autonomia na Senzala"



...O Tocantins, em sua história, registra exploração de sua gente - teta boa não seca...

...E povo aprisionado luta sem trégua por dia melhor...

...Pena que há quem ainda lute pelo atraso e por interesses fátuos - apenas dinheiro e bestagem.





"Autonomia na Senzala"



I


Não fosse o aval francês em 1600
Quem sabe o Tocantins nem existisse
E o rio desbravado não fluísse
E a terra não vingasse seus rebentos...

Instadas companhias de Jesus
Na aldeia Palma velha e, além, no Duro,
Ninguém sabia ao certo o que o futuro
Guardava a Theotônio nesta cruz.

Passado, hoje, o presente em uma banheira
De pedra que escorreu em Natividade
A idéia descansada na canseira

Da lida ao fim do dia, uma revolta:
Província sendo estado, e não cidade,
Coroa sem tratado ou prende ou solta.


II


Levante armado e as costas de um matuto
Nas lápides fincadas nos quintais,
Abria no cerrado as vicinais
Que nos ligavam ao nada em chão sem fruto.

Mas muitos que exploraram nossa areia
Seguiram na derrama em altas taxas -
Ao menos preocuparam em por uma graxa
No esfíncter dos filhos das aldeias.

E fomos, todos juntos, seviciados -
O branco, o quilombola, o índio e o gado
Nas contas dos impostos nos dobrados.

E assim surgiu um Estado e sua alforria.
O problema é combinar com os deputados
Se a carta vale mesmo ou é fantasia.


(F.N.A)

quarta-feira, 16 de março de 2011

"Carcará sem Fome"








...Burro é o poetastro que vende brochura em porta de puteiro...








"Carcará sem Fome"


Carcará não pega, nem mata, nem come
Aquilo que não seja gorda verba,
Que em bolso de cantor faz a refrega
E adula poesia em cão sem nome.

Ah, eu quero também graça e pouca fome;
Alguém que enfie grana ralo abaixo
Num blog como o meu que não é capacho,
Mas gosta de assoprar, se morde... e some.

Eu faço poesia a muito custo
E creio que um poeta que viu grana
Em sua produção morreu de susto.

Não morre é fidalguia e gente chata,
Cabocla assanhada igual cigana
Que canta, dá carão, xinga e maltrata.


(F.N.A)

"Morto ao Chegar"





...Bala de traque, pistola sem rojão, artifício sem pipoco...







"Morto ao Chegar"


Nascendo morto Buthon ou Benjamin,
Ou velho ou qualquer coisa ruim de data,
Partido que une sangue de barata
Com praga não aduba nem capim.

Franz Kafka dizia: "uma barata
Reforma até o caráter de um transmorfo!"
Eu não que condiciono um ser amorfo
À ordem dos bandidos de gravata.

Mas, quase, e quase, quase faltou pouco
Pras bandas dessa turma sem legenda
Uma louca donatária aguasse o côco

Salobre que não mata sede alguma
Num imenso coqueiral sem palha e fenda,
Que as costas de ninguém limpa e apruma.


(F.N.A)

terça-feira, 1 de março de 2011

"Sílvio e o Abnegado"





...Não duvido de nada e não acredito em nada que eu veja, assim, parado.





"Sílvio e o Abnegado"


Nem digo que nas tardes sem respingo,
Na casa dos 80, ao fim do dia,
Risada de moleque se atingia
No show do Sílvio Santos, no domingo.

Cinismo. Perguntava a um rapagão,
"Se em troca de seus prêmios conquistados,
Topava cambiar?", induzindo errado
O mouco com a promessa de hum milhão.

Não sei de Sílvio Santos, nem de oferta,
Mas deu na contramão um abnegado
Que faz a pose ou finge ser profeta.

Mas, sabe do cuidado com a intenção
Aquele que promete e paga errado
Papando o abnegado e a presunção.


(F.N.A)