terça-feira, 26 de janeiro de 2010

"Caim e Abel"





...Essa aqui, segundo o Google Maps, é sobre uma cidade lá da antiga mesopotâmia...

...E assim disse Caim: “Não gosto de Fábio Jr. Prefiro o Nahim!!”





“Caim & Abel”


O que mais me comove nesta terra
É o sentimento fraternal igual ao mel
Da abelha infrutífera da serra –
Irmãos como Caim foi pra Abel!!

Cada um diz ter a bondade por batismo –
Em tese. Nada disso é posto em uso!
No mais, essa Bondade é um parafuso
Bem frouxo em cabeças sem juízo.

Se alguém precisa de ajuda, morre urrando,
Pois, aqui, se um se afoga, outro empurra
Sua cabeça pelo lago, disfarçando.

Finge-se tudo – relações, dor, amizades...
Eu não duvido que Caim levou uma surra
Quando fugiu pra se esconder nessa cidade!?!?


(F.N.A)

"Cabelo de Boneca"







...A Vaidade é um troço que nos faz persistir na arte da conquista - seja amorosa, seja por votos!








“Cabelo de Boneca”


Chegar à meia idade é uma vitoria
E chegar com tudo em cima, sem Viagra,
É quase um conto nórdico que a glória
Aos deuses do vigor reza e consagra.

Mas, quando o dissabor vira protótipo,
Não é qualquer narciso que acomoda
Ao vírus da velhice, enquanto a moda
Vomita o esplendor do bom fenótipo.

Um rico, cujo espírito bem pobre,
Tentou conter o avanço da careca
Com gastos que seu plano nunca cobre,

Ficou com um casco ruim de olhar no espelho –
O enxerto feito a pêlo de prexeca
Deu cara de pentelho a seu cabelo.


(F.N.A)

"Dica de Leiloeiro"



...Terra Arrasada, celeiro às moscas, fazendeiro maluco, reses com fome... E que fome!




“Dica de Leiloeiro”


Se a personalidade do cercado
For muito, muito safa, não se arrisca
Na compra de uma roça a atacado –
Fechada de porteira e sem avalista.

A sede da fazenda está passiva,
O gado já fugiu pro pasto alheio,
O mato se alastrou e o Incra veio
Taxá-la a devoluta e improdutiva.

Na cerca não tem cal, não tem demão;
Os trinta mil alqueires encolheram
Num lote que mal cabe o boi capão.

Melhor esperar comprar noutra contenda.
No baque do martelo, já escolheram
A data, a ordem, o lote, a firma e a venda.


(F.N.A)

"Toca Raul!"




...Tirando umas três músicas que prestam, o resto da produção dele é papo de Aleister Crowley calibrado com LSD...

...Mas, mesmo assim, ainda há quem insista no famoso bordão em qualquer boteco!






“Toca Raul!!”


É um mantra de tragédias num baú –
Não pode, num boteco, um violão
Alguém planger as cordas, vem o refrão:
“- Mais uma, meu irmão. Toca Raul!”

Na mesma hora, hippies sangue azul
Dão um grito que estremece o pau a pique
E a descoladazinha de boutique
Desfila a moda zen-taquaruçu;

Alguém entorna a pinga pela goela;
Um beck vai passando mão em mão
E um doido canta o verso à capela;

O gnomo toma um chá crista-de-galo
E, em cena de ciúme, a sapatão
Ameaça a namorada com um gargalo.


(F.N.A)

"Leão da Montanha"



...Enquanto lobisomem ladra (sic), caravana passa...





“Leão da Montanha”


A saída pela esquerda é a mais provável,
Mas não que a escapadela pra direita
Impeça que a aliança, bem suspeita,
Do lobo com o boi seja palpável.

Há tantos que atentam ser armação
A debandada em massa a verdes pastos.
No caso, o leão já foi bem casto
Em matéria de adultério e migração.

Alegam – o boi armou este terreiro
E, na hora em que mugir, voltam ao curral
O leão, o rato, o pato e o bom campeiro.

Duvido, pois o sal que há no vizinho
Tem iodo, é repartido e mais frugal,
Que o pasto aonde o boi come sozinho.


(F.N.A)

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

"Primeiro Decanato"




...Feliz Aniversário! Envelheço na cidade... (Ira!)

...Hoje, dia 25 de Janeiro, vislumbro-me com 36 anos bem vividos, ridos, doloridos, sentidos, sofridos, rendidos, persistidos, mas NUNCA desistidos!!!







“Primeiro Decanato”


Herdei de Tom Jobim somente a data
E de todos os carteiros brasileiros
Apenas a lembrança pelo cheiro
Que os contagia, se um cachorro ataca;

Não emulo a voz tesão de Alicia Keys,
Filhote de aquário que me inquieta;
Nem lambo a dentadura de boneca
Que minha vó esfregou no meu nariz.

Não sou de decanato algum, nem astro
Completa ascendência em minha casa,
Pois vivo de aluguel bom e barato.

Partilho, com São Paulo, a melancolia,
Igual um corpo jogado, ardendo em brasa,
De uma janela do Joelma ao fim do dia.


(F.N.A)

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

“Fleuma, Etiqueta & Divindade”








...Pomposidade e gala correm riscos de abalo. Numa só visita, pode ruir a monarquia!








“Fleuma, Etiqueta & Divindade”


O duque de York confirmou
Champagne e trufas brancas no menu
E o Cão dos Baskerville ira latir
Conforme a segurança o orientou;

A Corte em Devonshire irá armada
E a guarda do palácio, numa escolta,
Fará todo trajeto ida e volta
Da universidade ate a sacada

Da casa de verão, em Oxford,
Aonde entre afazeres matinais,
Relia a Common-law igual um lorde.

Tudinho bem ensaiado, mas notei –
O pai, que está por lá, disse aos jornais,
“Essa Ilha necessita ter um rei”.


(F.N.A)

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

"Sopa de Letrinhas"



...A caligrafia é ajeitada, mas faltaram adjetivos na singela desforra!!



“Sopa de letrinhas”


Um porco, que engordou e perdeu o fogo,
Não pôde mais chegar na bacurinha,
Como chegava quando jovem bobo
E tinha gás pra sanha da bichinha.

O porco, que era um burro conhecido
– Freguês promocional da baixa-estima –
Pirou, quando um cartaz que pôs em cima
Dos prédios acordou bem poluído.

Em letras garrafais escrito: "Frouxo!
Porquinho que não honra o próprio troço,
Não fode e inda tem aquilo roxo!!"

Na hora, o porco broxa, enfim, entendeu –
Se um dia já fudeu sem ter remorso
Foi porque o cú em jogo não era o seu.


(F.N.A)

"Folia de Reis"






...Tropeiros de todas as partes, bandeirolas e cortejos cantem a imortalidade da artrite no Semi-Deus Senil do Mau Gracejo!!







“Folia de Reis”


Reizado na campina assenta o oeste –
A casa anfitriã de um fazendeiro
Tem bolo, fubá, mingau... O cheiro
De estância mais formosa do agreste.

Alguém um violão sacou primeiro
E o dono – à gomalina de sua veste –
Desdobra que é o Rei do Formigueiro
E que ele irá morar com o Pai Celeste.

Ninguém nega a ascendência do Divino,
Que o velho vangloria-se, pois moram
Em suas terras desde pequeninos.

E, assim, segue a folia rumo ao céu –
Com pobres que, na vida, apenas oram
Pela santificação do coronel.


(F.N.A)

"Graciosa Spa Celeste"



...É consenso entre porras loucas, ricos bestas e caretas: foi a praia ideal!!




“Graciosa Spa Celeste”


Sinônimo de pinga e algazarra,
A praia da fazenda já foi PRAIA,
No tempo em que piranha era bem rara
E lambisgóia não qualquer lacraia.

Não era o show de areia com micose
Montado num açude putrefato,
Que fede a esgoto cru, merda de rato,
Num lago que fudeu a simbiose.

Por lá, o que era paz virou furdunço,
Na hora em que as palhetas do motor
Enterraram o paraíso e o rio juntos...

Bim ali, que após uma obra Onipotente,
Serviu de spa, na Terra, onde o senhor
Escolheu pra descansar de seu batente.


(F.N.A)

"Mola de Ratoeira"


...Está chegando a hora de se armar as ratoeiras... Só não vale botar queijo caro de isca...



“Mola de Ratoeira”


É tão bonito ver um sumo ignorante,
Tropel de bestas, rastro de mula campeira,
Fingir galope, enquanto manca até a porteira,
Porque é ano eleitoral em sua vazante -

Rio sem piaba mata a fome do elefante
E a correnteza é de afogar a tropa inteira –
Assim é o voto quando escapa a ribanceira
E acerta um burro bem letrado e arrogante.

Se todo gato conhecesse o mau cachorro
Só no fungado que o bicho dá ao quintal,
Não morreriam tantos deles sem socorro...

E se tivesse um eleitor consigo um gato
Não haveria tanto queijo ementhal
Em ratoeira que não mata nenhum rato.


(F.N.A)

"Sweet Gomorra"





...Acho que meu Free tem fumo paraguaio. Melhor mudar de marca ou parar... hoje.




“Sweet Gomorra”


Tu que esperas a aurora e o Messias,
Como um nazista a esperar a nação futura
Que Bulwer Lytton inventou, pois te segura...
- Não há inferno ou paraíso nos teus dias!

A Esperança já mordeu daquela fruta
Que fez Adão tapar a vergonha com uma rama.
Até a luz da Nova Era foi à gruta
Pra se apagar, temendo arder na própria chama.

Não há futuro adiante em nosso mangue –
Em alguns dias, os seis bilhões já serão tantos
Que irão viver de devorar o nosso sangue.

Tu não esperes salvação! Melhor, não corra!
Aguarde o mundo ir se explodindo pelos cantos
Reencenando os doces dias de Gomorra.


(F.N.A)

"Firmino, Cão de Guarda"








...Na condição de vassalo e escravo ideal, prefiro os cães... como este!








“Firmino, Cão de Guarda”


De pobre alegre, o pária é um capacho,
Que as costas empenhou quando prefeito.
No dia em que deixou de ser eleito,
Voltou ao quarto escuro do esculacho.

Seguir, beneditino, seu preceito
– Escravo bem feitor do clã mais baixo –
No mantra que entoa cabisbaixo
A bordo duma jaula que é seu leito.

No dia em que adoece à fina mágoa,
Tem febre e a copeira nem o visita
Pra, ao menos, lhe levar um copo d´água.

Mas, quando sara a tosse, o pobre cão
Capricha a dar latidos na guarita
Cuidando em não acordar o seu patrão.


(F.N.A)

"Uilsson Compromilsson"





...Quem acha que um velho tem palavra, somente por causa da idade, nem desconfia que até mesmo os bandidos, um dia, também vão morar em asilos, como o velho Duas Caras foi para o Asilo Arkham...






“Uilsson Compromilsson”


Se alguém dizer-te não ser de promessa,
Mas homem de palavra e compromisso,
Toma tuas tralhas e saia depressa,
Pois vão te entortar feito um caniço.

O mundo está girando, enquanto somem
Os velhos que, um dia, foram honrados.
- Maldito seja o homem abobalhado
Que acreditar na boca de outro homem!!

E seja mais punido e castigado
O mouco que sua vida escravizou
Na construção utópica de um fardo!!

E mais maldito seja e morra à míngua
O diabo que aos justos enganou
Com a lança envenenada de sua língua!!


(F.N.A)

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

"Exterminador Sem Futuro"







...Mister Clorofila surta, sangue verde nas ramas, quando – na falta de algo útil pra se falar – vem com a solução pra nossos problemas.





“Exterminador Sem Futuro”


No embalo de uma longa conferência,
Um jovem edil (num lance deslumbrado)
Consegue dois minutos no atacado
Pra um papo com famosa excelência,

Que já atuou num mundo conturbado
De filmes musculosos na aparência –
Já foi robô e ate bárbaro zangado.
Ele, decerto, poderia dar sequência,

Conforme solicita-lhe o escrutínio:
- Mister Universo, bem que poderias
Salvar nosso cercado do extermínio?!

Ate, meu jovem cabaço, eu poderia,
Se antes já não houvessem exterminado
Teu chão de oligarquia em oligarquia.


(F.N.A)

"A Prece dos Ateus"


...Nada consegue ser mais estúpido do que um ateu. Pior se ele for hipócrita!



“A Prece dos ateus”


Sr. Moustache, o mais famoso Men in Black,
Detesta Deus, Igreja e Apóstolos fiéis.
Entende a crença em Jesus igual um viés –
Um misto de Zé do Caixão e Roberta Flack.

O olhar ateu sobre a pobreza com que lida
Lhe imuniza o coração quando explora
Toda a miséria com que cospe mundo afora
De um coitado por um prato de comida.

Mas o descrente é pai e hipócrita, também –
Pra disfarçar toda a frieza que lhe azeda,
Levou sua turma a passear em Jerusalém.

Lá, agradeceu o que do Estado recebeu
Rezando a prece dos escravos da moeda:
- Graças a Deus, Oh, meu Jesus!, que sou ateu!


(F.N.A)

"Linha de Montagem"







...Vai entrar, junto com a New Coke, para a lista dos empreendimentos de jerico do século!






“Linha de Montagem”


Pois lá do fundo do quintal, a fabriqueta
Não tinha nada em sua linha de montagem –
Mais parecia ser alguma aparelhagem
Lá de Belém, do que uma empresa bem direita.

Se produzia, errava o selo da embalagem
E o que rendia destinava-se à maleta,
Que do laranja ia ao chefão de motoneta
E a coisa andava num esquema de brodagem.

Mas a firminha, enfim, livrou-se da falência
E, hoje, tem na ideologia que vomita
Um arsenal de peças de sobresalência:

São dois autômatos que soldam o rôto bucho
De favelados eleitores com marmita
Ganhando votos pro patrão nesse refluxo.


(F.N.A)

"Psicologia Aplicada"






...Bater em filho, violentamente, não pode. Mas em cabra sem vergonha, tá liberado!







“Psicologia Aplicada”


Você que entrou pra ler soneto bem canalha,
Pergunte a si que atitude tomaria
Se ao chegar em casa, qualquer dia,
Topasse um mala escalando tua calha?

Quiça! Quem sabe um flagrante num sacana
Pego riscando teu fuscão financiado?
Ou, até mesmo, encontrar um negão pelado
Carcando a digníssima em tua cama?

Já sei o que tu pensastes: uma doce bifa -
Uma taca bem fudida e caprichada
De se esfolar a mão com uma ripa.

Hoje, acordei – sangue minando na ferida –
Louco pra dar uma taca em um camarada
Que já fez tanto mal pra minha vida!


(F.N.A)

"Sabão em Barra"








Le plus grand carré de mes douleurs est ici!









“Sabão em Barra”


Espiação que a inquisição deu aos julgados
Com a lisura de quem compra tribunal –
É dessa forma que espiaram o carnaval
Que minha vida conquistou sambando errado.

Ando nas ruas e mil olhares de revide
Furam meu baço com o fraquíssimo punhal
E os portadores desse câncer amoral
São mais bandidos que usuários em Weeds.

Sentem o desejo do sadismo quando queimam
Os degredados da província troglodita
Com a incompetência natural dos que não teimam.

As suas taras são piores, mas a minha
Lhes agonia como um gringo que acredita
Que comunista faz sabão de criancinha.


(F.N.A)

"Patinete de Saci"







...Até que o mega-investidor gostaria de dar ao turco o que ele merece, mas algo preso lhe impede...







“Patinete de Saci”


Um esquadro enferrujado alguém jateia
E lima com areia a corrosão
E o número de série, com um formão,
Um china raspa do chassi... na veia.

Seis metros encapados de fio velho
Completam o oriental curto-circuito,
Que agregam o componente em estado bruto
De um patinete ruim que não aconselho.

Da fábrica caseira, a garantia:
A bicha corre muito na ladeira...
Somente quando desce sem energia.

Mediante tanto engodo maquinário,
Um mouco deu, de novo, sua carteira
Pra um turco lhe fazer de grande otário!


(F.N.A)

"Voto de Pobreza"








...Não desejo a ninguém o que será lido, mas o mundo é uma surpresa... Dá cada volta!!







“Voto de Pobreza”


Quando minha filha, enfim, nasceu fiz a promessa
De que em vida não teria o sofrimento
De em sua mesa lhe faltar qualquer sustento
E viveria sua infância sem ter pressa.

Hoje, dez anos completados, vem a vida
Pra torturar minha palavra empenhada -
Um pai suporta em sua barriga não ter nada,
Mas não suporta ver os filhos sem comida.

Sinto a vontade de cortar a própria carne,
Que me ofertar ao panteão de meretrizes
Que em meu pescoço penduraram falso alarme.

Matai-me todos os que tomaram-me a empecilho,
Mas não se assustem com mundo, meus juízes –
Ele dá voltas e também tendes lindos filhos.


(F.N.A)

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

"A União das Cracas"


...Não esperei crianças e mulheres por primeiro. Pulei da prancha...



“A União das Cracas”


Quem não conhece a força dos moluscos,
Precisa dar uma volta num estaleiro
E observar a limpeza de um cruzeiro,
De um prejuízo arcado de alto custo.

A craca é a invenção da natureza,
Que alerta do almirante ao marujo,
Que até em espaço inóspito e bem sujo,
O homem não está livre da proeza

De bichos como estes que, unidos,
Corroem, em sua colônia, um calado
Com dentes de furar aço fundido.

Conheço um barco cheio de avarias
Das cracas que carrega a todo lado.
Pois vai afundar, de novo, qualquer dia.


(F.N.A)

"Escuderia Pangaré"


...Numa curva, fui atropelado, escancarado e morto. Hoje, sou este lindo zumbi de olhos verdes que vos escreve...



“Escuderia Pangaré”


Numa corrida de trator, na agrovila,
Um capiau inscreveu, no laço, sua carroça.
Tinha tração de pangaré – o Ruin Montila:
O pangaré mais engembrado lá da roça.

De graça, os velhos fazendeiros deram pilha,
Sentindo muita comichão naquela troça,
Pois só um doido enfrente nu uma novilha,
Dirá um velho ford Ka mediante um corsa...

Enfim, na estória dessa prova deu o esperado –
Logo na curva, o pangaré parou na esteira
E virou charque, pois morreu atropelado.

Igual é em política pra quem briga por terceiros –
Se não correr com um utilitário de primeira,
Morre largado, sem amigo e sem dinheiro.


(F.N.A)

"Vegeta, Canibal!"





...Gostaria de poder mudar o amoral que conheci, mas ele será sempre assim – canibal por muitos anos...









“Vegeta, Canibal!”


Não há quem mude num animal a sua essência:
O escorpião – não se lhe muda a agressão;
O idiota – o seu retardo é obrigação;
O amoral – a crueldade é sua decência.

Um cidadão (e me contaram há alguns anos)
Se aprazia em destilar sua maldade
Com vilania chancelada na cidade,
Pois a família era composta por tiranos.

Pois, ele, agora – apeado do bondage –
Vende a imagem de um homem tão normal,
Que até lhe compra quem não curte sacanagem.

Ninguém retira quem é mau do que é profano!
Ou acreditas que alguém faz o Canibal
Deixar a carne pra ser vegetariano?


(F.N.A)

"A Terceira Bota"




...Não desespere, meu querido João Sem Bota!

...Quando nos falta uma botina, alguém arruma uma sandália pra sentar na nossa porta... dos fundos!







“A Terceira Bota”


Latex que se escorre na madeira,
Num cafundó fechado, mata adentro,
É o caldo que a Amazônia dá sustento
Ao velho ordenhador de seringueira.

Produto que se agrega na esteira
Da sola de botina sete léguas,
Que a fábrica reforça sem dar trégua –
Vulcanabilidade de primeira.

Três botas desse naipe são vendidas
Em carga especial a puxa-sacos,
Pra uso em algum momento de suas vidas.

A normativa indica - e não confunda!:
Duas botas são pra uso igual sapato
E a outra pra levar chute na bunda.


(F.N.A)

"A Bagaceira"




...No bagaço se encontram fibras para a correta harmonia das tripas...




“A Bagaceira”


Em gomos, recortado a serra fita
E durante oito anos bem chupado
Pela boca desdentada de um safado,
Descobri minha função de sibarita.

Espremer o sumo espesso do meu sangue,
No banco vitamínico do estado
Falido de um quinhão de deserdados
Sedentos por laranja em sua gangue.

Na vitamina C do pouco furto,
Laranja, que é da terra, é curandeira
Apenas de arruinado com escorbuto.

Eu muito fui espremido no cansaço
E, hoje, o que ficou pela peneira
Dessa laranja é meu pior bagaço.


(F.N.A)

"Tripa de Gato"






...O curso de Jornalismo não ensina, mas a curiosidade é metade do diploma!!






“Tripa de Gato”


Não sabe-se de Hitler o ocorrido –
Suícidio ou armação dos aliados?
Ah, toda conspiração é a prurido
Que habita o coração dos indomados.

Por que sumiu um dia Agatha Christie?
Por que alguém adotou o ocultismo
Da Irmandade Vril junto ao nazismo?
Alguém já perguntou se Deus existe?

No mundo normalíssimo, ninguém
Descobre a teoria que afugenta
O faro que exige um cheiro além.

Nem todo jornalista tem o olfato,
Capaz de abusar da ferramenta
Que estripou e que matou o gato.


(F.N.A)

"Anjo da Guarda"


...Se eu pudesse não dormir, seria bom. Mas alguém precisa conversar com aqueles que nos procuram...


“Anjo da Guarda”


Mais uma vez, uma noite mal dormida.
Com todos os fantasmas do passado
Rangendo meus segredos enterrados
Ao pé da minha orelha corroída.

A cama se encharca. Eu suo muito
E o ácido à boca vem em refluxo.
Desperto – faraó no hangar de Luxor –
Com almas que pousaram no intuito

De atar suas mãos às minhas mãos finadas
E andar cumprimentando antepassados,
Que eu escondi no vão da velha escada.

Bem mais eu corra a léguas do passado,
Na hora de dormir, almas cansadas
Me esperam pra sonhar junto ao meu lado.


(F.N.A)