quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

"A Sangue Frio"






...Tá bom, tá bom... O ano deve ter sido mais difícil pro sujeito aí da foto, mas que venha logo 2010, pra acabar com essa sacanagem toda...







“A Sangue Frio”


O ano passa rápido ou dormente,
Em cargas diferentes de estágio –
Anda conforme esteja o Amor presente
Ou esquecido vírus de contágio.

Ninguém sente saudade em estar na cama
Entrevado numa ala de hospital;
Tampouco quer o fim do vendaval
Quem deita pelo catre com quem ama.

São uns querendo o fim; outros, nem tanto
De um ano céu e inferno a todo tempo –
Lago vindouro, mas também quebranto.

Se alguém me perguntasse que final prefiro
Aos dias desse enorme contratempo?
Já teria matado este ano a tiro.


(F.N.A)

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

"Turfe em Asunción"







...Fui num turfe, em Asunción, capital do Paraguai, onde eu vi as paraguaias sorridentes a bailar...








“Turfe em Asunción”


No hipódromo, as apostas vão pro clã:
O baio, o pangaré, o quarto-de-milha
E o velho paraguaio são a quadrilha
De raças na corrida do Gram Slam.

Recebem uma ração de leite e alfafa
Das mãos de investidores preocupados.
E, na raia de largada, há um afobado
Rasgando a cor do chão com sua pata.

A corrida começou e na dianteira
Desponta o tal cavalo paraguaio,
Que segue sua linhagem de terceira.

Dispara trinta jardas, como um raio,
Mas nem avista as cores da bandeira...
Morreu sem ver chegar o fim do páreo.


(F.N.A)

"The Beatles"





...Beatle Rola Bosta do Cerrado, já rolei muita merda morro acima...





“The Beatles”


Num fardo que a ladeira impede a luta,
Seguimos, cada um, rolando bosta –
Alguns com bem mais merda pela costa;
Alguns com pouco peso na labuta.

Pois segue à gravidade o enfrentamento,
Que o animal desprende em sua jornada –
O fardo, quando escapa, rola a escada
E tudo recomeça a passo lento.

Besouros do Cerrado, a nossa carga
É bem vitaminada a cada ano,
Em pacotes que flutuam sem descarga.

Quem tem a bunda gorda a outro imputa
A merda pesadíssima do ânus
De algum velho cagão filha-da-puta.


(F.N.A)

"Quitute de Vampiro"


....Conde Vlad ainda habita entre nós – chupando sangues, se disfarçando, fugindo de holofotes...



“Quitute de Vampiro”


Como um Atlas sustentando um globo alheio
Às costas, uma hérnia me aborrece –
É o fruto de quem se abaixou na prece
Demais pondo a amostrar o rego inteiro.

Nem conto com meu fígado, decerto,
Que a socos necrosou na luta armada,
Igual Prometeu gritou a levar bicada
Dos corvos mais famintos do deserto.

Depois de tanta conta inflacionada
Na caixa de remédios da farmácia,
A dose, que, hoje, tomo, é controlada:

Do sangue que doei não vi virtude
À boca do Vampiro em eficácia...
Não quero ser imortal, quero saúde!


(F.N.A)

"Carniceiro 21"






...Da décima quinta linhagem de Jack, The Ripper, esse açougueiro sabe manipular instrumentos de corte...








“Carniceiro 21”


Na caixa de apetrechos, Seu Doutor
Compacta instrumentos de incisão –
Martelo pra bater em trepanação
E garrote em sangramento exterior.

Um doce arquiteto em mialgia,
Que estrala sua maldade com um florete
Nos mouros da batalha do Albacete
E estende suas mãos com uma polia.

Tem sanha a estripar até virar charque,
Somente quem o lembra do limite –
Que em vida não será um bom caráter.

Asséptico, o canalha já comprou
Um cutelo de açougue em loja chique
Pra desossar os amigos que matou.


(F.N.A)

“O Túmulo de Stanislavski”





...Às vezes, dá vontade de rir na cara de uns palhaços tamanha a conversa fiada...






“O Túmulo de Stanislavski”


Conhece-se um artista genial,
Primoso marginal do submundo,
Se ao fundo de seu ato teatral,
A pose visceral de um porco imundo

Sumir em seus trejeitos de ator
E lhe cingir uma falsa identidade,
Como um ladrão, que pra fugir da grade,
Converte-se, na cela, num pastor.

Há dias, um ator (que nem lembra esse)
Cantou pra que eu ouvisse sua mentira
E achasse-lhe a Verdade que não vê-se.

Mas, por lhe acompanhar a vida inteira,
Nem a arte de Stanislavski o redimira.
Ele é só um bufão em fim de carreira.


(F.N.A)

“Bafana, Bafana”


...Botou a mão em time vencedor e transformou tudo em lixo...

...Comida ideal pra quem gosta de comer merda...




“Bafana, Bafana”


O saldo negativo ao campeonato
Da máquina política do arranjo,
Pertence, com louvor, a um pé de anjo
Caído e há tantos anos sem mandato.

Jogadas geniais encena em campo,
Mas como um grande clube brasileiro,
Desmonta o plantel que, em um ano inteiro,
Lhe deu moral com taças no seu trampo.

Descarta funcionários por terceiros,
Cedendo a puxa-saco a parte tática,
Pra se livrar da culpa e dos parceiros.

E mais cego que um feroz rinoceronte,
Na improbabilidade matemática,
Convoca mascarados em seu front.


(F.N.A)

sábado, 26 de dezembro de 2009

“A Raposa e a Cegonha"






...Na clássica estória da raposa e da cegonha, ninguém come nada, em meio às intenções mais malévolas do mundo.






“A Raposa e a Cegonha"


Cegonha que convida a raposa,
Raposa que dá réplica à cegonha –
Jantar regrado a sangue com pamonha
E peroba com missô de qualquer coisa.

A ordem das entradas não importa,
Se estão na provençal da chassagnette
Ou degustando El Buli de charrete,
Se quer saber é o recheio dessa torta.

Porque na escala anfitriã entre inimigos,
Há quem não coma por suspeita na receita
De carne assada com sorbet de creme e figos.

Desse bufet de gentileza não me agrado,
Pois em banquete de aparência a etiqueta
Sugere um escarro no café do convidado.


(F.N.A)

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

"DICA HIPPIE DA SEMANA - I"


Momento natalino, peru recheado, Jesus Ressuscitado, Panetones do Arruda, O saco do bom velhinho estourando com tantas meias de presente...


Mas, e Judas? Onde o cara entra nessa história? Será que só no sábado de Aleluia?

Se não fosse esse bicho, os acontecimentos com Cristo não teriam tomado o rumo que tomaram...

A dica de hoje é de um filme muito especial e terceiro colocado de minha listinha inútil Top 10 Movies.

É pra se ouvir, sentado numa poltrona, no Monte das Oliveiras, contemplando Jerusalém, como fiz dia desses.

Não sei por onde começar a falar dessa obra-prima que é o filme Jesus Cristo Superstar - a ópera hippie escrita por Andrew Lloyd Webber e Tim Rice.

O filme de 1973, que gira todo em torno da visão de Judas sobre o Nazareno, começa magnânimo com o apóstolo cantando, em pleno deserto, o hino "Heaven On Their Minds".

A letra é um aviso a um Cristo anunciado, que Judas queria que fosse um revolucionário, mas não um pacifista.

Digo que a figura controversa de Judas vem sendo aniquilada nos últimos 2009 anos, mas ninguém dimensiona o que se passou na cabeça do zelote, que queria mais do que tudo ver liberto os hebreus do jugo romano.

Enfim, nem a devolução das 30 moedas que Judas retornou ao sinédrio e que foram reutilizadas pelos sacerdotes para comprar o Campo de Sangue impactam tão forte quanto a mensagem de alerta que "Heaven On Their Minds" tem sobre a cultura do início dos anos 70.

"Listen Jesus, do you care for your race?
Don't you see we must keep in our place?
We are occupied.
Have you forgotten how put down we are?"



Simplesmente, Foda!!!

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

"Guardião da Floresta"




...Mister Clorofila, chame, também, Pã para nos defender!!!




“Guardião da Floresta”


Não entendo a glória em sonhos que a película
Inunda no ocioso mundo alienado
De alguns filhos nutridos do Cercado,
Que crescem retirando suas cutículas.

Igual menino criado em apartamento -
Resfria quando sente poça d´água.
Daí, quando é adulto nem enxágua
O rastro da cueca a peido e vento.

Entende Último Herói Americano,
Num misto troglodita com Andróide,
Que salvará a Amazônia inda este ano.

Consegue até engajo em argumentar,
Que a todos – de usineiro a humanóide –
Fará igual em Comando Pra Matar!


(F.N.A)

"Nov9"


...Enquanto cresces, nem imaginas como já sinto saudade de você assim...


“Nov9”

(Para meu bebê)


Nem bem uma década vivida
Esse anjo completou e me faz tanto
Sorrir a enxugar seu níveo pranto –
Já faz meu coração de sua comida.

Princesa... nem chegou aos dez aninhos
E tudo que sei dela, me envaidece.
Enfim, ela é o princípio da minha prece...
Pelúcia em que apanho meus carinhos.

Segredo em seu primeiro relicário,
O mundo se escova em seu pente
Nos sonhos com que pinta seu aquário...

É o céu da independência a se tecer.
Tão jovem, diz que é pré-adolescente...
Pra mim sempre será o meu bebê.

(F.N.A)

“Piaba da Contra-Reforma”



...Quando se espera que, no cesto, alguém se salve... Pronto – a laranja podre estraga a prole!!



“Piaba da Contra-Reforma”


“Os filósofos... com uma das mãos tentaram abalar o trono e com a outra quiseram derrubar os altares” – (Seguier - 1770).


Criado num aquário entre cações,
Traíras, baiacus e jacarés,
A jovem piabinha herdou os culhões,
Que os pais lhe arranjaram nas marés –

Do tempo em que nadavam em mar aberto
E vida de cigano defendiam.
Mas, posto a captura, olharam perto
Que a liberdade assusta os que vadiam.

E vedando as cernanias do aquário,
Fundaram nova Atlântida e o filho
Tocaram do pirão totalitário...

Formar-se em tubarão no exterior,
Pra teia alimentar manter no trilho,
Com seu franco diploma de Doutor.


(F.N.A)

"Frigo-União"


...Vítimas, sim. Mas, pelo menos, com bastante proteína nessa salmonela!!



“Frigo-União”


No galinheiro da fazenda, a tratativa
Do jovem fazendeiro a tanto galo
É enforcar, pra só depois cortá-los,
Dando às galinhas viuvez passiva.

Passiva, porque existem outros falos,
Que podem acasalar gerando o ovo,
Que a fome dos civis, lá em Kosovo,
Capaz fosse engolida no gargalo.

Eu já fui garnizé do pau pequeno,
Que a conta da postagem ia aferindo,
Galando ovos de granja pelo feno...

Cresci e me depenaram até o furico.
E, hoje, sou só um número infindo
Das carnes que abateu esse frigorífico.


(F.N.A)

"Estágio Terminal"


...Pra quem leva pé na bunda e precisa alimentar filhos e dependentes, cabe a frase única:

- Dá logo essa mão aqui, meu chefinho querido!!!

Splash!!! Chuac!!! Kiss!!!




“Estágio Terminal”


Eu lembro quando Franco deu um peido
E a ordem da Igreja foi ao Calvário.
Bendito seja o pão totalitário,
Que a Fé sovou com sangue, suor e medo.

Japão feudal e a arte do bushido –
A honra como hábito primário,
Shogun, em seu quimono sanguinário,
Mandava samurai cortar o dedo.

Nos anos de sangria, a vaca magra
Não pasta mais nos campos do Castelo –
Seu mocotó cozinha em meio à baba.

Só come em tempos tão totalitários,
Quem busca seu farelo ao pé da mesa,
Beijando a gorda mão do donatário.


(F.N.A)

"A Virtude de Jó"


...Se a Virtude da Paciência sempre me falta, pelo menos o sonho que me alimenta de um mundo mais justo não morre.

...A todos, um Feliz Natal e Um Próspero Ano Novo repleto de realizações, felicidades e saúde...




"A Virtude de Jó"


(" Antes eu Te conhecia de ouvir falar, mas agora meus olhos Te veem".) - Jó, 42-5


Um dia quando todos forem um
E os homens desnudados do egoismo,
É nesse dia que o esboço do incomum
Jardim Celeste enfeitará o nosso abismo.

Pois tendo o homem apreço às lágrimas cinzentas,
Ranger de dentes, choro exáspero e fingido,
É que a certeza desse dia faz sentido -
A luz do Pai o olhar dos monstros afugenta!

Até esse dia, há uma jornada de espera -
Veja o Senhor, por entre os cravos em suas mãos,
Rogou ao céu e lá se vão mil primaveras...

Talvez, minha filha herde o futuro que esperei -
A Paz na Terra, a Unidade entre os Irmãos
E Jesus Cristo consagrado Único Rei.


(F.N.A)

sábado, 19 de dezembro de 2009

“Amigo Apóstolo”





...Quem não tem cão, caça com rifle...

...Perdido numa mata com amigo assim, melhor ser brother da onça...







“Amigo Apóstolo”


Nem sonha o carpinteiro ao serrote
O que um colega seu passou um dia –
Chamava Cristo e multidões reunia
E, por amigo, tinha um judeu zelote.

E lhe era em foro íntimo um irmão
Com a sapiência que não tinham os pescadores;
E Judas tomava da amizade a intenção
De motivá-lo à expulsão dos invasores.

Jesus tornou, de seu sermão, arma na Terra;
E o pacifismo fez sangrar uma amizade –
Cristo traído, morto Juda ao pé da serra.

Hoje, pensando em tanta lágrima fingida,
Eu mesmo nem mais lembro a quantidade
Dos Judas que passaram em minha vida.


(F.N.A)

"A Governanta"


...O amor não correspondido gera aberrações sazonais cheinhas de cultura para dar.

...Quem já foi vítima das maldades da Governanta sabe que ela é só uma psicopata sem carinho...





“A Governanta”


À boda alheia rege o humor da Governanta
O seu desejo mórbido de transferência –
Seria dela o direito à nuncupcência
E não da esposa o rude Amor do sacripanta.

Por tantos anos de cuidados não notados,
Por suportar humilhação e rabugice
É que em medusa foi tornando-se Alice –
Cobra espelhada da moral de seu amado.

Harpia voraz que não recorda da alcova
O aconchego à parte fálica dum homem,
Guarda o recalque para toda contra-prova.

E assim curtindo seu flagelo conivente,
A Governanta joga fora, antes que tomem,
A chave que lhe livraria da corrente.


(F.N.A)

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

DICA INDIE DA SEMANA - II

Ok.

O Sonzinho de hoje é da turma dinamarquesa do MEW, uma das minhas bandas preferidas, atualmente.

Aproveitando que o pau está torando lá em Copenhague e que nosso representante já apareceu até no Jornal Nacional, esse som indie está aqui pra lembrar que aquele pedacinho de terra fria é muito mais do que apenas a Dinamáquina da Copa de 86.

O nome da porrada de hoje é "Am I Wry? No!" e está no terceiro disco da turma - "Frengers" - gravado em 2003.

Por sinal, desse disco, todas as faixas são clássicas!

Dica: o lance dos vagalumes, no clip, é muito massa! Ah se toda banda ousasse assim...


"Alô, Alô, Terezinha!"



...Comunicador ou Jornalista? Piloto ou Aviador? Prático ou Doutor? Pilantra ou Engravatado? Político ou Cassado?

...Me afeiçôo à tese de que bandido honesto é aquele que não recebeu diploma de mercenário.






“Alô, Alô, Terezinha!”


Quem não se comunica, se estrumbica;
Quem não sabe gritar, perde a mamata;
Quem faz do jornalismo uma botica
Pode ingerir veneno pra barata;

A ordem semiótica à luz do estudo
Só podem absorvê-la os catedráticos,
Porque não pode, à luz dos ovos pré-socráticos,
Babar a augusta imprensa sem canudo.

Eu COMUNICO e à lei do sindicato,
Sou um copião que não terá a soma
De herdar a pena de Líbero e Torquato.

Como qualquer Barão compra um periodista,
Que vende editoria à força do diploma,
Me sinto mais formado que muito jornalista.

(F.N.A)

"No Ônibus de Lavoisier"


...Se um anuncia, o outro grita morto de mágoas e de ciúmes. A onda agora é acusar de plágio...



“No Ônibus de Lavoisier”


“Na natureza é lei, nada se cria
E nem se perde, tudo se transforma!”
Citou Lavoisier sem entender a agonia
Que acomete velhos da contra-reforma.

O novo não lhe agrada em jeito e norma,
Bem menos se alguém da estrebaria
Montar em seu cavalo pela pradaria,
Como um corcel azul excelso em forma.

Pois veja só que o anúncio de uma caravana,
Já foi suficiente pra acender a richa
Entre o novo leão e o ancião da savana.

Não se sabe o autor do polêmico comboio,
Mas sabe-se que nenhum apostaria a ficha
Se dessa jornada não lhes viesse apoio.


(F.N.A)

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

"Sessão de Cinema"

...Sessões de Cinema forçadas, como Laranja Mecânica, parecem películas da Riefenstahl à nação alemã...



“Sessão de Cinema”

Um filme de meus anos de cabaço,
Que vi, quando era tímida lombriga,
Mudou o vandalismo de palhaço
No ângulo obtuso de minha vida.

O marginal intratável e o deliquente
Das gangues de uma era Messiânica
Chapavam em fotogramas indescentes –
Laranja lobotômica Mecânica...

No forte do Castelo, há um cinema
E, nele, Macdowell não é idólatra
Da pústula lavagem cerebral.

Por lá, só passa um filme afeito a um tema:
A vida inflacionada desse ególatra –
Eterno criador do inferno astral.


(F.N.A)

"Curtume"


...Peças na máquina de moer, couros curtidos ao sabor do vento...

...Assim são os jornalistas – agradando ou não, serão peças raras estampando paredes de salas...



“Curtume”

Pensando em Jean Paul Sartre, eu vejo agora
Que a cura pra esse meu existencialismo
Reside na ceroula do niilismo
Que Nietzsche usava quando ia à forra.

Magentas tardes passo matizando
A angústia cotidiana do vizinho,
Que bale igual uma ovelha soluçando
Se morde, num arbusto, o rol de espinho.

O ócio estende a mente – é droga rara
Que o mapa pineal alegre estica
Na pele do animal: uma roupa cara.

Eu uso esse vison que está no cesto,
Mas não igual vai-e-vem couro de pica...
Prefiro ser patrão a usar cabresto!

(F.N.A)

"O Cirurgião do Microcosmos"


...A cadeia da vida estende-se sob o olhar cirúrgico de Deus: espécies cultivadas sob o olhar atento do divino...

...A Terra respira sob seus cuidados como qualquer partícula de mundos que ele cuida ainda...




“O Cirurgião do Microcosmos”


A perfeição de Deus está no átomo
E em toda a sua microengenharia –
Vasos contritos como a alvenaria
Que sustentou a igreja de Pátmos.

Todo poder de Deus é a canção que chora,
Onda sonora de ar quente no pulmão,
E a gravidade morta à voz canora
Que estala surda ao peito do pavão.

O universo imenso é a microbiologia –
Porque até num veio às costas do pinheiro
Pode habitar um cosmo em inata letargia.

Deus montou-nos homens em seu microscópio,
Mas tudo o que notamos desse engenheiro
É o grito do trovão em seu estetoscópio.


(F.N.A)

"Cabeça de Bagre"







...Conviver no lago das virtudes é também saber que do fundo dos leitos pode vir o ataque...








“Cabeça de Bagre”


Eu nunca conheci alguém mais liso
Que o gracioso bagre do cerrado –
Desliza à costa desse mar gelado,
Nadando, vaidosamente, indeciso.

Aplica a punição de dracon mais severa
A pobres, indefesos e a honestos,
Mas bem suprime seu rigor de fera
A quem o bajula ou se afeiçoa a restos.

Conforme à piracema estenda-se defeso
Ou quem lhe seja útil em jogo de interesse,
O bagre se anima e sai andando teso...

Promete a própria bunda como garantia.
Me tomo de cuidado com um bagre desses,
Que ataca e se esconde, enquanto dá "Bom Dia!"


(F.N.A)

"O Senhor das Moscas"






...Como Jeff Goldblum deglutindo a carne, o ácido da Senhor das Moscas liquefaz sonhos e até companheiros... No fim, tudo lhe serve de comida!!!







“O Senhor das Moscas”


Afeito às carnes moles e liquefeitas,
Que ardem sem neurônio ou cerebelo
E que fundem a oleosidade do cabelo
À subserviência satisfeita,

O velho adestrador suplanta a fera
E brada e vocifera azul de ódio,
Pois quer a lhe sorrir a luz do pódio
Aos anos de ostracismo e de espera.

Mas fede sua calça a urina do espojo
E a raiva entre os dentes lhe confere a baba,
Que lhe completa a fome e o seu ar de nojo;

Mas, resta-lhe, além das moscas de verão,
Os corpos charqueados que ele expõe na taba
À espera de sua má deglutição.


(F.N.A)

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

"DICA INDIE DA SEMANA"

A partir de agora, para adoçar as tardes mamelucas de nossa Fazenda, esta bagaça indicará uma sugestão de Sonzinho Indie Music todas quintas-feiras.

Enfim, o "The Temper Trap" é mais uma das bandas revelações do cenário indie music. Com ótimo debut álbum, trouxeram o single - "Sweet Disposition" que já estourou por lá, mas não por aqui.

Ouçam, beibes! Aos nostálgicos e aos EMOS, melhor não ouvir!



"Meu Querido Inimigo"




...Nunca entendo a ordem de simpatias que se distribuem entre os amigos de hoje àqueles que serão os futuros inimigos de amanhã...



“Meu Querido Inimigo”


Quem te foi inimigo há longos dias,
Virá a ser teu amigo sem remorsos.
Política no cercado é mesmo um troço –
Afaga, mas também comete azias

Em quem chupa o canudo deste poço.
Eu mesmo sei de um mouco arredio
Capaz de enfiar peido num fio,
Que foi o bambambam desse caroço.

Depois de meu olhar antropológico
À luz de Levi Strauss e de Hesíodo
Na teogonia, enfim, hoje, sou lógico –

Aqui, vale o absurdo e a negação.
É a terra em que Baçal teceu apodos...
Política é mesmo coisa sem MOÇÃO!


(F.N.A)

“Taquaruçu Way of Life – II”






…Enfim, a serra é o que é – encanto, papo místico e tantra com cerveja. Mas eu prefiro o chá.





“Taquaruçu Way of Life – II”


O surdo limo morto da cascata
Envolve as pedras de uma alegoria;
Adiante o casarão fecha de dia
Pra de noite reunir hippie e barata;

Perfuma o vale a horta do Pavélio
E adiante outra botânica perfuma
O bafo do dragão que um doido fuma
Na vila bacurin de um índio velho;

A areia colorida abre a mandala,
Enquanto o mapa astral de um esotérico
Decora a linha cósmica da sala;

Taquara é essa energia que transcende –
Do pouso de um ET em campo esférico
À unha encravada do duende.


(F.N.A)

"A Vida Como Ela É..."



...No final das contas, o que passo se reflete naquilo que tenho herdado - Nenhuma surpresa! Nenhuma Comoção!




“A Vida Como Ela É...”


O arranjo social, diria Rodrigues,
É a manifestação que vale a surra –
Que a unanimidade é sempre burra
E trato de dizer-te, antes que ligues

A aposta que o chiqueiro faz de novo,
Naquilo que não é novo – é sempre velho!
Como a forca que é a doutrina do evangelho
Na nuca dos que negam este engodo.

A vida é o que é sem mais surpresas –
Um mouco sempre vota noutro mouco,
Ladrão é sempre afeito a gentilezas;

O adulo sempre entrega a esposa a outro
E bestas, como eu, em sua grandeza,
São fortes candidatas a levar soco.


(F.N.A)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

"Dia de Princesa"


...Nos morros do Rio, bandidos dormiram até mais tarde, nesta segunda-feira. Por conta disso, não foram registrados crimes na Cidade Maravilhosa... É que o Menguinho foi campeão!

Os Cidadãos de Bem agradecem.





“Dia de Princesa”


(Uma justíssima HOMENAGEM ao C.R.Flamengo)


Sagrado campeão aos quarenta e oito,
No Rio, registrou-se o esperado –
Flamengo campeão! Parou o Estado!
E nem venham me dizer que sou afoito!

Nas celas dos presídios estaduais,
Cantaram aleluia de mãos dadas
Mil presos que integram a frente armada
Que luta contra tropas federais;

Nas ruas, não se viu bala perdida;
Em Copa, nem sinal de arrastão,
Seqüestro ou atentados contra a vida.

O Mengo quando ganha é uma beleza –
Bandido tira férias da prisão
E tem, enfim, seu Dia de Princesa.


II


O narcotraficante pega os filhos
E ruma para o estádio de metrô;
O cambista, o aviãozinho e o fraudador
Também encerram o dia, em Castilho;

O tráfico no morro dá uma parada
E na boca encalham o pó, o fino e o crack;
Já as putas, em Ipanema, sentem o baque
E voltam para casa, descansadas.

O estuprador suspende a própria tara;
E o assaltante a banco vai ao caixa
Sacar dinheiro pra cair na farra...

O Rio respira em Paz de um vendaval –
Um dia em que o crime sofre baixa
Merece ser feriado nacional.


(F.N.A)

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

"A Balada de Herzog"






...No cercado, o jornalista quando forma-se, ganha dois diplomas – o de conclusão de curso e o de propriedade de jazigo certo em cemitério público... Mas, isso se a língua espichar demais...







“A Balada de Herzog”


...O tiro corta a noite mais que a bala
E os sons da ignorância e da incoerência
Avisam, a quem não presta reverência,
Que a casa da verdade habita a vala;

E o jornalista tome como prova
Que se rodar sua esteira igual um trator,
Que amassa cassadinhos sem temor,
Também pode habitar a mesma cova.

E fica aquela obra, em sua estrutura,
Repleta de caixões que estão à espera
Dos filhos que não agradam a ditadura.

E o ruim de se viver em metros cúbicos
São sete palmos parcos nesta terra
Propícia para cemitérios públicos.


(F.N.A)

"Adeus às Armas"








...Não sei o que é pior: o armistício ou a bunda do Aparício...








“Adeus às Armas”


A carabina tosca que me foi amiga
E o rastro de explosivo em minhas mãos
Deixaram a utilidade do zangão
Morrer sem o ferrão em tanta intriga.

Igual um atirador em escola yankee,
Que sai matando tantos inocentes,
Achei de me cerrar e trincar dentes
Sangrando ódio e pólvora num tanque.

Agora é adeus às armas, jacobinos;
Adeus aos dias mortos e imbecis;
Adeus ao general e seus meninos;

Soldado que não cava sua trincheira
Ou bebe sangue morno dos cantis
Ou volta enrolado na bandeira.


(F.N.A)

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

"Viagra de Jumento"



...Tem vagabundo que se presta a tudo: aquele que promete e aquele que aceita, iludidamente...

...Pelos pastos da fazenda, Viagra ainda nutre, em que dava carcadas até certo tempo, a esperança de uma nova ereção...






“Viagra de Jumento”


“Meu filho, do que posso e o que vislumbro
Daqui até às costas da Indonésia,
De tudo te darei... até as falésias
E a escarpa da Inglaterra, neste mundo,

Será, quando ganhar de novo o cetro,
Só teu, somente teu e de mais ninguém;
Quem sabe eu te abençoe com um harém
E a terra que Abrãao cedeu a Jetro...”

Um tolo que se ilude ou se alimenta
Com restos de promessa e alegoria
Engorda pelo pasto igual jumenta

Que leva, dia a dia, a grossa rola
Que senta-lhe o muar com a sodomia
De um velho que ainda mija na ceroula...


(F.N.A)

"O Círculo das Marionetes"



...Tem nego que se presta a abusar, demasiadamente, do intelecto de um sujeito. ..

...É fato: Pau de galinheiro só presta pra quem tem pés sujos.






“O Círculo das Marionetes “


O tempo é outro, assim diria Ruy Barbosa -
Hoje esta terra é o lar moderno dos bandidos,
Dos assaltantes, puxa-sacos e fingidos
E dos que choram porcentagem generosa.

O que afronta é um sujeito bem suspeito
Dizer sem tino - “o teu caráter me inspira
E é por isso que me cerco de sujeito,
Que à ilusão de meu castelo não conspira.”

O engraçado é que, na prática, o contrário
Do que ele prega, se vigora em suas ramas
E o bom caráter ele toma como otário;

Pois ele ama quem assalta a canivete,
Ou se amazia - concubina em sua cama -
E que o entretêm como tola marionete.


(F.N.A)

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

"Panetone de Arruda"






...Pão aos pobres! O dinheiro é para benefício...






"Panetone de Arruda"


No país, a gastronomia da prisão,
Onde serve-se marmita recheada
Com droga, celular e arma raspada,
Podia, no menu, não ser ração.

Arruda não se põe por precaução
Somente atrás da orelha. O tempo é outro –
É tempo de Natal e o nosso Porco
Não quer virar pernil em degustação –

Pretende, no Natal das criancinhas,
Forrar meia furada e dar ajuda
A tantos deserdados arrudinhas –

E quer roer, também, enquanto come
Seu naco batizado em pé de Arruda,
Pois rato também come panetone.


(F.N.A)

"Comida de Avião"


...Choro, ignorância, lamúria, estupidez, maus-tratos, humilhações e discurso de pobreza...

...Duro aguentar isso...




“Comida de Avião”


O grande pai de todos emenda o choro,
Se algum leitão, à casa, bate os dentes –
É que ele mesmo, de má parturiente,
Toma, por filho, ladrão e alega ter decoro.

Chora que anda liso e que lhe falta tudo,
Que nada é dono e nada lhe é propriedade,
Mas nega, (quando gasta) em dizer a verdade:
De onde vem o tutu? Sugado em qual canudo?

Tão pobre seguidor de Chico e Ave Maria,
Se diz um miserável roto a passar fome,
Tentando enganar, enquanto passa azia

Com o apupo da comida, em ano de eleição,
E assim Nonô Correa chora, enquanto come
A bordo de seu paupérrimo avião.


( F.N.A)

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

"Nam Myoho Rengue Kyo"







...A energia emana e rege o Universo ou o Universo rege a energia que emana??








“Nam Myoho Rengue Kyo”



O universo está ligado à tua alma
E tua alma à luz polar do vaga-lume
E essa cadeia natural, enfim, resume
Que somos todos energia em água calma.

Nos diz no Lótus, Sakyamuni, “o infinito
Estende mais compreensão que a matéria,
Porque transpõe em força máxima, no grito,
A explosão do Nam Myoho à alma etérea.

Energizar o próprio carma é impor a ordem,
De que o sopro das estrelas no esqueleto
Cria constelações de astros quando pode;

E essa força em Nitiren está criada,
Pois o universo é a pedra fina do amuleto
Que se assenta em nossa voz, Torre Dourada.


(F.N.A)

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

"Radiografia de um Alcázar"


"Todos amam o poder, mesmo que não saibam o que fazer com ele."

(Benjamin Disraeli)




"Radiografia de um Alcázar"



I


“O Fosso”


Transpor o imenso fosso em sua distância
Levou mais que mil anos de ameaça,
E foi fugindo, como um cão ao redor da praça,
Que o latido assustou velho e criança.

E toda lama está encorpada em ganância
E isso impede que se cruze essa bagaça,
Mas todo fosso sabe bem de sua carcaça:
Um poço fundo, bem maior que a ignorância.

Aquela vala que se dista do castelo
A meia légua da alameda do Reinado
É a piscina que de mandatos faz farelo -

Tanto a quem cruza para dentro do portão,
Como quem sai na porta afora ao ser tocado
Com um grosso chute pela bunda à prestação.



II


“A Paliçada”


Depois do nado entre cobras e caranguejos,
Surge a segunda fonte armada que protege
O encouraçado que à tarde luze o bege
E que ameaça com fofoca a cor do queijo,

Que alguém traga com o intuito de adoçar
O griz sabor do susserano em suas tardes –
A paliçada dos vassalos espeta e arde
No couro incauto se o ciúme lhe roçar.

Três guardiões apontam a estaca contra o peito
De quem é orêia, sem mandato ou é eleito,
Do resplendor que o velocino de Medéia

Causa em clarão aos olhos fartos de Jasão –
Pois eles temem ver escapar de suas mãos
A glória morta do Orfeu das Alcatéias.



III


“A Ponte”


Mas se aos cães que velam as portas do castelo
Jogares carne amaciada de escravos,
Provavelmente, entre lírio e entre cravos,
Um vira-lata há de te ofertar o rastelo

Com que as folhas, junto à ponte, varrerás.
É quando a porta que transpõe ao Califado
Abre as cancelas e estremecem o Cão Zangado
Que dorme adiante sobre um trono azul e lilás.

É dele que próprio Cérbero se amedronta –
Ele quem rege as contas magras, rarefeitas,
Igual um osso em que se rói até a ponta.

Domar a fera, em seu habitat, em sua cova
É assegurar passagem breve nas espreitas
De um corredor que o levará à Casa Nova...



IV


“A Cozinha”


...Mas, antes mesmo que o Deus tu observes
De cara limpa feito um amargo arlequim,
Que se esqueceu do pó na cara e o ar chinfrim,
É na cozinha que tua boca irá às vermes,

Pois um melado te enfiam goela abaixo
Pra que a cruz da escravatura seja eterna
E ao te lembrares do engenho, dobre a perna
Para rezar como escravos cabisbaixos,

Que se ofertam em doação à idolatria;
Que não reclamam do terçado ou da enxada;
Porque sua lida é padecer na agonia.

Duro é sentir o retrogosto que incomoda,
Após o doce repartir a língua aguada
E se dar conta: diabetes tá na moda.



V


“A Masmorra”


Quando na escada, a subir ao chão real,
É das paredes que se ouve um grito longe –
São as memórias da Masmorra do Ideal
Que lembram as carnes imoladas de um monge.

Em cada rastro de camada e em cada tinta,
Há um versinho ou elogio que se entoa
Entre a mobília, entre esquadros, entre a cinta
Com que se curte o couro ruim de gente boa.

No passo a passo que o degrau levar o sapato,
Não te assustes se das matas ao redor
Ouvires gritos de um capitão do mato –

São de fantasmas que inda penam a sofrer,
Pois, até hoje, pagam o ódio do feitor
E se agonizam em se humilhar pra receber.



VI


“A Corte”


Aquela corte que era extensa, hoje, tem mofo
Nas axilas, casacões, jóias, vestidos;
Até o ranço de um bolchevique tem mais juízo
Pois só matou os Romanov com o estofo

Do que merecem os nobres condes sem condado,
A fidalguia sem almoço há muitos anos,
Como os Barões de carro usado, igual ciganos,
E as baronesas em tafetás ruins de brocados

Chega a doer o cheiro de naftalina;
E perante as células do olfato, a etiqueta
Já se alojou em goles fracos de creolina;

Mas toda corte é sempre corte, independente
Que a monarquia esteja morta ou na sarjeta -
Sempre haverá quem se orgulhe de patente.



VII


“Os Bobos”


Após transpor todas as fases do Alcazar,
Se se descobre-se no olhar palaciano,
Que há muitos bobos espalhados nos pianos,
Nas almofadas e nas jias no alguidar;

São bobos que se aprazem em se torcer
Para que os olhos do senhor lhes apiedem
Com uma graça ou um dinheiro quando pedem,
Soltando risos até não mais poder.

Nas horas vagas, arlequins e pierrôs,
Lavam escadas, trocam calhas entupidas
Nos afazeres provinciais que seu mentor

Lhes orienta a cumprir sem lamentar –
E assim penando a inoperância de suas vidas,
Os bobos seguem contorcendo-se a chorar.



VIII


“O Principado”


Diz que há uma disputa pelas jóias da Coroa,
Que se transcende em duas novas dinastias –
Uma legítima, que se diz a de primazia;
Outra bastarda, que o sangue raro côa

A atenção do nobre Rei aos pretendentes –
Que sob a égide do lobo bom de rastro
Concentra as rédeas do tufão sobre o alabastro
Dos que amotinam e dos que são incompetentes...

Cada um valete move as peças do Xadrez
Conforme as damas se enciúmem do Senhor
E cada um se predispõe a ser freguês

E é candidato por linhagem ao bastião
Por um Império que afaga no penhor
De sustentar a Realeza e a Tradição.



IX


“O Rei”


Enquanto o mundo se acerca da nobreza,
O rei vislumbra só o futuro de seu fado –
Que seja herói, inesquecível e eternizado,
Assim espera no altar de sua grandeza;

Se lhe avizinha, em borbotões, a Luz do Trono,
E enquanto os ares se transpõem à estratosfera,
Ele acalma uma a uma as suas feras
Com imersões de água gelada que dão Sono.

Édipo rei, Jasão, Davi, Herodes Antipas
Ninguém lhe toma os sonhos breves do futuro,
Mas o futuro incerto é como nó nas tripas –

Que afoga os rastros do alívio em dor incerta.
E é nessa casa, entre grades e entre muros,
Que a Ilusão encontra, sempre, a porta aberta



(F.N.A)

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

"Paz no Morro"


...Imagine a cena da convivência pacífica: em que palanque Perucão irá subir? E a missão... Pedir votos pra um, agredindo o outro e vice-versa?!?!...

...Nessa, nem missão da ONU dará jeito!




“Paz no Morro”


O pacto está selado e em cada lado
Da cerca nas pocilgas das fazendas,
A ordem é conviver na Paz do Estado
E esquecer aquelas velhas diferenças.

Pra siglas, que na história da Nação,
Aliaram bandidagem com o prazer,
Pergunto: Como a polícia irá prender
Pelos palanques do país tanto ladrão?

Aqui, já até imagino a Paz Aziaga –
De um lado, um integrante de quadrilha;
Do outro, um que anseia sua vaga...

Será um festival de cenas acachapantes –
Como se o Rio e sua Elite dessem pilha
À boa convivência entre traficantes?


(F.N.A)

"A Volta do Caramuru"


...Dizer que nada te interessa, não convence. Sei o que queres, Mon Petit Prince.



“A Volta do Caramuru”


Nobre senhor do clã zangado dos tatus,
Que faz das penas do cocar de seu paxá,
No caldo amargo como é o taperebá,
A grossa papa com que come carurus –

Tu que abusas do favor dos orixás
E que inda sonhas reencarnar Caramuru,
Não vês que a ordem do governo é dar angu
A inimigos, como tu, dos Guajarás?!?!

Porque a quimera de Peri te é distante,
Como a fibra de cacique em tuas veias
E a cantiga do teu fado sibilante –

Talvez nem voltes a cantar neste reizado,
Se quem tu escoras a larga costa na aldeia
Te ajudar com aquele abraço de afogados.


(F.N.A)

"A Turma do Piolho"












...Lamber, sorver, babar e dar coceiras em ovos graúdos são metas na Vida de muitos...

...Pior é dono de saco que gosta...










“A Turma do Piolho”


Se uma pulga pelo saco já incomoda,
Dirá três chatos no saco de um velho –
Mas no ranço que desdobro minha foda,
Arranco esses piolhos e inda os pentelho:

Desdobro-lhes, ferino, o meu asco
Com rastros de descaso ou deltacid
E falta pouco para a espada de El Cid
Servir na ceifa desses puxa-sacos.

Confesso. Conviver com parasita
É um exercício quando alguém se anula –
Um Superman ante a Cryptonita...

Mas o que assusta é o dono do culhão -
Sentir a coceira de quem lhe adula
E se aprazer com tanta comichão?


(F.N.A)

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

"Os 4 Cavaleiros do Apocalipse"






...Começa com disputa de sigla, vai pra comando de partido e de repente... Tão de volta!





“Os 4 Cavaleiros do Apocalipse”


Na sanha em que João descreve o ocaso
De nossa humanidade em dor futura,
Eu posso afirmar que esse atraso
Esta se avizinhando na estrutura.

São quatro os cavaleiros desse fado
E cada um detém suas próprias chagas –
Daqueles que chegaram a ser extirpados
Àqueles que aditaram obras pagas.

Pois nem surgiu o breu no horizonte,
Os quatro surgem unidos, galopando,
Na busca de uma onça, atrás do monte;

E o custo da caçada em nossa serra
É a volta de espectros assombrando
Os eleitores ruins de nossa terra.


(F.N.A)

"A Roda dos Órfãos"








“...Bem vindos, órfãos da Putaria! Esta é vossa casa!”








“A Roda dos Órfãos”


Adão não teve Eva, mas foi Lilith
Pés de Coruja sua primeira esposa,
Que se fingia de cruel raposa,
Mãe dos abortos e alado limite;

De todos que matou, Lamech foi primeiro
Dos assassinos nesta grossa esfera,
Que era cego e asno das quimeras
E que sumiu no rastro de seu cheiro;

E mesmo Judas, o amargo traidor,
Que o Rabino deu às mãos dos porcos
Urdiu enforcado como um pecador;

Mas, no cercado, a cepa de inimigos
À custa dos amigos que são mortos
Ganham comida, água, pão e abrigo.


(F.N.A)

"Navio Fantasma"


“...Àqueles de minha memória antiga, todos que me fugiram, qualquer dia nos encontraremos nesta vida...”












“Navio Fantasma”


Ainda ontem procurei qualquer B.O
Ou qualquer pena homicida em minha vida,
Porque só isso explicaria essa cantiga
Que ainda pago em preconceito de arigó;

Não há emprego e muito menos há amigo
Que se aventure em contratar alguém marcado –
Por que a pecha tatuada ao assinalado
Me deu a grata condição de ser inimigo

De quem roubou e fez misérias no cercado
E que ainda dá as cartas, compra lábios
Silenciados pelo medo no condado.

Assim vivendo a parcos ganhos, vou seguindo -
Um navegante sem ter bússola e astrolábio
Atrás de sonhos que de mim me vão partindo.


(F.N.A)

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

"Tábua de Pirulito"


...Xingou até a mãe do cara em discurso e ganhou o quê?

...Show matutino...




“Tábua de Pirulito”


Vou me escolar em bandidagem no canteiro,
Subir em palanque e desandar o xingamento,
Chamar alguém de irresponsável xexelento
E associar, ao pó do pó, algum parceiro;

Depois farei um curso básico em aditivo,
Bebendo tudo – diesel, álcool e gasolina,
Sei lá se a fórmula alterada é a vacina,
Mas quero a cura pra meu pau radioativo;

Muito adiante quero ir para os palanques,
Chorar, mentir, beijar menino catarrento
E me entregar às alianças, não aos tanques;

Pois só aqui vale-se o dito por não dito –
Que, em suruba, quem tem cú ganha um jumento
Pra lhe furar que nem tábua de pirulito.


(F.N.A)

"Acelera, Rubinho..."


...Acelera o quê, Cara Pálida?

...Se não vier grana de fora, bancarrota será tua sina. Quero ver é até onde tu vais assumir rombo dos outros em nome de composição futura...

...Cristo, que alguém me torture...




“Acelera, Rubinho...”


Cães, não entendam que este grito voluntário
Se se ressente porque hoje come merda.
Só o que peço é que me enxuguem com a cerda
Com que se limpa algum vaso sanitário;

Que o meu langor e toda a minha euforia
Que escrevem versos sem sequer mudar o mundo,
Sejam extirpados como morre um ser rotundo
Quando em bacilos de outras feras se sacia;

Ou minha língua e meus doces olhos mortos
Sejam enfiados em espetos com cebolas
E bem assados sirvam pra alimentar porcos;

Me punam em tudo o que houver de extraordinário,
Só não me peçam pra ouvir notícias tolas
Que não aceleram. Bem pior, marcham ao contrário.


(F.N.A)

"Água no Chopp"








...Esta vai para uma porquinha bem loura e sua turma de sectários, adoradores de futricar a vida alheia...






“Água no Chopp”



I


Queria muito que alguém me apontasse
Quem tem direitos sobre a vida de terceiros,
Pois nesta terra há umas bestas nos canteiros
A apontar dedos manchados para a classe

Que não comunga com casais de faz-de-conta
Ou mesmo lares entupidos de aparência,
Porque na terra do cercado a indecência
É a coisa certa; e o contrário é o que amedronta.

Pago o que faço sem remorsos ou clamores,
Engulo riscos afrontando o bom-mocismo
Que rege o mundo dos fingidos delatores;

Mais antes tudo que não seja o fingimento,
Sou um maluco que não dá-se a priapismo
Correndo atrás de umas freirinhas de convento.


II


Eu já levei comigo a pecha de arrogante,
De inescrupuloso amante e ou bandido,
Mas o que fiz foi arrancar de meu umbigo
Aquele vírus que conforma o diletante -

Não faço como os boas-praças em seus vícios
Que ainda escondem toda a tara em seus tabus,
Como quem dá a mulher de prêmio num rebu,
Pra se tornar chefe de estado ou de hospícios.

Como não chupo ou dou a bunda ou faço votos
Pra que o cabaço de uma virgem da alta roda
Me valha apostas com amigos ignotos,

Sigo adiante na função de bom otário
Que por ser pobre em pistolão, sabe de foda
Só quando alguém quer me carcar atrás do armário.


III


E pobre, bronco, sem elite ou pedigree
Não vale o mínimo esforço em ser aceito
Na academia que montou algum prefeito
Ou no bazar de um abonado grão-vizir;

Não me aperreio, mesmo quando passo fome
Como agora, novamente, estou passando;
Só que um estômago vazio tem mais nome
Que uma carteira com as notas estourando;

Enfim, entendo que ser ruim e futriqueiro
É o que dizem que o Cercado, hoje, é -
Terra de puta, de ladrão e maconheiro;

Casa de ratos que expulsam os locatários,
Lar de favores sexuais, aonde a fé
Virou negócio de fieis e mercenários.


(F.N.A)

"A Ordem do Dragão"






...Eita! Agora é que a coisa vai ficar boa! (Bob Esponja)






“A Ordem do Dragão”


Agora a tal da aliança é quase certa
No mundo e submundo do cercado –
Há legiões de bate-paus, advogados
E bons aspones com uma fome incerta...

Nem digo os Maias ao olhar 2012
Temendo a Terra a dar giros ao contrário,
Mas o silêncio com que abate-se o templário
É de o sagrado extirpar a linha de Rose...

Enfim, os arranjos que a muito se avizinham
São os arranjos que acodem neste mangue
As legiões de outros seres que cozinham

Seus muitos planos de conquista deste mundo,
Como os fieis que entupiam-se de sangue
Seguindo a ordem do dragão de Segismundo.


(F.N.A)

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

"Anti-Cristo do Cerrado"




...Puxa-saco não leva ferro nesta vida - se nao vira laranja, vira presidente de empresa, referendado com aval estúpido do dono...



"Anti-Cristo do Cerrado"


Alguém que conheci comendo um ovário
Na casa em que sangrei fazendo aborto,
Surgiu feito um cavalo natimorto
Galgando no cerrado ao contrário -

Compôs, fez acordão e, hoje, é arisco
Senhor de comissão a mil porcento;
E muito do mocismo papa-vento
Que tinha, desandou feito um corisco.

Na corte engole o choro dos amigos
No sangue de umas virgens acanhadas
Que lavam Lady Bathory no abrigo.

E às vistas do patrão, posa de santo -
É o Cristo Inverso em causas depravadas
Que ateia combustão pondo quebranto.


(F.N.A)

terça-feira, 17 de novembro de 2009

“Casa da Mãe Joana”



...Construir não é preciso; Alugar sem pagar, sim, é preciso...

...Mas o que fazer? Casa sem dono vira cortiço de mascate!





“Casa da Mãe Joana”


Eu vivo de aluguel há tantos anos,
Que muitas casas próprias já comprei
Com os custos que arquei no fim do mês
Igual quem dá dinheiro pra ciganos;

Agora, vejo a lapa do imposto
Que muito desandei a dar forçado,
Parar, numa cobiça neste estado,
Na casa oficial que nem tem posto.

Entre os dez milhões no comodato
Com as custas do Jardins da Babilônia,
O cloro da cascata sai barato;

Até mesmo um sem-teto oficial,
Como eu, o Arrideu da Macedônia,
Me oferto a ser inquilino da estatal.


(F.N.A)

"Galopeiraaaaaaaaaaaaaaaaaaaa..."




...É do bico do Tucano que grunhem uns porquinhos contrariados. Só, hoje, é que descobriram quem é essa peça...







"Galopeiraaaaaaaaaaaaaaaaaaaa..."


Dos cantos e rincões deste chiqueiro,
Murmuram uns porquinhos descontentes
E fazem-nos chegar por entre os dentes
Grunhidos contra o Capo fazendeiro.

Não querem Galopeira em nota alta,
Nem mesmo seu cantor pelo partido
A dar suas mancadas em bom sonido,
Como se fosse o sinhozinho Malta.

Careca, que se diz bom de oratória
Naquilo que promete e nunca paga,
Até em prefeitura mete a espora;

Melhor que tu te escondas num chapéu,
Pois porcos, bem revoltos, jogam praga
Que acerta até o cú do coronel.


(F.N.A)