terça-feira, 8 de novembro de 2011

"Aritana"





...Quem controla chefe de índio? chefe de gabinete? chefe baba-ovo de patrão?

...Ninguém controla o cabelo sorvetinho da Vilela.





"Aritana"


Teu cabelo, Aritana, quem cortou a cuia?
Quem te fez o chefe desse escritório
Na selva de pedra? Quem te fez notório
Comprador de briga? Quem te fez tapuia?

Pelo que eu saiba, índio não se arvora
Em casca de galho, porque não sustenta
Peso de macaco e lá sustenta a venta
De quem cheira saco de patrão, agora?!

Pobre Aritana, entenda a geringonça:
Que caititu que anda fora do bando
Vira em dois tapas comida de onça.

Olha, a política é uma selva escura -
Índio valente que anda só fobando,
Morre (e não vê!) nas mãos da criatura.


(F.N.A)

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

"Trevo"



...A noite é fria, a calma é mansa, o cigarro é um desconector; a alma é leve...

...Ninguém alimenta sonhos que não vingam, nem vingam-se...





"Trevo"


Ei, tu que ainda à noite te conectas
E traga o fumo, enquanto lês o que escrevo,
Saibas que o sonho é o pior do trevo
De quatro folhas sempre insurretas.

Ei, tu que sabias todos meus segredos,
Que bebe a serra e o rancho em que o moinho
Amanhecia o vale e aquecia o ninho
De um chalé sagrado em teus dedos.

Tu que choras ainda, acorda agora!
Eu chorei como tu e sei que a vida
É o instante perdido mundo afora.

Tu que sabes das coisas que eu digo:
Ainda ontem, o adeus sem tua partida...
Ainda hoje, o perigo como abrigo.


(F.N.A)

"Altamira"





Altamira não é a cidade em que nasci, mas a que vivi.

Agora, já completando 100 anos, Altamira estala a lembrança sepulta.



"Altamira"


Cem anos não constroem-se em três dias;
Nem a província desconstrói-se em cem anos.
- Altamira, eu quis também mudar meus planos,
Fugir de ti, singrar o espaço... Algum dia

Quem sabe eu volte à Castilho, ao quintal
Da casa de meus pais... o abacateiro,
A velha caixa d´água e o olhar matreiro
Às roupas da vizinha no varal.

Eu que sabia em ti a própria solidão,
Quando cantava uma canção e a viola
Cantava o sopro da saudade de um verão,

Quando eu fora só um estranho aventureiro,
No universo em que teus bairros foram a escola
Da contramão. E, natural, fui o primeiro.


(F.N.A)

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

"Janjão"


Livrai-nos Deus da radiação de Fukushima, mas liguem o reator que eu quero entender.

Herói nacional de país altaneiro em desenvolvimento, lutando aguerrido no front pela esperança financeira da partilha entre estados já é demais, não é não?!

Vamos nos dotar de consciência crítica ao menos no último neurônio, por favor.




"Janjão"


Janjão não pode, pois Janjão é filho
De preta pobre. Resta-me a fotótica
Que faz espelho em voto de uma ótica
Sobre a política de líder sem brilho.

Janjão queria, pois Janjão tem brilho,
(Brilho e dinheiro!) e uma coisa ótima -
Um bom partido e toda coisa exótica
Que alimenta ou serve de empecilho.

Janjão não vai! Não vai Janjão, não vai!
Janjão não gosta de aviãozinho
Sobre oceano. Vai que ele cai?

Além do mais tem o país inteiro
Que não aguenta sem seu canarinho
Janjão. Janjão... eu simples brasileiro.


(F.N.A)

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

“Cecê de Gambô”







...Defendendo quem, mesmo?
...Ah, as próprias patacas...









“Cecê de Gambô”


Pra defender alguém sem posses ou cartilha,
E que possui só um atestado de pobreza,
É que o país destina aos pobres a nobreza
De um defensor pra aliviá-lo da armadilha.

Pobre não paga advogado ou faz partilha
De honorários com ninguém em sua mesa.
Pior. Não chama pro café, pois na dureza
Sustenta filho, pai, irmão... toda a família.

Mais foda ainda é o oposto da engrenagem:
O defensor do popular é um cabra rico,
Que ganha mais do que um juiz, fora a milhagem

Que acumula quando vai pro exterior.
E ainda cobra um reajuste de salário,
“Porque lidar com preto e pobre dá fedor.”


(F.N.A)

“Etapa Final”






...País sem planejamento dá nisso...





“Etapa Final”


Começa o jogo e o Seu juiz apita em cima.
Falta no lance, mas o zagueiro estava longe.
- Não adianta vir fazer cara de monge!
Toma um cartão e segue o beco rumo acima.

Carta marcada em jogo feio não combina,
Mas é assim que funciona o ano inteiro.
Tem uma turma que vai cedo pro chuveiro,
Enquanto outra parte o bicho e a propina.

Segundo tempo: o país está por um triz!!
Ninguém anotou. Súmula velha não se anota
Pra que não sobre punição pra quem desdiz.

Campo encharcado, sem drenagem, muita lama:
Mundo do Esporte. E tem ainda quem arrota
Que após o jogo vai levar alguém pra cama.


(F.N.A)

“O Aperto do Parafuso”





(Livre artigo sobre o livro “O Bordado da Urtiga”
do jornalista e poeta Gilson Cavalcante.)





O poeta é um fingidor, como atestou Pessoa. Em matéria de versos magros, sempre soube que eu fingia e que todos fingem em menor ou maior proporção. Mas há fingimentos e coisas que estão aí - cruas verdades.

Não fosse só a contemplação frente a um exercício de estilo e a criatividade estalando a copa dos neurônios, o livro premiado do poeta Gilson Cavalcante, mesmo assim, não passaria despercebido. Quando lançou sua nova brochura de abstrações e de recolhimento da arte do estado inerte, tomando a força do verso no inconsciente, despertando-o quando necessário até se tornar palavra e assoviando sons aliterantes sobre o papel, o jornalista, morando em Taquaruçu à época, anunciou seu cabedal de coisas inexplicáveis do “Bordado da Urtiga” por lá mesmo, num estabelecimento que tocava – um Café.

Sempre fui notadamente afeito ao gosto ultrapassado do parnasianismo, mas não deixava de tentar entender a graça sincera que os versos brancos do modernismo de Andrade e Cassiano Ricardo cabiam a meus ouvidos que liam e lêem tantas conversas mortas no cotidiano.

Para chegar à poesia moderna, o certo é que um poeta conterrâneo paraense, o Ney Paiva, havia me presenteado há alguns anos com o livro “A Nave do Nada” – Este um aficionado pelo gênio de Max Martins e ele também um beneditino que escreve no claustro que Bilac perfazia sobre o ofício do poeta que, como um ourives, trabalha e teima e lima e sofre e sua na busca pela Palavra exata – palavra em jóia onde o quilate se desprende do valor do codificável e Tântalo afasta tudo o que é comum das mãos.

Comparações a parte de que o verso poderia ser um processo da ourivesaria, as palavras dos poemas modernos, tão sem rimas em seus cadenciados estranhamentos, me chamaram maior atenção já naquele livro introspectivo de Paiva e me prepararam para o que poderia vir a ler, como a poesia de um colega de profissão.

A poesia de Gilson Cavalcante é fácil desvendá-la, de entendê-la nas palavras claras com que escreve; o difícil é mensurá-las e descortiná-las em seu significado irrestrito. Um artigo não lhe cabe os poemas revelados: não são apanhados de mesóclises, versos alexandrinos, cesuras ou de figuras de linguagem intrincadas beirando oximoros de alguma coisa sacra do Barroco brasileiro; contato se apega ao sons e coisas etéreas do simbolismo mais Pessaniano que exista. Para mim, isso me foi mais cruel: desapegar o ofício de poeta e contemplar que a palavra independe do aspecto, da junção de letras silabadas ou dos aglomerados de figuras abstratas complexas dos fonemas que se articula, ou mesmo do meio onde circula em bocas mal pronunciadas ou em abreviações desconexas da linguagem de uma grande leva de jovens cibernautas.

O Bordado da Urtiga, por mais que pareça, não é um livro fácil e para lê-lo é preciso exercício de entendimento, de maturidade, de desprendimento. Há uma confissão em cada poema e nisso reside a coisa mais genial: o Gilson consegue exteriorizar mensagens mais guardadas – coisas que madrugadas boêmias e serenatas de amor na rua são bem capazes de fazer, mas que poucos tem coragem (ébrios, talvez).

Ninguém se arrisca a sangrar no papel à vista alheia e dizer o que pensa, mesmo que poeticamente. O Bordado é um livro de dor, de satisfação, de amor, de confidencialidade, de sensualidade e de existencialismo – tudo isso sem ser piegas. Há uma construção madura em seus versos que aproximo da contemplação bestificada sobre o mundo no universo Drummondiano, da mesma forma como o poeta vislumbra ecos do existencialismo do fim dos tempos modernos que Rainer Maria Rilke estetizou em seu “Livro das Horas” ou quando serena o poço seco das lágrimas em considerações sobre os relacionamentos em linhas perigosamente maliciosas como Baudelaire.

Pecar ao ponto
Do carbono original
Que a carne nutre
(...)
A ser vício da serpente
Desfruto da árvore da volúpia
(...)
Pecar é meu divórcio.


Em todo compêndio da nova safra de poemas, um em particular sintetiza a busca do autor pela força das coisas em movimento, do autoconhecimento, do ajustar-se consigo não só porque o mundo exige, ou da rudeza das coisas revistas no autoconhecimento.

Nunca me dou por vencido.
O resto que me sobra é asfixia e sombra.
Deixem-me partir, estou atrasado.
Levo para o futuro a fisionomia macia dos parafusos.
Vou apertar meu outro lado.


É por conta disso que o livro do Gilson recebeu premiação digna de nota e isso é reconhecimento justo. Ideal seria “sua confissão do não claustro”, sendo ele um poeta das ruas, dos lugares notívagos, das vivacidades, chegando a mais gentes em bibliotecas, escolas, bares, noites.

Pressuponho que a ordem natural das coisas seja a descoberta deste apanhado de ótimos poemas ao acaso, sem o rigor da obrigação de sua leitura em alguma lista de vestibular, numa natural busca pela beleza do versejar. Mas, que não seja uma defesa bairrista de que temos produção de quilate raro em jazida pouco afeita a dar ouro – a qualidade de um livro isolado num cenário nacional de pouca produção editorial de poesia. Isso desencoraja, pois, afinal versos não vendem, diz o mercado. Mas, se assim fosse sempre, poetas como Gilson manteriam-se guardados. Cabe aí o desnudamento da arte composta e o compartilhar dessa mesma arte sem distinções sócio-culturais.

O Bordado da Urtiga é um livro excelente, porque não mente para seu público – e só quem lê livros assim sabe quando um poeta é um fingidor, que chega a fingir a dor que deveras sente. No caso deste, não há fingimento aparente. As coisas lá são como são, daí arderEm abrasivas como urtiga aos olhos surpresos de quem tomá-lo para ler. Nessa, Pessoa errou feio.



Fredson Aguiar

terça-feira, 4 de outubro de 2011

"A Vingança de Montezuma"







...Ele não pára! Ceifa companheiros, destrói alianças, mente bastante, vitupera aos rincões da inconsequência naquela bebedeira larga que enfeita seus atos de irresoluto fuzileiro naval...







"A Vingança de Montezuma"


Filho bastardo e perverso do senhor
De engenho que nos mói há tantos anos,
Quem haverá de interromper teus planos -
O destino, a tragédia ou algum tumor?

Ninguém te sabe os índios que encantaste
Com espelho de Brasília quando eras
Senhor por oito anos dessas feras
Até que um leoa o fez mascate...

Voltastes sorridente e nem a perda
Das células mortuárias do teu filho
Te acalmou o gênio e a malvadeza.

E segues Espanhol espalhando a bruma
De sangue sobre os corpos no junquilho
Que insurge a provação de Montezuma.


(F.N.A)

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

"Gato Fedorento"




Este soneto aqui é uma homenagem aos malucos bacanas do programa de humor português, Gato Fedorento.

Transgressão, cinismo e ironia - receita precisa para um bom humor.








"Gato Fedorento"


É uma questão de pescas, ora pá?!
Pois sapateio e faço deste ofício
O riso largo no teu orifício,
Que nem Bocage fez tua mãe gozar.

Gosto do riso quando muito irônico -
Riso de graça? Desses eu me afasto!!
Me lembro um dia que ao cagar no pasto
Te encontrei peidando um supersônico.

Falas de humor e eu te digo: o gato
Que não tem dono ou quem o alimente,
Vive no beco só de comer rato.

Mas a fuder e beber na contramão.
Tal qual prefiro a vida delinquente
Que ser cachorro e ainda ter patrão.


(F.N.A)

"Rui, o Rebelde Retraído"





...Ele finge que vai, finge que vai estourar, está a um passo de explodir, mas se retrai.

É um valete tímido com sérios problemas de imposição.









"Rui, o Rebelde Retraído"


Quando um fedelho, Rui torceu o joelho
E sua mãe o prendeu como bem quis.
Um mês de tala sem se olhar no espelho...
Tentou se rebelar. Foi por um triz.

Subiu na vida o Rui. Deixou o cabelo
Crescer como sua morsa no nariz.
Prefeito de mulambo deposto do castelo
Pensou vingar. Calou! - Foi porque quis.

À idade, lobo velho, ele descansa
E se revolta quando alguém ainda lhe eriça -
O pelo sobe, se atiça e sobe a pança.

Lá na Casa do Conde, zangado pela cidade,
Cansou de tanta avaria na areia movediça,
Quis se zangar, parou. Não xinga a cara metade.


(F.N.A)

terça-feira, 30 de agosto de 2011

"Assembléia dos Espíritos"







Extra! Extra!

Partido antecipa juízo final. Quer zumbis cumprindo compromisso e votando.









"Assembléia dos Espíritos"


Pensava que os Judeus - eles somente -
Contavam com o Juízo sobre a serra,
Pra ver brotar da mansidão da terra
O espírito dos mortos, plenamente.

Daí vêm outros povos que lhe seguem
Ao máximo regimento da fronteira
E em muito alistam em suas fileiras
Os bem finados pra que não sosseguem.

Não são só povos que recrutam mortos,
Que alimentam a fome de vingança
Que faz o homem diferir dos porcos.

Até um Partido já acha essencial
Listar defuntos pra pesar à balança
A aprovação do próprio carnaval.


(F.N.A)

domingo, 28 de agosto de 2011

"Leite de Magnésia"







...Esse é bom pra uma bela cagada, mas pra amnésia, não!










"Leite de Magnésia"


Pó, purpurina, placa, pé, Platão,
Palmas, platéia... patuscada é pouco!
Agora sei que Mister M é louco -
Sumiu o flagrante de sua própria mão.

"Não faças, oh mocinha!, da malcriação
O favo natural nos lábios do veneno!
Crianças tolas - de Guerrilha ou não
Temem na guerra as gotas do sereno."

Quem se assombra com mandatos vagos
Ou se aliança nos lençóis alheios
Quando sê pego - é pelos próprios bagos.

Se truque ou mágica, o resto é amnésia.
Até quem foi um homem sem receios
Sofre, mas toma leite magnésia.


(F.N.A)

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

"A Era da Decrepitude"



...Um estado de direito onde não há direito; soberano que não tem soberania; moderno contemporaneamente atrasado...

- Já me emputeci com esse peleguismo escroto e todas suas vertentes!!



“A Era da Decrepitude”


Obama foi sem calça ao puteiro
Querendo dar calote em puta velha:
Comer, beber, fuder sem ter dinheiro,
Sardinha, pão com ovo e mortadela.

Ninguém toma um estado por tabela,
Sem golpe, atentado ou força bruta.
Pois, mesmo Che Guevara amava aquela
Cantiga “Pouco pão? Mais árdua a luta.”

Não resta uma esquerda sem o crivo
Dos mesmos atentados que a direita
Causou, cedendo ao mundo um mel nocivo.

Não sobra um só gigante, um anjo, alguém
Que ampare o cidadão com a receita
Da prática do reino como um bem.


(F.N.A)

"Ariadna & Ariadno"



...Victor ou Victória? Enfim, não sei dizer se é um exagerado folhetim ou temos mesmo candidatos assim?!




"Ariadna & Ariadno"


- Não me dê gole, nem golão, mas um golin'
Num copo sujo de esmalte, americano,
Pois só bebum talvez entenda qual o plano
Pro cabaré não pegar fogo igual capim?

Já grita o gringo, o cão sem rabo e o verdin´;
Faz-se modelos - do reitor ao pé de pano,
Que domicílio o futebol não deu ao fulano,
Mas a morena Ali Babá do vermelin´.

Agora surge essa patroa sem uma forma,
Que lhe projete a outro andar de consciência
Que não do alto de seu salto... plataforma.

Porque às vistas perniciosas, logo vi!,
Que do batom que usa a doida na aparência
Mais usa o rouge seu esposo-lingerie...


(F.N.A)

"Memória de Cabano"



...Minha saudade me leva a igarapés que bebi quando ainda eu era um índio sem tapera...


...Dedico este soneto ao poeta e amigo de versos, Luiz Martins.




"Memória de Cabano"


Dizia Claudia, e já vão lá uns tantos anos,
Que "dói no peito uma dor que não é pouca."
Sabia disso enamorado em sua voz rouca,
Quando crescia a juventude de meus danos.

Não levo mesmo muita coisa - só os ciganos
Jeitos de vida em minha vida sempre louca.
Deixar dizer tudo o que penso noutra boca
Seria amar com menos sonhos mais enganos.

Prefiro eu mesmo, eu gritar meu eu cabano
- Caboclo manso que o Pará pariu na terra -
Que muito erra, além da serra, o rio estranho

Que leva as dores de existir como um direito
De renegar essa semente onde a guerra
Desfez o índio que eu fui dentro do peito.


(F.N.A)

domingo, 21 de agosto de 2011

“Brasília”







"...Deixa, deixa, deixa eu dizer o que penso dessa vida. Preciso demais desabafar."


(CLÁUDIA, Deixa eu dizer)






“Brasília”


Dei um chute na mesa e salvei o gargalo –
Meu pescoço arrochado em um fiapo de pano.
Reparei que na cuca não deu nenhum dano.
Só uma música velha e um band-aid no calo.

Os Cristais fumam o Bosque na ronda noturna –
A cortina de sons é soprada num trago.
Solidão reprimida? Haja sexo pago...
A ossada do Azar enterrei numa urna.

Três, seis, doze projéteis: a tirada do dia.
De um zumbi me desperta o arraial de Brasília,
Que se assusta candanga. Ainda ontem – bóia fria.

Dei um chute na noite. Acordei, era vento.
Fui aos rastros do vício espantar a mobília
Destes prédios sem ar que sufocam o cimento.


(F.N.A)

“A Casa na Intendente”







Definitivamente, a MOCIDADE no interior do Pará, nos anos 80, não era fácil.

Rua Intendente Floriano: coisa estilo "Bye Bye Brasil".






“A Casa na Intendente”


Não sou de cabaré algum cliente,
Mas puta na batalha eu admiro _
O claustro em seu universo não prefiro:
A solidão, a dor, alguém ausente.

A mãe que foi obreira; o pai ausente;
O lar da jogatina em seu suspiro.
Talvez sirvam o jantar em seu retiro
Com o sexo infeliz de alguém doente.

Meu velho pai, que tinha um cabaré,
Eu lembro (ah, poções de grosso encanto!)
Que as quengas de teu bar fudiam em pé...

E quando eu pageava ardendo o ensino
No mel da velha teta vinha o espanto:
Sussega, que tu é só um mininu!!”


(F.N.A)

“O evangelho, segundo São João”









...Não se livra da sanha o sabor da aranha: veneno.









“O evangelho, segundo São João”


Não penses, seu doutor, que o Rivotril
Desfaz meus traços finos e perversos.
Fora esse papo de Jesus, transformo em versos
A faca cega que amolo no esmeril.

Ok! Já fui um advogado bem Bombril –
De mil e uma sub-inutilidades.
Agora, solto bomba azul sobre as cidades,
Pois rezo alegre pra limpar nosso Brasil.

O filho, o pai, as bestas novas e os asseclas
E todo aquele que inspira minha cruzada
E invade manso, quando escrevo, minhas teclas,

Temei até bala com bala, olho furado!
Pois sendo louco lambedor de bula errada
Eu só acalmo por um cargo abdicado.


(F.N.A)

terça-feira, 26 de julho de 2011

"Zezinho Mascarado"


..."Quem vive de passado é museu", vomita esse monstro perverso.

La vengeance est un plat qui se mange froid...




"Zezinho Mascarado"


Às vésperas, sangra a mansidão da alma
Em grave alerta a esperar o massacre,
Que avançou rios e, pela ilha, o acre,
Ferindo à morte em tanta exata calma.

Tanto que o ódio tem causado à fome
Que em teus cascos te arranjou nevroses;
Bale em teu crânio, entre o arranhar de vozes
Que te alucinam e te ocultam o nome.

Porque és louco em tuas próprias fezes
E come reses quando o sol te assombra
ameaçando ir - por mais que rezes.

Pois és perverso em tanto mal que geras,
Que o mundo fátuo de tua imensa lombra
Te fez o monstro do qual temem as feras.


(F.N.A)

quarta-feira, 25 de maio de 2011

"O Amigo do Papa"





...Seu Papa, não faça tipo!!

...Eleja logo este rato de diocese...





"O Amigo do Papa"


Concílio. O Vaticano está a postos -
De longe surgirá um candidato,
Que há anos foi ali cagar no mato
E pode, serviçal, suprir os gostos

Daqueles a quem serve em estatal,
Enquanto há poder em que possa estar.
E o Papa já até disse: "vou votar
E discursar em programa eleitoral!"

Mas, orem! Não há milagre sem oração!
E até o candidato e a Santa Sé
Não lançam o nome avulso por caução;

No caso deste mouco é hormonal,
Por dor em seus joelhos reza em pé,
Mas gosta de tomar benção papal.


(F.N.A)

terça-feira, 24 de maio de 2011

"Ratazana de Navio"


...Não aguentou a pressão e debandou, vergonhosamente...

...Difícil ser oposição quem sempre acostumou em situação...




"Ratazana de Navio"


Nem mesmo a senhorita iracunda
Ou um menino gordo e bem birrento
Conseguem insistir neste tormento -
Permanecer em navio que afunda.

Marujo, capitão, garçom ou banda...
Ninguém se predispõe ao afogamento.
Daí, não estranhar o fingimento
De quem bramir que fica e não debanda.

Pois veja só! Há um novo desertor -
Não é gordo ou senhorita quando berra,
Mas uma ratazana num isopor,

Que foge do confronto, combalida,
Igual faz um covarde numa guerra,
Que foge pra salvar a própria vida.


(F.N.A)

quarta-feira, 18 de maio de 2011

"Churrasco de Peixe"




...E o Atum?? Quem vai comer?? O Bezerro, claro!!





"Churrasco de Peixe"


Um peixe que se come e quando come
Bem cru, servido seco ou com wassabi,
Desperta a fome e muita gente sabe
Que carne sem tempero causa fome.

Sujeito bem safado e apressado
Jantou antes do prato principal.
Pior. Fez da comida um carnaval,
E agora passa mal por ter errado

A cota de sua própria incompetência.
E eu fico aqui sorrindo do paspalho
E do churrasco feito na querência

Em que sua puxa-saco preferida
Cedeu a própria carne ao pão e alho
Que o mouco vai comer por toda vida.


(F.N.A)

terça-feira, 17 de maio de 2011

"Hérnia de Disco"





Tome, Doutor, esta tesoura, e ... corte minha singularíssima pessoa. (Augusto dos Anjos)




“Hérnia de Disco”


Eu que ando a muita custa igual um bisonte,
Porque minha coluna é uma curva;
Desprendo da carcaça a sombra turva
Que cobre minha careca no horizonte.

Dos doze aos trinta e sete é esse o mal
Que aperta a cervical quando eu pioro.
A grande diferença? Eu já não choro
Com as dores na extensão do peitoral.

Após me clinicar, o ortopedista,
Afeito a casos raros e outras trevas,
Me disse: “- tuas hérnias são bem quistas!”

“São flores de stress, pois são menores
Que o fardo dos espíritos que levas
Na conta de tuas dores bem maiores.”


(F.N.A)

domingo, 15 de maio de 2011

"Zôotins"






...Só nesse zoológico se bebe a água da jaula do inimigo...






“Zôotins”


Marido que acostuma a levar galho
Ou esposa que aceitar levar soco,
Incorrem em mesmo erro e acho louco:
Deixar sem-vergonhice dá um trabalho...

Eu vejo uma cambada sem-vergonha
Que jura ódio eterno e até de morte
Aquele que ousar punir sua sorte,
Mas gosta de um perdão sem parcimônia.

É como algum político safado,
Que bate, senta a mão, mas quando apanha
Se dana a pedir mais, pois é tarado.

Declara oposição, mas vende a honra
Na dança do interesse do que ganha
E é isso sua maior desonra.


II


Um besta que chegou ao estado agora
Não vê que isso aqui é um zoológico –
Tem rato, tem piranha, gato e, é lógico,
O burro, a anta e a cobra não estão fora.

Só bicho que se alegra em estar desperto,
Porque ganha atestado do eleitor
E a classe da imprensa faz o favor
De proteger este malandro esperto.

Igual aquela hebdomadária,
Que adotou uma besta em sua estima
Que, por já ser tão cega, chega a otária.

Pior. Tem gênio ruim e já dá aula,
Pois gosta de animal que almoça em cima
Da merda que cagou na própria jaula.


(F.N.A)

segunda-feira, 9 de maio de 2011

"Ob(s)ama Me Ama!!"




"...Vou me entocar em Abbottabad, porque é simulacro demais em peleguismo só..."




"Ob(s)ama Me Ama!!"


Igual faz um escriba equivocado
Que parte pro consenso getulista
De armar uma massiva queremista
E ver ruir seu plano de atentado,

Obama perseguiu e foi um bocado
As barbas do Osama e sua conquista
Surgiu tão nebulosa e alquimista
Que a luz de sua missão é um sol gelado.

- Não é morto ou morto foi por atentado?
- O sangue do terror qualhou de medo
Ou yankee é bom em cinema simulado?

Não sabe quem matou o nobel Obama,
Como escriba que não sabe onde por o dedo
Que acenda um rastilho igual o Osama.


(F.N.A)

quinta-feira, 5 de maio de 2011

"Choro de Viúva"






...Anoiteceu uma coisa, chorou, fez escárceu, relampejou e... nada!!




"Choro de Viúva"


Na baixa do caixão, uma labuta.
Saudosa, grita e agita uma viúva:
"Meu bem, pra ti usei batom de uva,
Calcinha, sutiã e kamasutra."

"E agora, quem irá espremer a fruta
Das coxas que vacilam em casca fina?
Eu temo que o leiteiro da esquina
Azeite com leitinho essa gruta."

O choro da viúva imprime a ausência
Que o lustre envernizado do amado
Fazia ao revoar sua consciência.

Igual choro de bobo quando aborda
A saudade em que se frustra ao ver cassado
O sonho que acaba assim que acorda.


(F.N.A)

sábado, 30 de abril de 2011

"Luta na Lama"




...Esse mundo político anda muito chato. Uma luta na lama esquentaria tudo...





"Luta na Lama"


A vitamina de uma é o confronto,
No palco e no afoxè quando se engasga.
Nas terras produtivas que ela rasga
O som da invasão se cala e pronto!

Já a outra se compõe fina donzela,
Um misto de Grace Kelly e Dorian Gray:
Como busca a juventude, busca a lei
Que a ordene uma só diva e seja ela.

Daí, neste conflito entre dois rostos,
A feminina raça masculina
De uma se apimenta ante os opostos...

Acaso briguem a soco e canivete,
Na luta entre a cantora e a SandyLina
Eu acho que quem ganha é a Ivete.


(F.N.A)

sexta-feira, 29 de abril de 2011

"A Terceira Lâmina"



...Falso defensor de causas sociais, a vida dá voltas! Lembre de Madame Roland!

...Hoje, nos cargos que negocias exploras dores alheias; amanhã, podes ser tu o decapitado...








"A Terceira Lâmina"


Quem explora a dor alheia, saiba bem:
O dia em que alguém o fará sofrer
Será uma apoteose, o entardecer
Da morte de Jesus em Jerusalém.

Na cruz de seus pecados mais bandidos,
Por todos que usastes - as famílias
Que herdaram exploração e não a partilha
Das terras e dos teus cargos pretendidos.

Você que explora a força campesina
Na máquina de arranjo do Poder,
Temei, pois a vingança... essa é divina!!

A lâmina que cepa exploradores
Do povo, como a França ao renascer,
Cortou na guilhotina seus mentores.


(F.N.A)

quarta-feira, 27 de abril de 2011

"A Teoria do Revés"


...BBB, líder em audiência; Restart, o consolo pop; Paulo Coelho, mago literato...

...O mundo tá mal das pernas! O pior? Já sonha em vereança certo discípulo...



"A Teoria do Revés"


Eu vou passar dez anos a pó e água,
Maconha e simulacros de haxixe...
Quem sabe eu descole um sanduíche
Gratuito por quem pena minha mágoa.

Cansei de ser honesto, um homem bobo!
Eu quero é me drogar pelos canteiros
E quando comover o estado inteiro
Arrumo uma madrinha e saio do lodo.

Escreverei um livro bem chumbrega,
Barganharei exemplos pros meus vícios
E deles explorarei a pior refrega:

Sentar num cadeira, após eleito,
E glosar, sorrindo muito dos suplícios,
De quem passava a honesto, enchendo o peito.


(F.N.A)

"Mania de Calígula"







...É um bastião da causas improváveis: causas próprias...

...Faminto devorador de indicações, está careca em saber usar mesquinharias...






"Mania de Calígula"


Eu fico encafifado com cantor
Que passa cinco anos ensaiando
E na hora de cantar sai disfarçando:
"Minha voz está abafada! É o calor!"

Do jeito que encafifo com sujeito,
Político rasteiro e meliante,
Que emula um Che Guevara vacilante
E disfarça com perfume o próprio cheiro.

Passou trocentos anos a pão e água,
Que, hoje, quando come, peida e arrota
Deitado igual um romano em colchão d´água.

Loteia, assopra, esmaga, ameaça e mente -
Sem cargo, exige mais do que lhe é cota...
Capaz de mandar mais que a presidente.


(F.N.A)

terça-feira, 19 de abril de 2011

"Tatu Bola"



...Se construir debaixo da terra vai matar todo mundo afogado na primeira chuva...



"Tatu Bola"


Tatu que muito entende de buraco,
Na baixa do inverno sai da toca,
Pois lama de enxurrada lhe provoca
Um alagamento de molhar o saco.

Casa alagada e um tatu no mato
Na espera de abrigar-se no verão
Noutro buraco, até que uma malssão
Dos ventos trópicos desfaça o trato.

Agora, veja a história do metrô!!!
Entalado num buraco quando anda,
Não pode igual o tatu de elevador

Subir até a rua a todo inverno.
- Na trilha do buraco, nessa banda,
A lama na Avenida é um rastro eterno!!


(F.N.A)

sábado, 16 de abril de 2011

"Adão e Eva"



...Depois de degredados, a maçã seguinte; depois do choro, uma nova áspide...




"Adão e Eva"


"Expulsos, meu Amor, aonde iremos
Lançar os lábios grossos noutro fruto?
Pois pra acender e degustar o charuto
É preciso um paraíso e o perdemos!?"

"A víbora entendeu que padecemos
Da ânsia por comer o que é proibido
E assim alimentou nossa prurido
Na árvore fiscal que nós lambemos."

"Aonde, meu Amor, irei sem ti?
À casa do capeta não me arrisco,
Beber com o cramulhão da Parati"

"Tu já te arvorastes noutra seita
Bebendo o socialismo junto ao fisco,
Podias me salvar dando a receita."


(F.N.A)

terça-feira, 12 de abril de 2011

"Relativamente"



...Com esperança muito engraçada de tomar um café ao fim do expediente - hora em que a gente gralha essas mancadas todas...




"Relativamente"


O conceito em tudo que ousamos
Descobrir, sendo o início - uma constante;
E a morte - sentido único e insondável
Da própria condição da vida em si.

A máquina é a mecânica do corpo
E o trabalho fino da energia dorme
O sono infindável do constante movimento -
Pálpebras doces no alguidar dos sonhos.

Deus e o princípio; a força e o por do sol -
Em tudo desses cânones infinitos
Nossa poeira primordial se assusta e vela

O segredo da existência em cada um desses,
Pois na partícula final somos um só
Ponto de vida a renascer em mesmo ciclo.


(F.N.A)

quinta-feira, 7 de abril de 2011

"Cereal Killer"


...É isso aí, brasileiros... Enquanto essa merda acontece, vamos nos entupindo ainda mais de Ariadnas; de BBBundas; de novela de manhã, de tarde e de noite; vídeo-xunda; de fundamentalismo religioso madrugada adentro; de idolatria à devassidão global; de deturpação social; de drogas; de psicopatia em escalas gigantescas, que iremos já, já antecipar nossa passagem neste mundo.

Pra IMENSURÁVEL SORTE do Universo!!





"Cereal Killer"


A forma empastelada que importamos
Daquela qualidade way of life
Já nos pariu uns monstros bem psich,
Que o Mal já nos rendeu e nem notamos.

Igrejas, BBB, mundo sem eira,
Fantasmas de convívios em família,
Esqueletos traumatados na mobília,
Dos vícios goela abaixo nessa feira...

Em todo esse processo em que piramos,
Trepando com animais, sendo idiotas,
Orando sem ter fé, mas por enganos,

Chegamos ao perfil desse projeto,
Que a bunda mundial peida e assopra -
Humanos. Por sinônimo: Dejetos.


(F.N.A)

quarta-feira, 6 de abril de 2011

"Feliz Dia do Jornalista!"





...Ô profissão danada de boa: a gente se fode, mas se diverte!

...Não. A gente não nada em rios de dinheiro, mas faz umas graças...rsrs








"Feliz Dia do Jornalista!"


Minha prima achou em dar prum advogado.
Penou! Ganhou só lábia e muito fumo;
Partiu pra namorar alguém sem rumo -
Escolheu um pagodeiro fracassado.

Cansou, pois só levava baculejo
Nas festas na Cohab, então mudou.
Partiu pra se enroscar com o encanador -
Levou foi muito cano em seu azulejo.

Perdida, como garça sem morada,
Tentou se aprumar com um fazendeiro -
Herdou uma hipoteca atrasada;

Raivou e falou: "Agora, sou golpista!"
"Vou dar pra um peão bom em dinheiro..."
Fudeu. Ela embuchou de um jornalista.


(F.N.A)

"O Samaritano da Atlântida"






...Mas olha o desapego desse misantropo de toga furada...

...Contrair terra que tá debaixo d´água é um opróbio... Ah, tá!







"O Samaritano da Atlântida"


Malandro que vendeu a Torre de Pisa;
Pilantra que rifou o Redentor -
Pra todo papo "isperto" há um mentor,
Que arme uma tramóia bem concisa.

A Arte de Mentir e de Simular
Requer mais que estratégia ou ironia;
Requer todo o cinismo em alegoria
Forçado num humor pra machucar.

Tomemos o nosso monge-advogado,
Um fraterno defensor de causas "justas",
Que anda sem habitar seu "bom" legado

Das terras que usufrui pela metade,
Pois uma parte dela às minhas custas
Paguei pra a que penasse em sociedade.


(F.N.A)

"Na Lapa"



...Se for pra punir, vai sem cuspe, pois quando meteram no nosso nem se preocuparam se doía...





"Na Lapa"


Não adianta só passar uma borracha
Nos atos de um passado tenebroso;
É preciso enterrar e jogar num fosso,
Exconjurar e melecar com graxa,

Pra ver se escorrega até o inferno
O pacote da gestão ruim e capenga,
Pro cão aprumar com jeito bem na benga,
Carcar e depois jogar no fogo eterno.

Vá lá que uma borracha é necessária,
Pra se apagar vestígios da bandalha
Que armou toda uma farra orçamentária...

Aliás, goma por goma, melhor seria
Sentar nas costas grossas dessa ralha
Um lapa de borracha noite e dia.


(F.N.A)

terça-feira, 5 de abril de 2011

"dURAN dURAN"






...Eu já fui um duranie de respeito, naquela idade em que se é foda, assim...

...Is there anyone out there? Anyone else outside??







"dURAN dURAN"


Nos tempos de escola e lá vão séries
Perdidas, pois nas aulas, se eu faltava,
Em nome do glamour, bem cabulava
Por causa de arpejos muito estéreis.

Eu era um galalau ruim de gordura
Que achava ser igual o Duran Duran -
John Taylor, na verdade, era meu fã;
E o Rhodes me ensinava partitura.

Dos anos que vivi tocando em bailes
Pensando na carreira de astro morto,
Nem vi que envelheci e sou cego em braile;

Não fui mais rockstar a arder nas cordas,
Mas inda sou um duranie muito torto,
Que afina e come quieto pelas bordas.


(F.N.A)

"Retrato Falado"




...Bandido é bandido e isso independe de disfarce e negativa. É coisa de código genético, mesmo...






"Retrato Falado"


Quem rouba no atacado nem recorda
Dos vícios de gatuno quando pobre -
Depois que muito rouba ouro e cobre,
Nem lembra seu pescoço numa corda

Das dívidas arcadas com a família
E é isso que os faz bandidos-ratos,
Que escondem mixarias nos sapatos
E a verba do estado na braguilha.

Mais graça tem bandido aposentado
Por força do eleitor ou da Justiça,
Que esquece suas proezas do passado.

Esquece até da cara que carrega
Por cima do pescoço. Essa carniça
Até tenta disfarçar, mas se entrega.


(F.N.A)

"Meu querido Playstation"


...Alguém precisa dizer a uns sujeitos que tiro no Playstation é uma coisa, na vida real é outra...



"Meu querido Playstation"


Preciso de uma arma que console
A auto-afirmação em meus gametas -
Uma glock, um três-oitão, uma bereta,
Um rifle ou algum míssil que decole

Da ponta do cilindro de meu cano
E encontre pelo ar satisfação
Na nuca de um pacato cidadão
Estilhaçando a vida do fulano.

Mamãe me apresentou jogos de guerra
E a fome de viver que tinha um dia
Caiu com minha lerdeza sobre a terra.

E eu hoje sou um projeto anormal
De um homem feito em farda e sangria,
Tarado em meu mundinho virtual.


(F.N.A)

sexta-feira, 1 de abril de 2011

"A Parábola do Alpiste"




...Foi tempo em que medo de inferno e o temor do pecado cingiam cabeças resignadas..

...Nunca as ovelhas rezaram tanto na cartilha da opinião pública...





"A Parábola do Alpiste"


O céu quer mais que reza e Santa Sé
Na cota que os pastores sabem bem
Em discutir orçamento com alguém
Que saiba mais de cálculo que fé.

Reclama um pastor, passando sono,
Que pouco seu mandato lhe assiste -
O passarinho preso come alpiste,
Porque precisa pão da mão do dono.

Mas, hoje, os rebanhos não só balem;
Não dizem só amém, de noite e dia,
Orando e concordando que se calem;

O crente, hoje, comunga de protesto.
Jesus, que era Jesus, também agia
Pregando e redigindo manifesto.


(F.N.A)

quarta-feira, 30 de março de 2011

"Escola de Sagres"




...Navego, desbravo, canso e derivo nestas águas que me afogam...








"Escola de Sagres"


Desbravo igual um marujo sem morada
As lanças do oceano e ainda encontro
A fórmula geográfica do helesponto
Que fez a minha vida mais cansada.

Confesso. Alguém me dê água salgada
Em cálices que as mãos se unem mortas
E enterre meu destino entre as comportas
Que às lágrimas do abismo estão cerradas.

Eu muito naveguei em terra firme
E quando me lancei no mar bravio
As tábuas do calado contorceram -

Ruiram, pois não pude nem sentir-me
Uma parte deste mundo em meu vazio
Nos sonhos que vivi e que morreram.


(F.N.A)

terça-feira, 29 de março de 2011

José Alencar - "Apego"







...A José Alencar - homem rico na terra em suas conquistas; mais ainda no céu em boa-aventurança...







José Alencar - "Apego"


Na praça, um anúncio. No alto-falante,
A morte é dissecada e os olhos disparam
No silêncio a multidão - e a tudo encaram,
Pois a vida sorriu-lhe o acalanto adiante.

No descanso do ocaso, o horizonte agradece;
A oração reverbera, quando máquinas param,
O fio que se tecela, enquanto roupas quaram,
E desfia no tempo o destino em uma prece.

Morre agora - Morrendo, não! Emurchecendo
A flor de sua velhice e o canto da coragem
No recanto ilustrado da Vida, entendendo

Que só leva do mundo, o sorriso e o sossego,
Quem, na luta do tempo, não bebeu da miragem,
Mas da sanha da vida em seu maior apego.


(F.N.A)

segunda-feira, 28 de março de 2011

“O Goebbels da Reserva”




...Quando a farra corria solta e mantinha o estado de sítio vigiado, conscrito achava bão...

...Agora, quer bancar uma de censor da ditadura e baixar cota ração...







“O Goebbels da Reserva”


Milico que não gosta de mensagem
Furtiva que afronta alto comando,
Parece uma TV ruim, chuviscando,
Com rachas pelo tubo da imagem.

Não sabe em estratégia o nobre Pirro,
Que Hitler não errou em metalinguagem;
Pecou porque fez grande a sacanagem
Da gripe ser menor do que o espirro.

Milico entende bem é de atentado –
Rio Centro, meia oito, Marighella,
Lamarca, pacotão, golpe de estado.

Nem busco compreender esse jerico
Que guarda sua cachola sem tramela
Invés num capacete, num penico.


(F.N.A)

terça-feira, 22 de março de 2011

"Bico Seco"



...A cana tá cara? Tá, sim senhor! A pinga subiu, mas o álcool baixou? Milagre de Santo Expedito!





"Bico Seco"


Preciso de uma pinga bem fraquinha,
Pois como o preço anda Aquele preço,
Nem bago de Caiana em sobrepreço
Consegue ser mais parco que a branquinha.

Há muito tomar pinga foi um costume
Pra tantos, por pobreza, em seus centavos,
Cingindo o amargo banzo dos escravos
Por lenitivo que não se resume.

Confesso: Bebo pinga porque gosto!
Mas como meu salário pouco sobra
Pra conta do gargalo e o tira-gosto,

Com o brinde do cartel espalhando talco
Que o Santo Expedito não nos cobra,
Melhor parar na bomba e beber álcool.


(F.N.A)

segunda-feira, 21 de março de 2011

"Riachão da Braboleta"





...Ah, o Progresso... esse, sim, justifica os meios!

...E quem quiser respirar, aqui, que compre seu balão de gás!!






"Riachão da Braboleta"


"Um córrego, silente, água pura...
E quem toma defesa a favor disso?
A largura desse rio é um caniço
E o leito não é lá essa fundura..."

"Eu fui um Tsunami Boy, um dia,
Lá no sopé dos Andes, inda criança -
Descia com as neves da barranca
E poluía os rios quando escorria."

"Eu temo por canções de primavera,
De lágrimas e de amor à natureza,
Pois amo, no Progresso, sua quimera"

"De andar de mãos atadas rente aos paus
Da mata a tombar pela avareza
De um processo que celebra o Caos."


(F.N.A)

"Ouro Negro"


...A culpa não é dos Postos, mas dos dinossauros...

...Não fosse isso, talvez nem estivéssemos nas mãos do santo das causas impossíveis...



"Ouro Negro"


Se os dinossauros, antes de ser óleo,
Bem antes da hecatombe no seu toba,
Soubessem que a flor era uma cobra
Radioativa em seu legado de petróleo,

Ninguém mais teimaria em ser fusível,
Nem metanol ou diesel ou gasolina,
Nem gás GLP, álcool ou vacina
Pra carros com padrão bi-combustível...

Se muitos dos teimosos brontossauros
Soubessem que seriam disputados
Por conta de centavos muito caros,

Dariam ao meteoro uma canseira -
Seria o fim em andar motorizado;
E corrida? Só em banguela na ladeira.


(F.N.A)

"Inteligência Artificial"







...Eis a localização revelada da fortaleza do Super-Boy - La barra da saia da mama...







"Inteligência Artificial"


Eu lembro do menino, um rapazinho,
Robô com sentimento de humanos -
Queria ver sua mãe, pelo seus planos,
Eternamente a lhe cingir carinho.

No filme de Spielberg, ele alcança,
Numa ilusão fortuita e bem futura,
A lágrima do sonho em sua candura
E a força que existe na esperança.

Mas, hoje, percebi outro robô,
Que atesta inteligência natural,
Maquiada em sua oferenda de Êbo.

Não passa de um autômato sem brilho,
Que une uma frieza emocional
Ao código genético de filho.


(F.N.A)

sexta-feira, 18 de março de 2011

“Sem Sexto Sentido”





...Raul Seixas disse que viu Pedro negar Cristo, por três vezes, diante do espelho...

...E eu que vi o genérico negar desencarnados diante dos hebdomadários?!?!...









“Sem Sexto Sentido”


Fantasmas a vagar em cargos públicos,
Temei!Vocês são peças de museu.
Melhor, não são nem espectros, nem júbilos
Ao lar que Alan Kardec não benzeu.

Visagens dos umbrais nas autarquias
Mantidas encarnadas por partidos,
Nem vós mais existis – sois fantasias.
Não crede em vós o ateu dos possuídos.

Nem tábua de Ouija mais detecta
A vossa assombração paranormal...
O médium sem poder nem vos conecta

Ao seu próprio saber e já nem suporta
Negar à inquisição ministerial,
Que ele não emprega gente morta.


(F.N.A)

quinta-feira, 17 de março de 2011

"Fashion Pavão"


...Só falta se exigir dos homens, cueca samba-canção ou ceroula; e das mulheres, anágua e bustiê...



"Fashion Pavão"


Não ando acostumado em andar invocado -
De terno. E jornalista entende disso??
É o Custo que nos causa esse suplício
E gravata é corda grossa pra enforcado.

Quiça, pra ver feliz um deputado
Fingindo cortesia e andando em pompa(?!)
Esquece. Tal regimento me amedronta -
E Regimento seria andar sempre alinhado...

...Não um pavão em terno ou num vestido -
Alinhamento ao código moral
E de ética é UM traje sério pretendido,

Que nunca se utiliza por quem cobra.
Mas vá cobrar essa veste de um amoral?!?!
Capaz nem se cobrir, pois não lhe sobra.


(F.N.A)