segunda-feira, 24 de setembro de 2012

"O Sabor da Carne"

Intoxicado do gene selvagem, o sangue ao prato engordura os sulcos de dentes domesticados: moedor de carne é este mundo... “O Sabor da Carne” Cutelo em que a discórdia as vísceras maltrata No mercado da autópsia a fome do sistema, O açougueiro a frieza de sua ação extrema Deixa um rastro de Deus no ofício que mata. Dia a dia a distender nos músculos precisos O fio de desapego ao gume de sua faca, Ele, o duro papel que sua emoção descarta, Cede à gula ancestral de outros seres vivos. E quanto mais abata e mais separe os flancos, A imensidão dos glóbulos inunda o mangue Da condição humana em seu avental tão branco Mundo intenso a beber aos bicos destes odres, Não lhe basta nutrir o manancial de sangue... Essa fome o que é entre teus dentes podres? (F.N.A)

terça-feira, 24 de julho de 2012

"Álvares"







...Resumidamente...






"Álvares"


Tu, que inauguraste o cemitério,
Cujos despojos reencontrados por teu cão,
Sangraram as lanças das marés da arribação,
Quando exumaram tua ossada de cimério.

A ti, que a noite na taverna se embebeu
Do vinho amargo que serviam aos mendigos,
Tua antiga alma escarrou pelos jazigos
Quem um só copo de alcatrão te ofereceu.

Nas fibras do pulmão em tua cuspida,
Entendo que em tuas horas de agonia
Ansiaste mais da morte em tua ferida.

Enquanto, ao lado, teu espírito em jejum
As sobras celestiais da luz do dia
Cuspia com desdém um Deus-Nenhum.


(F.N.A)

"Diorama"







...Hecatombe, campo minado, guerra em trincheiras, fogo cruzado...








"Diorama"


Finge natureza, finge um habitat,
Finge a própria causa do naturalismo,
Se duvidar, finge o criacionismo
E o pessimismo de seu grupo celular;

Não finjas só! Finjamos juntos pelos poros
A gratidão desse suor em tua mesa;
O microcosmo em sua maior rudeza
Também protege a utilidade dos esporos.

Nos transmutemos. Não, melhor, criemos ramos
De uma colônia virulógica tranquila
A alimentar um hospedeiro com seus danos.

Nos asperjamos, se couber, a algum lugar,
Pra que ao beijar o pobre chão de uma vila,
Perpetuemos com veneno o próprio ar.


(F.N.A)

segunda-feira, 23 de julho de 2012

"Buena"



...Mark Sandman foi um excelente baixista, poeta valoroso e cantor trágico.

...Como se houvesse selado, na encruzilhada, aquele fantasmagórico artifício do contrato underground do Blues.



"Buena"


O Diabo o procurou com as mãos cheias de perfume
E matou sua sede servindo peito flácido e translúcido;
E Ele roçou sua barba com as unhas - de um jeito pobre;
E afagou seus cabelos com óleo velho e açafrão.

"Buena!!" "Buena!!" "Buena!!", fez o grito das horas
Em que muita encruzilhada os dedos charqueados
Torcem uma cascavel para espichar a Velocidade,
Com que Júpiter espremeu asas da carne azul de seus pés.

Rápido, traço em duas cordas bêbadas: acentos graves.
O frio industrial de Bogotá (farelo de sua ceia)
E a dor da perda e os versos magros e sustanciosos;

E que fosse a própria imagem Dele enviesada além de si,
Como o Blues, tecido de papel velho e amassado -
Contrato que se cinge com tinta do sangue das mãos.


(F.N.A)

sábado, 21 de julho de 2012

"Inner Self"




...O mundo anda desconsiderando a graça de sermos filhos espontâneos gerados do imenso gesto de Amor nos concedido pelas infinitas radiações Cósmico-divinas.

...Desrespeitosos com um incomparável Bem.




"Inner Self"


Há um espírito que segue, mansamente,
A memória ancestral dos argonautas,
Pais da Origem ao berço dos primatas
E que dessa geração somos semente;

Uma energia intracósmica e propensa
Às nobres compleições pela Beleza;
Anjo sagrado em augusta Natureza
A segurar a mão de Deus suspensa.

Todos os Homens, todos eles, todos,
Têm de aliança com este anjo alado
A proteção de Deus por eles todos;

- Mas a energia, essa energia, enfim,
De Homens sermos sua prole de herdados,
- Essa energia... ela se trai assim...


(F.N.A)

segunda-feira, 9 de julho de 2012

"Pó Compacto"






...Maior que o Engano é a Ilusão que a tudo arremeda...

Hoje, vou de Método Stanislavski...







“Pó Compacto”


Não compactuo, o ato compacto!!
Não pacto inato ao monstro fogo fátuo,
De um jeito cupincha, adepto ao inapto:
Extremo vício do vício do impacto.

Não compactuo o erro crônico –
Traço histriônico, nem confuso trato,
Pé de urtiga, comichão do mato
Ou desacentuo o algo olhar biônico.

Não tomo sapato por andar descalço
À sola do vício o encalço de alguém,
Pois meu duro calo é a dor do percalço.

De ato, acentuo: eu não compactuo
O sabor escrotal dos ovos de alguém,
Nem a alma de rato. Simplesmente, atuo.


(F.N.A)

“Cabeça de Prego”






...funciona igual a um chapéu, só que dá muita dor de cabeça...








“Cabeça de Prego”


Quão pobre é o idiota que padece
As costas sob o sol com uma bandeira,
Comprando confusão com a vila inteira,
Sonhando com as paixões que desconhece.

As posses que desfruta em mais valia
Ao mundo de um cabo eleitoral
Não passam de um chinelo, um Sonrisal,
Um boné de candidato e um rádio a pilha.

Cogita intimidade com o patrão,
Porque foi convidado pra um churrasco
Em que não comerá sequer Um pão.

É que foi destacado pra guarita,
Servindo de vigia: olhando os traços
De toda aquela gente tão bonita.


(F.N.A)

“Futuro Cinza”






Tenho sonhos cruéis; n'alma doente
Sinto um vago receio prematuro.
Vou a medo na aresta do futuro,
Embebido em saudades do presente...

(Camilo Pessanha)






“Futuro Cinza”


Uma nuvem que paira, mais que eu permaneça
Em seu longo aspecto de monção traiçoeira,
Observando-lhe as sombras que sobre a Terra inteira
Ela alcança, pressinto: talvez não esmoreça,

Se morrer todo arrasto em quanta tempestade,
Que nas nuvens revoltas alastram plantações,
Vales, casas, celeiros, vidas, rios, cidades,
Essa, em igual vendaval, arrasa corações.

Sinto a brisa correr pelas ruas agora;
E, depois e mais tarde, enquanto avança ao alto,
O corcel nos tufões desmembrará em sua hora

A suspeita e a descrença sobre nossa cabeça.
Mas insiste a avançar ao nosso Amor, de assalto,
Essa nuvem que paira, mais que eu permaneça.


(F.N.A)

quarta-feira, 20 de junho de 2012

"Cratera"








...Há coisas mais ermas que o próprio deserto...








"Cratera"


Há um deserto infeliz onde o recanto
Das águas e palmeiras morre aos poucos,
As tâmaras azedam e o vento rouco
Na acidez das dunas forma um manto.

Erma paragem, solidão e desencanto,
Calmo e inóspito recanto que encerra
Toda tristeza que acumula sobre a Terra
E que na vida me fingia um orgulho tanto.

Meu coração, tenda secreta onde descanso
Das caravanas a viagem sem retorno
E o que a Saudade nivelou a calmo ranço;

Pobre infeliz, tão infrutífero restaste
Único grão de confissão ao sangue morno
Que não circula pelo corpo que mataste.


(F.N.A)

"Moedinha nº 1"







...Não atenteis cobranças de miudezas a quem possui riquezas...







"Moedinha nº 1"


Quebrando o cofre azul dos meus trocados,
Contando churumelas sem valor,
Eu sei quanto poupei e os empenhados
Recursos que ainda devo ao cobrador.

Um pobre quando encontra seu ordenado
Dispõe cifra por cifra aos prejuízos
E sabe quanto custa alguns fiados
Na conta de um orçamento sem juízo.

Agora, não cobreis dos muitos ricos
O extrato singular de seus tesouros,
Pois ricos não calculam tico-ticos;

Daí, seja um milhão ou verba presa,
Um rico não declara o peso em ouro,
Nem custos de campanha. Isso é pobreza!


(F.N.A)

terça-feira, 19 de junho de 2012

"Mercado de Risco"





...Os amores declarados de hoje eram as pragas de ontem...

...É de se esperar ao menos alguma lucidez...





"Mercado de Risco"


A velha que herdou uma fortuna
Bem quando enlutou depois dos trinta,
Havia envelhecido e a curta cinta
Já lhe causava dores na coluna.

O bucho mais cresceu e a grossa unha
Somada ao escangalho pela tripa
No corpo de caniço feito a ripa
Deixaram-na igual uma graúna.

Mas nunca lhe faltou foi pretendente:
Quem se ajustasse à falta de atrativo
Jurando pleno amor naqueles dentes.

E não casou jamais, sabendo ela:
Mais fácil é proteger um cofre ativo
Que as custas de amores sem cautela.


(F.N.A)

segunda-feira, 18 de junho de 2012

"Desjejum"






...Fora, tanto afastado da lagoa, o sapo encerra a fome de mosquito a tapa...





"Desjejum"


O sapo cururu foi convidado
Pra festa da cotia, dia desses.
Lustrou a boca larga tantas vezes,
Que o papo ficou ruim de tão inchado.

Não pôde nem comer e bem calado
A língua espichou por entre o dedo,
Pensou papar um rato, teve medo -
E foi tomado a fino e educado.

Dez dias se passaram. Então, curado,
Com a boca desinchada, ele ligou
Pra casa da cotia - um advogado.

- Amigo, eu não comi. Algo incomum.
Quem sabe um acepipe não sobrou
Que dê pra encerrar o meu jejum?!


(F.N.A)

"Túmulo"



"Mocidade infeliz, tuas mãos geladas
Arroxearam os dedos deste Inverno,
Onde a Alma estendi a tanto Inferno
E, de praxe, colhi ramos de Nada"





"Túmulo"


Luz que me maltrata, tanta claridade;
Tanta luz tão nua, amargo plenilúnio;
Tanto alvorecer no arraial, em junho...
Oh, fogueira morta!! Velha mocidade!!

Perdi a feição fingida deste cerebelo
E o meu olhar comum enegreceu ao tanto
Que me assustei perdido ao próprio espanto
O Algum clamor frugal: meu pesadelo.

Não avancei! Parei. Cisma do Atraso,
O limo e o ranço em meu olhar fecundo
Sujastes as fibras de meus olhos rasos.

Não fui ao vento - as ramas esquecidas -
Dormir o sopro a se perder no mundo
Das confissões que sepultei na vida.


(F.N.A)

"Torto"







Cruel é andar no mundo enviesado,
Nos passos sempre tortos que rebelo:
Não sigo, quando mandam a atacado;
Não saio, quando atacam meu castelo.









"Torto"


Já não sei em que beira de abismo
O conceito fingido eu amarrei:
Na alegria, o patíbulo de um rei;
Na tristeza, este usual fascismo.

O Doutor que não fui ou me tornei;
Mas, formado em amargo dualismo:
Esta dor de cabeça onde plantei
O sagrado pulsar do meu batismo

Nas estranhas poções em que bebi,
Nos caminhos de minha encruzilhada,
Tanto quanto sorvi e não fingi.

Se fugi de outras contas na taberna,
Veio o mundo atrelar à minha passada
A rasteira que dei na minha perna.


(F.N.A)

segunda-feira, 11 de junho de 2012

"Pilha"







...Minha ray-o-vac não produz energia alguma...

...Haja luz pra encontrar Os Poucos...




"Pilha"


Cegueta num ensaio, Saramago
Na busca por um homem inocente,
Discorre que a barbárie é um emoliente
Que hidrata o amoral e faz estrago.

Eu mesmo, delegado igual Protógenes,
Às custas do exagero, indo à baderna -
Na busca de um honesto tal Diógenes,
Descubro: falta pilha na lanterna.

Perdido no buraco onde a toupeira
Faz casa, faz mansão e faz harém
Com a verba que restou da empreiteira,

Procuro a avestruz que não anda só,
Pra junto rastejar aos pés de alguém
Que toca sax alto em Jericó!!


(F.N.A)

"Força Motriz"








...O coração é só um músculo sem sentido.





"Força Motriz"


I


Há uma força motriz que move o ranço
E a inveja dos que vivem mal amados.
É preciso ter que andar sob os cuidados
Do Afoxé pra não cair destes balanços...

...Que o mundo deposita em quem é feliz:
Sorrir é perigoso e amar é errado!
A quimera de viver amando é um fado
Nas costas malfadadas de um aprendiz.

Eu fui te amar um dia e tudo aos poucos
Cobriu de incerteza o amor que eu tinha
Com o medo de viver igual a um louco;

E o pouco que me amastes foi temendo
Dos males bem menores que avizinham
O coração de quem está sofrendo.


II


E o pouco que me amastes foi temendo
Da própria luz o seu maior clarão:
Escravo nas masmorras padecendo
Da embriaguez de ratos sobre um pão .

Seguistes sem temer até que um dia,
Os cães, que se desdobram em mil latidos,
Puseram a te acoar, em rastros idos,
Na caça em que se mata por sangria.

Bem quando tu almejavas ser contente,
Alegre ser indeciso que se aflora
Nas fés e aleivosias de um descrente;

Bem quando tu estavas te acalmando,
Chegou uma torrente sem ter hora,
Que a louca Solidão foi te deixando.


(F.N.A)

"Dodecafonia"








...Quantos sons produz uma hemorróida. E várias? Uma dodecafonia.




"Dodecafonia"


Barriga empanzinada que dá sustos
Em todos nós mortais, deuses, cristãos,
Parece um gás mostarda em combustão
Que mal cobre a despesa e outros custos

Que o pobre do marido gasta em cheiro,
Perfume, uns mil Afrins e um patuá,
Pra ver se ele consegue disfarçar
O cachorro que está morto no banheiro.

Então decide: "agora é que me cago!"
Com medo, se arrasta pela cama
Pra ver se salva ao menos os seus bagos

Roxinhos nos pentelhos, igual o nariz
Do pobre que esperava um cú sem rama -
Mas peido é só o que sai do chafariz.


(F.N.A)

"Segunda"







Hora em que a nostalgia é crua manta no frio.








"Segunda"


Segunda em que o sol dormindo
Descansa os pomos da aurora
Que morre enquanto demora
Seu ouro aos poucos sumindo.

Noite que sangra nos terços
À hora da Ave Maria;
Bendita a noite em que o dia
Repousa os anjos nos berços.

Dia, somes pra que não acordem
As feras do pensamento
Que mordem enquanto podem;

Noite fria em céu nevoento,
Onde sangra em tua desordem
Meu sal em tua flor de vento?


(F.N.A)

quinta-feira, 7 de junho de 2012

"Trilha"






...Na curva extrema do caminho extremo (Bilac)






"Trilha"


Voltei pra casa. Tanta ausência minha,
Tanta causa morta, tanta cruz na estrada,
Caminho ausente em tanta dor vizinha.
Que já não sei por que andei por nada?!

Não vi em meu pai o aceno que sofreu
Dessa Saudade que se tem por moda
Sentimental nos corações sem nódoa
Que não choraram o que não se perdeu.

Tamanha é a Vida... Tudo foi passando:
Anos de escola, alguma lua nova
E uma sombra a me seguir chorando...

- Saudade ingênua que não se renova,
Nem sei porque eu me peguei regando
As flores mortas sobre tua cova?!


(F.N.A)

"Bola no Nariz"








...Quer ver a foca bater palminha?









"Bola no Nariz"


A foca, na Islândia, não vê graça
Na vida que ela leva a chute e quique:
Servida de patê em Reikjavic
Comida de esquimó e pastel na praça...

Mas longe da Islândia é um outro fim:
Desliza, bate palma, empina a bola
Na ponta do nariz e põe na sacola
O peixe que barganha ao trampolim.

A foca que é adestrada entende bem
Que em temporada gorda aberta à caça
Melhor nadar num tanque que não tem

A ponta do arpão de seu inimigo.
E assim são tantas as focas engraçadas,
Que batem palma protegendo o umbigo.


(F.N.A)

sábado, 26 de maio de 2012

"Vagalume"






...Nada morre ao chegar a noite...







"Vagalume"


Noite, imensa presença de meus genes,
Que o ar cortando as folhas esquecidas
Deixa as solidões mais frias e perenes
Numa extensão cruel da minha vida;

Noite, imortal manto de orvalhos e betumes,
Âmbar na casca de uma árvore eterna,
Mostre o caminho por entre os vagalumes
Pois bem me perde o passo a maior perna;

Nutro o silêncio, como as rãs no capinzal -
Carpindo estrelas ressentidas no arvoredo,
Ensaiando coaxos num pijama do varal;

Noite, cantiga de meus sonhos inda tortos,
Amo o mistério lupanar de teus segredos
Que passam dias, não sucumbem mortos.


(F.N.A)

"Os cães de Lázaro"







...Não, não é fidelidade canina. É só oportunismo...








"Os cães de Lázaro"


Hoje acordei feliz. Nem acredito
Que em meio a chagas não desfeitas
Pudesse encontrar riso bendito
Que dissecasse dores rarefeitas.

Foi só um sorriso tímido, conciso
E os dentes nem sequer se abriram tanto.
Pudera, o meu sorriso foi de espanto.
- O mundo anda doente e isso é um aviso!!

Sorri das pobres bestas dessa Terra,
Que nutrem da incerteza em suas vidas,
Mas beijam, do inimigo, os pés na guerra.

E muito andam felizes em sua fome -
Mal lambem da fibrina em suas feridas,
Mas latem por seu dono quando comem.


(F.N.A)

quarta-feira, 23 de maio de 2012

"Circo"








...Alô, criançada, o Bozo chegou......









"Circo"


Tudo acontece agora - este segundo! -
Que agora tudo acontece em meus sentidos:
Abro do crânio meus sonetos preferidos
Que degustaram o cogumelo de meu mundo;

Rasgo perfis de enxaquecas registradas
E um arquivo pentateuco aonde guardo
Sociopatias e os versos de algum bardo,
Dores do amor - e todas derribadas.

- Sabes, meu Gênio que azucrina ao ouvido,
Quando desterro muitas coisas mortas
Vejo o atestado de um homem falido?!;

E em tudo vejo a mesma força cênica
Dos que não sabem suas presenças tortas
Na estrutura dessa coisa endêmica.


(F.N.A)

segunda-feira, 21 de maio de 2012

"Princípios da Gravidade"






...Sempre vem de cima, nunca de baixo. Fato.





"Princípios da Gravidade"


Uma galinha no poleiro ergueu a asa
E acertou com a revoada outras galinhas.
Havia dias reclamava da vizinha,
Que empoleirava logo acima de sua casa.

Um galinheiro de fazenda é um pardieiro,
Não como as raias anti-sépticas da granja;
Dormem empilhadas, tem ausência de banheiro
E a gravidade em cada costa se arranja.

Disse a galinha que andava revoltada:
- Sou botadeira e bem mereço mais lugar
Que essas penosas que não botam ou chocam nada.

Na mesma hora, um galo acima lhe cagou
Sobre a cabeça, que a galinha a se esquivar
Se recolheu sobre o poleiro e se calou.


(F.N.A)

"Regresso"




...Uma praia fria, na tarde fria de um sol tão frio numa casa fria de uma estória fria, mas tão fria, que congelou...





"Regresso"


A Solidão partiu da própria casa
- Um resto de casebre na restinga -
Levando um gole amargo na moringa
E uns trapos de saudade em sua brasa.

Andou até uma praia em que as águas
Nas ondas encharcadas de um estaleiro
Mancharam os seus pés de um sal grosseiro
Da lágrima alcalina de suas mágoas.

De um lenço esfarrapado feito a linho
Limpou do olho seco as alergias
Da poeira que herdou pelo caminho

E seguiu sem se lembrar em que estação
Do porto disse adeus ao Sol dos dias
Que ardia em tanto inverno seu verão.


(F.N.A)

quarta-feira, 16 de maio de 2012

"A um rato morto"








"A um rato morto"









I

Manhã fundamental de todo dia,
Em que passamos mortos ao trabalho,
Mordendo da rotina do espantalho,
O fardo comensal da alegoria.

Mal caibo (minha veste) à fidalguia
De um terno amarrotado a ocasião.
- Das roupas que eu compro em promoção,
Minha sombra de zumbi se aprecia.

Eu passo, como passam atarefados
Fantasmas da Matrix nos casulos,
Dormindo o mesmo Cosmo congelado.

E, assim, em meu tambor se principia
A sanha da batalha onde eu anulo
A força vegetal que me esvazia.


II


Encontro-o na sarjeta dia desses,
Um rato mal nutrido e acinzentado,
As nesgas de seu pelo em mal estado
Abriram sua costela umas mil vezes;

Um rato em que parei, não sei?!, a olhá-lo
Da casta mais distante e evoluída
Em que padecem os monstros dessa vida -
De onde eu não pudesse abraçá-lo

Na fúria mais fremente - o fatrícidio
De quem não se esquivou do Ser moderno -
À escala de animais o genocídio;

Pensava em tantas coisas às comportas:
A sétima razão (o olhar mais terno)
E as coisas que apodrecem quando mortas.


III


Bebia àquela cena em algum registro
De como quem esquivou da ratoeira
E achou de alimentar a prole inteira
Pudesse padecer pagando a Cristo?!

Mal lembro do meu terno inchado tanto
Com as tralhas que acumulam-se ao bolso;
Sequer um guardanapo ou um reembolso
Em seu cadáver pus formando um manto.

E quando dei-lhe um chute numa perna,
Senti a rigidez nos pobres músculos
Quebrando suas práticas paternas

De igual o mundo fora em que fugia
Sumir como uma mosca no crepúsculo
Voando à uma carcaça muito fria.


IV


Ponderações que fui, pensando à noite
Na rede bem encharcada em meu suor,
Lembrar quando atentava minha vó
Com ratos que matava por açoite.

Pensei, comendo lascas de um queijo,
Na força das matilhas verdadeiras
Que unem-se a assaltar uma tropa inteira
Caçando comensais em seu aleijo.

Dormi e ainda estava aquele rato
- Sua forma correlata de um defunto
Que morre, mas assusta por contrato -

Presente em meu instinto traiçoeiro.
A Humanidade mata e segue junto
Àqueles não vence - por dinheiro.


V


O dia amanheceu e então, doente,
Na fome indescritível em constatar
Na rua em que morreu sem se notar,
Segui no faro o sangue ainda quente

E lá estava ele... o mesmo jeito,
Mas quase esfacelando-se em tralha;
Um dia. Transpassou-lhe uma mortalha
De cinzas, de poeira e defeitos.

E ao mínimo espetáculo da morte
Se empilha um curioso a assistir
Que muito por acaso teve sorte.

Igual àquele rato seguem juntos
O vício e o humanidade a coexistir
Do Nada a que destinam-se os assuntos.


(F.N.A)

terça-feira, 10 de abril de 2012

"Compasso"









...A vida segue gerando círculos e eu compasso sobre suas linhas...







"Compasso"


...Ou foi minha mãe que disse, já nem lembro,
Que tudo de doente que há em mim
São flores de um sepulcro num jardim
Cansado dos desmaios de novembro.

Perímetro que eu sou, nem me calculo
Na imensa condição em ser compasso;
E a força que infligi a este traço
Não circulou a ausência de meu pulo.

Carrego em minhas forças propulsoras
Detritos de mil dias embebidos
Nos rastros de uma bruxa em sua vassoura;

Eu fui me despertar de um pesadelo,
Cai em mesmos sonhos não benzidos
Que tenho, hoje, afastados de meu zelo.


(F.N.A)

quarta-feira, 4 de abril de 2012

"Albedo"





Gostaria de registrar meus pêsames ao amigo querido Umberto Salvador, que perde neste momento seu grande amigo, senão maior, seu pai.

Companheiro, minhas mais respeitosas condolências e que Deus possa te aliviar esta dor.






"Albedo"


A distância até o sol, até o Cosmo infindo,
Onde a luz se renova a cada via-láctea,
Onde as estrelas dormem sua forma inapta
E Magalhães nebula a cor do céu fugindo;

Mais distante lugar da milha astronômica
E mais longe acender dos sóis que não nasceram;
Da lágrima de Odin à energia randômica
Onde habita o panteão dos Deuses que morreram;

Aos insólitos silêncios da força original,
Até longe albedo alcance o olhar do mundo,
Ainda lá não chegaremos em seu total final;

Mas, frente as distâncias que a vida não alcança,
A Saudade percorre em menos de um segundo
A dimensão infinita da maior lembrança.


(F.N.A)

segunda-feira, 2 de abril de 2012

"Cara de Paisagem"






...De que tragédia grega são feitos os sonhos mortos na essência???

... Se depender do trabalho realizado, será só mais uma dessas peças que não se encena...







"Cara de Paisagem"


Agora é que pulou de ré o córguinho,
Feito uma garça em duplo twist carpado;
Querer sentar à cadeira num joguinho...
- Ah, Sófocles, oxalá eu esteja errado!

Não serve pra reinar nem um ducado...
Nem as terras que assumiu não soube arar;
Tampouco soube as cercas aprumar
Às vistas de um litígio a atacado...

Querer lamber as rodas da poltrona,
O estofo, a cabeceira, o couro, a espádua
Precisa mais que sonho, algum diploma...

Precisa ser honesto (e essa é comédia...);
Saber quando cuidar na luta árdua
Honrando quem não o tinha por Tragédia!


(F.N.A)

sábado, 31 de março de 2012

"Pendências"






...Tudo a dizer antes que a terra nos cale, antes do último suspiro, antes que a língua atrofie, antes do primeiro verme...









"Pendências"


Luzes tranquilas adormecem, quando eu caio
Na mais profunda imensidão do meu azul -
Rastro de calma, solidão, vento do sul,
Rio da montanha, tempestade, para-raio.

- São essas noites, meu amor, de muito frio;
Noites dormindo o sono que dormi na infância.
- São essas árvores torcendo-se no rio,
Onde media com o olhar tua distância.

Ontem perdi meus sentimentos de andarilho;
Deixei a casa de meus pais, como a aranha
Pula de assalto sobre a presa no ladrilho...

Quem sabe hoje em que a cidade me ignora,
Possa entender a dor cabal que me acompanha
Pra, enfim, dormir quando chegar a hora.


(F.N.A)

sexta-feira, 30 de março de 2012

"O Joio e o Trigo"





...Ouvirás uma conversa solta, morna e acolhedora como a mordida da cobra. Pronto. Estás envenenado!!






"O Joio e o Trigo"


Boneca de Cera aonde é que entendes
Que tanta coisa feita a parafina,
Como a aliança dessa tal menina,
Pode durar enquanto tu acendes

Novo paiol, faísca cega, chama rouca?
- Assim adoecem em tanta pirotecnia
As doações, velhos contratos, alforria,
Que uma colher de salamargo salga a boca...

A eternidade, como as rugas num botox,
Sofre da ausência muscular com a idade:
Até a ferrugem vence a cor do aço inox.

Alguém soprou pela campina um alarido
E isso espalhou negras sementes na cidade,
Que ninguém pode mais te dar ouvido...


(F.N.A)

quinta-feira, 29 de março de 2012

"Anã"









...O escopo já não conta muito. A língua ajuda bastante...









"Anã"


Era uma anã, só uma anã, seguindo o fardo
De, porventura seu esqueleto diminuto,
Estar com a boca na altura do charuto
Tocando a tromba do patrão por algum cargo.

Seguia assim, forçando a barra, amando o vício
E ainda segue em seu esforço por cautela,
Pois, afinal, não é nenhuma Cinderela
E socialismo não é muito seu ofício.

Mas se diverte quando a festa é do barrão:
Corta churrasco, espanta mosca da cerveja
E enche o peito pra dizer: "É meu irmão!"

E, no emprego, quando vem fedendo a alho,
Não lava a boca, pra que todo mundo veja
A língua suja: seu instrumento de trabalho.


(F.N.A)

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

"Adeus às Armas"




...Me assusto com tanta defesa minuciosa sobre algo que é errado e que se insiste em tomar como certo...

...Pra mim, passa longe o que reza a consciência no dever de elucidar...





"Adeus às Armas"


Não passamos mais perto da essência
Que o espírito dos bravos reunia:
Hoje é ideal lamber a bota fria
Que nos pisou a cara e nos causou demência.

O Errado agora é Certo e se provoca
Quem toma a trabalhar honestamente -
Já o lastro que um Errado afana e mente
Virou pra muitos estouro de pipoca.

Ninguém defende, em público, um coitado,
Mas ouse um atentando contra o vício?!?!
Capaz de te atacarem no atacado...

E aquela luta que a classe deveria
Tomar às mãos pra nos livrar desse hospício
Foi sufocada pelo amor à alegoria.


(F.N.A)

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

"Abacaxi Rei"


...Ele é a Magda da Terra do Pineapple, cujas incompreensões sobre a vida, sobre as pessoas, sobre os gostos, sobre a democracia são refugos retorcidos - frutos sem valia que não se compram nem por 1 real.

Cala a boca, Magdo!!




"Abacaxi Rei"


Me assombro. Um assustado do regime
De épocas tristonhas segue o esquema
Esbravejando a reclamar da algema
Como um ladrão a refutar o crime.

Agressão condicional além do plexo
Ou formas de amar, eis o cenário:
Não avançamos, não; mas o contrário:
Retrocedemos a um patamar sem nexo.

Porque a boca esculachada desse germe,
Pior que a língua com que solta baba,
Fere o ouvido, a alma e a epiderme.

Ser que rumina intolerância e desamor
Não compreende a alma humana, pois acaba
Sendo esse verme que se nutre de rancor.


(F.N.A)

sábado, 11 de fevereiro de 2012

"Diadorim"



Camarada de peleja, mestre Lailton, as Veredas, mais que Terras do Sem Fim, são segundos congelados de um Cerrado que um dia é também sertão.

Soneto-Estudo sobre Guimarães Rosa. Velho, Riobaldo lamenta morte de Diadorim: o sertão como princípio de um Tudo e a morte como princípio de um Nada.




"Diadorim"


- Matar Hermógenes, contudo não
Matar-me mais, não sei se mais podias...
- Diadorim, as casas são tão frias
No bando rude onde nasci - Sertão.

- Nem Otacília pude amar. O Cão
Que me seguiu e foi fiel, sabias?,
Justo a este pacto mortal, podia
Não me saber em ti saber-te... ou não.

- Resta o silêncio e nada mais me resta
Desta canção que a luz do lampião
Descortinou-te o sexo. A floresta

Da indecisão que em tudo me contia -
Galhos torcidos de espinho... A mão.
Me disse adeus a tua mão tão fria!!


(F.N.A)

"Inocência"








...Desdizer o mal dito,
Não livra o vexame:
Riso em tanto rito...








"Inocência"


Até parece a escola em que o patrão,
Depois de condenado por tragédia
Que fez de seus eslavos a comédia,
Resolve pagar sapo de capão

Galante, ma non troppo - Eita, questão!!
A filha procurou na wikipédia
O Aposto que a torne (enciclopédia!!!)
A musa dos que sonham uma eleição

Aonde seja Mãe que nos liberta...
Uma fera que no pleito engole amigos
E à luz da má intenção mata na certa...

Mas, como a sagração esconde o mito
Da fisga do milagre, os inimigos
Cuidaram em degolar seu mudo grito.


(F.N.A)

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

"O Rei Bichano"





...Não fossem os felinos criaturas tão falsas, daria até pra acreditar que um leão mata sua presa só no urro...






"O Rei Bichano"


Alguém pode virar leão, marmota,
Veado da campina, um tatu bola -
Na selva, em que a Política é escola,
Bichano quando teme usa bota

Pra não pisar no pé do adversário,
Pois pode a carabina ou o fogo amigo
Aos interesses maus tecer perigo,
Que a juba do leão foge pro armário

Pra se esconder com medo de escova,
Gilete ou qualquer urro que assuste
Sua força sem tutano na alcova.

Leão que dá um urro antes do ataque
Não caça, não agarra.. É um embuste
Que mia após levar o primeiro baque.


(F.N.A)

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

"Leito de Rio"




...Ao querido amigo, Giuliano Germano, pelo rock na veia e por seu caráter irrepreensível...

...Grato por vossa amizade de uma década, bróda!!




"Leito de Rio"


Um bumbo que se toca em plena feira,
Uma dupla sertaneja que esgoela,
Calipso? É bolacha ou barco a vela?
É Cousteau singrando mares sem coleira.

Um espírito inquieto não se entende;
Ninguém pode saber que som o agita;
Nem pode condenar sem por fiança
À cela ocasional de um eremita.

Tu sabes, meu irmão, o certo é o caos;
O resto são adereços e vazios
Que a gente vai cuspindo em meio aos maus.

A pedra por ser fria ninguém passa
A jóia, mas nas rochas, rente aos rios,
É nelas que o ouro se disfarça.


(F.N.A)

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

"Butantã"





...Apoio magro como é vago o apoio aos ombros fracos do Moisés da serra...

...Sonha sozinho, enquanto lhe preparam cobra megera que o morderá...






"Butantã"


Não basta pro aidético o elixir
Que o boticão de rua ou o charlatão
Receitam por milagre ou salvação -
Inexplicavelmente é ruim fingir!

Receita que mamãe mascou com fel,
Raiz e sucupira, óleo e peroba,
Não cura, mas comer com maniçoba
Arranja no intestino um escarcéu...

É como alguém buscar junto a um fingido
O apoio pra loucura em que se crê
Que a urna vá cantar em seu ouvido.

Não sabes, bom pastor, é tão fatídico?!
Ninguém te seguirá e só tu não vês -
O soro pra teu mal é o antiofídico.


(F.N.A)

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

"Estrela"






...O homem completa um ciclo quando nasce e quando morre; estrelas completam um ciclo quando morrem para nascer...

...Imenso céu, te guardo em meus olhos como o Guardião do Cosmos, que lustra cada estrela de tua claridade...






"Estrela"


Nem olho a cansar o cromo de tuas Quantas
Ou medo imenso ao mar que a radiofonia
Fez da casca de dragão que a Lua vicia
A solidão de Ser e outras dores tantas.

Rara! Lux! Estela! Luz natimorta e Santa,
Que cuspiu do infinito este pingente frio,
Quantas hão de te amar um beijo no vazio
Quando do céu cairdes da imensa manta?

Navego ondas no rumo, Mar da Tranquilidade,
Barco fingindo remos às águas viçando açoite
Do universo batendo à proa e fazendo alarde.

Transmigro olho finito em tua profundidade
Colcha de sons e grilos comendo a relva da noite,
Europas cingindo frio, estrelas que dormem tarde.


(F.N.A)

"Macaúba"





...Passarinho pelo fio, leva choque, mas twitta...

...E o boca de macaúba, se fofoca, alguém vomita....





"Macaúba"


Ah, Molelque! Limpa a baba e manda bala
- Blá Blá Blá Blá Blá Blá Blá Blá Blá...
- Blé Blé Blé Blé Blé Blé Blé Blé Blé...
- Uala Uala Uala Uala Uala Uala Uala...

- Pá Pá Pá Pá Pá Pá Pá Pá Pá Pá Pá Pá...
- Qui Qui Qui Qui Qui Qui Qui Qui Qui...
- Rá Rá Rá Rá Rá Rá Rá Rá Rá Rá Rá Rá...
- Ti Ti Ti Ti Ti Ti Ti Ti Ti Ti Ti Ti...

- Ó Ó Ó Ó Ó Ó Ó Ó Ó Ó Ó Ó Ó Ó Ó Ó Ó Ó...
- É É É É É É É É É É É É É É É É É É...
- Ui Ui Ui Ui Ui Ui Ui Ui Ui Ui Ui Ui...

- Ih Ih Ih Ih Ih Ih Ih Ih Ih Ih Ih Ih...
- Blo Blo Blo Blo Blo Blo Blo Blo Blo...
- Fiofó Fiofó Fiofó Fiofó Fiofó Fiofó...


(F.N.A)

"Relógico"








...Tempo exato onde a desordem gere o brado que silencia e o caos que em si digere... IDADE!









"Relógico"


Estamos à última hora do estalo na cabeça?
Não é Possível! Será que alguém pode fazer
Alguma Coisa? Alguma Coisa? Alguma Coisa?
Alguma Coisa? Alguma Coisa? Alguma Coisa?

Alguma Coisa? Alguma Coisa? Alguma Coisa?
Alguma Coisa? Alguma Coisa? Alguma Coisa?
Alguma Coisa? Alguma Coisa? Alguma Coisa?
Alguma Coisa? Alguma Coisa? Alguma Coisa?

Alguma Coisa? Alguma Coisa? Alguma Coisa?
Alguma Coisa? Alguma Coisa? Alguma Coisa?
Alguma Coisa? Alguma Coisa? Alguma Coisa?

Alguma Coisa? Alguma Coisa? Alguma Coisa?
Alguma Coisa? Alguma Coisa? Alguma Coisa?
Alguma Coisa? Alguma Coisa? Coisa Alguma!


(F.N.A)

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

"Água & Vinho"






...Gismonti já observara meu sinistro passeio antes de eu ter havido carne...

http://www.youtube.com/watch?v=AYoEddbvBxI




"Água & Vinho"


No pátio virgem ao cimo da floresta
Suspensa que meus sonhos são morada
Eu passo a descobrir em que escada
De mármore manchado esconde a aresta

Que liga o meu olhar a outro embargo,
Casa, elo, liame, transubstânciação
Que o pão amargo que parti à mão
Avinagrou na taça o sangue amargo.

Sigo escondido entre hiléias eternas,
E no dormente lobo, em sua boca larga,
Por caça alheia às suas presas ternas;

Vivo e não busco mais qualquer saída
Que salgue a crença em minha ceia amarga
Na água turva que eu bebi na vida.


(F.N.A)

"Nosso Ivan Filosofia"






...Sob a égide da fome pelo açougue e da remissão de culpa...






"Nosso Ivan Filosofia"


Ok. Um porco no retrato e muita gente
Que come aquele bife acebolado,
Coraçãozinho de frango ao molho pardo,
Condena o meu leitão, impunemente.

Cigarro - por si só contravenção -
Num canto da boquinha é um caso aparte.
Conheço quem do álcool faça a arte
Do vício que assumiu por convenção

Social. Quem coma carne, arrote e peide
E quando um lastro feito de moral
Insurge, faz TT e posa à Rede

De nobre comensal que, sim, respeita
O olhar que exulta a norma social,
Mas quando está escondido se deleita.


(F.N.A)

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

"A Cereja da Latrina"


...Banalização total + Bestialização fundamental + Burrice coletiva...

...Não bastasse a imundície a que se dão homens e mulheres por dinheiro, se aumentar um pouco o prêmio, matar alguém pelo cascalho será ficha...



"A Cereja da Latrina"


Vem longe, das cavernas a maçada
Que o crânio das primatas repartia;
E o homem primitivo, então, dormia
Pulando, meio ao sangue, na rachada.

Na época da corte, se era aceito
Que a noite da mulher, sendo a primeira,
A farra em sua suíte verdadeira
Ao rei fosse cabal por vil direito.

Agora, é tão comum sentar a pua
Nas costas da mulher, por grosseria,
Que a história primitiva continua

E com ela a violência como indício,
Não importa se na cama a putaria
Ou numa casa imunda dada a hospício.


(F.N.A)

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

"Sol"






...Luz da inspiração vindoura que limpa e renova em seus braços de fogo e em seu ardor o anima do espírito e o corpo sem quebranto...








"Sol"


Quando as faixas de luz descem o azul bramindo
Na auréola que o Sol despe-se em agosto,
Sinto o inferno queimar meu próprio rosto
Neste chão onde o fogo anoitece sorrindo.

Eu que sangro da noite o seu halo partindo
Num aceno, uma chama esvaecendo o posto
Que a sentinela estrela beijará o exposto
Desejo dos anjos quando voam fugindo.

Essa chama rude que tantos miolos assa
E que as formas mínimas de astros e insetos
Tece o manto de ardor que acolhe e abraça,

Esse cálido archote que nunca refrigera
Faz da noite que bebo o temor circunspecto
Se assustar a fugir de minha própria fera.


(F.N.A)

sábado, 14 de janeiro de 2012

"Ato de Contrição"





...Não fosse o lirismo medíocre, talvez desse uma comadre fofoqueira, pelo menos, suportável...

...Não idolatro novo deus a cada pleito. Neste aspecto, sou monoteísta...








“Ato de Contrição"


Aonde você estava em dois mil e seis?
Eu sei aonde eu estava e em qual morada -
Levando tapa e pena em algumas leis
Das mesmas figurinhas carimbadas.

Os anos se passaram e eu nas empreitadas -
Naquelas velhas crenças que eram tidas
Por praga, agressão e ações banidas
E que hoje são tão cheias, festejadas.

A diferença está que eu não me escoro
Com a boca no culhão de um mandatário,
Cheirando do seu cú ao suspensório.

E aqueles que apontavam-me em risadas
São os mesmos que hoje beijam do sudário
De um Cristo que tratavam a machadadas.


(F.N.A)

"Amigo da Onça"




Sou um míssil direcionado: meu rastro de vôo é visível, mas neste ponto sou vaidoso - não me cerco de “amigos” que ao raiar dos primeiros erros do mundo nada mais fazem que associá-los indubitavelmente ao meu caráter e aos meus valores.

De amigo assim, que seja capaz de me associar a coisas ruins, eu passo longe – o DM que afaga é o mesmo que apedreja.





“Amigo da Onça”


Se eu tivesse um “cupincha” de caráter fraco,
Que as piores qualidades e os gestos obscenos
Associa logo a meus atos e eles aos venenos,
Trocaria de “amigo”, pois é mau puxa-saco.

Bajulador que viceja a um deus de estação
A inveja que nutre em seu olhar de penhora
É o mesmo que ora e, quando muito, chora
Em um novo oratório ao passar um verão.

Quando um rei forma a corte e apieda ensebados
(Uma estirpe que aplaude conforme a coroa
Esteja justa e assentada em seu côco aprumado)

Deve estar preparado, pois ao primeiro erro
Serão os tais a amolar aquela faca “boa”
Que degola, vitima e garante o enterro.


(F.N.A)

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

"Crítica à Alienação Pura"






...Querido blog diário, ensine ao dromedário: Como chumbo não voa ou gravita revés, machado cego não fere batendo ao contrário...

Imagino que deve ser saboroso incorporar à grade curricular a lambida nos ovos como parte do diploma...

...Só sente o Mal, quem dele vive.






"Crítica à Alienação Pura"


Me expando mais do que Kennan compreende
Da contenção de impérios sobre a Terra;
Lavoisier cagou num pé de serra
Pra que a merda fosse lei pra muita gente.

Já é inerente ser uma besta o indivíduo,
Quando ele aprende a bajular por atacado.
- A poesia não se vende em bar lotado,
Nem descortina pra quem vive de resíduo.

Interpretar, ler, entender, escrever formas -
Capacidades que a mente de um tapado
Mais desconhece por fugir das simples normas

Da compleição do raciocínio e a razão pura,
Porque apedeutas só esboçam um "O" traçado,
Quando na areia sentam sua bunda dura.


(F.N.A)

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

"A Coragem da Hiena"







...Não nutro raiva de ninguém que seja mau. Pena, decerto...








"A Coragem da Hiena"


Cabe à luz da ignorância o ato falho,
A aleivosia, a irrestrita maledicência;
Cabe a ausência de amor ante a ciência
De escrever, de ser consciente - não atalho

Do que alguém pensa ou repensa sobre o mundo -
Eu mesmo faço dos conceitos que acredito
A mansidão dos meus terrores mais benditos,
Como Drummond já fez citar algum Raimundo.

Por isso, eu ando, sem temer alguma ordem
Sem me esconder ou me anular como uma fera
Que se assusta mesmo em bando - uma hiena.

Cheira quebranto estas flores que me mordem,
Mas infeliz, como é o fim da primavera,
É a ilusão de machucar e sentir pena.


(F.N.A)