quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

"Formol no Faraó"






...A múmia das artrites se remexe no sarcófago!

...A dinastia de Rá está pra chegar ao fim, caso queiram os escravos, senão...







“Formol no Faraó”


O braço é biônico e a artéria está entupida
Com rastros de açúcar em tanta rapadura;
Sua lata amassada recicla a ditadura
Em traços de rancor e graça de suicida.

Na força espacial que abraça os militares
Em muito experimento de sua carreira,
Ciborgue Costa e Silva anda mal das beiras:
Na bufa que, hoje, solta, há um rancor nos ares...

...Sobre a ordem iconoclasta que não o reconhece
Como mestre dos mestres, um Jesus sem diploma,
Preto velho, caboclo, um xamã do agreste...

Não conheço quem ame uma múmia enterrada.
Talvez, reste um escriba que lhe raspe o glaucoma
Nesse mundo sem luz que ele faz de morada.


(F.N.A)

"Taquaruçú Way Of Life - IV"






...Comida congelada para Microondas? Bob´s? MacDonald´s?...

...A comida de peão, em Taquaruçú, suplanta estômagos mais frescos...






“Taquaruçú Way Of Life – IV”


A bomba adita água à gasolina,
O padeiro adoça alguém com pão dormido
A carne clandestina é deliciosa –
Melhor se não tivesse mais comido

Um quibe com lasanha no domingo.
Mas é no arraial da igrejinha
Que o padre vende a lauta canjiquinha,
Enquanto uma freirinha vende o bingo.

Um peixe com pimenta arde na brasa
E a manga suja o chão com melequeira
Que enloda o quintal de qualquer casa;

Alguém vai buscar água no açude
E um suco sai fresquim da geladeira...
Melhor do que comer em fast-food.


(F.N.A)

"O Homem de 20 Milhões de Dólares"





...Não se pode mudar o imutável, nem modificar o que é bronco, estúpido e grosso.

...Morrerá assim. Quando chegar ao inferno, pretende colocar o diabo nos eixos...




“O Homem de 20 Milhões de Dólares”


Um estuprador pode até pegar sentença
E mesmo assim livrar-se caso tenha
Dinheiro, advogado e um bom esquema,
Juiz e família rica que convença,

Que tudo ele é, menos tarado
E que aquela seduzida e estuprada
Forçou seu pinto mole a furnicá-la,
E que ela é quem merece cadeado.

O mundo é assim: à força do dinheiro,
Transforma-se bandido em alegoria,
E ladrão em homem probo, bom e ordeiro.

Transforma-se até ou então se cria
A imagem de um santo milagreiro
Nas costas de quem mata à luz do dia.


(F.N.A)

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

"Desintoxicação"








...Como diria o gênio pinguço, Wander Wildner: “Eu não consigo ser alegre o tempo inteiro!”








“Desintoxicação”


Verdade. Eu ando muito amargurado –
A ânsia por viver é uma lembrança
Bem gasta para um cão encastelado
Num cerco do Diabo a San Verganza.

Respiro com a ajuda de motores,
Porque nem me animo mais na sorte,
De tropeçar nas esteiras dos tratores,
Que irão terraplenar meu lar na morte.

Não ligo para esforços suicidas
Contrários às campanhas por ovários
Que perpetuem a geração da vida.

No fundo, eu nutro inveja dos doentes,
Que apegam-se à vida, como usuários
De crack em tratamento a dependentes.


(F.N.A)

"Frases Auto-Destrutivas do Dia"

"MINHA GENIALIDADE E MINHA MEGALOMANIA SÓ PERDEM PARA UMA COISA EM MIM: MINHA INIGUALÁVEL HUMILDADE."


"ESTE BLOG RECALCADO JÁ TEVE DIAS MELHORES - FALAVA-SE MAL E TINHA-SE MAIS CRIATIVIDADE.

- SOU UM RECALQUE DE SÉRIE LIMITADA!!"

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

"Couro Legítimo"




...Conforme a patente e a aliança pode-se tudo: entrar de graça em boate, formar-se sem ter ido à faculdade, roubar algodão doce de criança e ainda ser chamado de bom menino...




"Couro Legítimo"


Os animais que morrem em matadouros
Exercem, mais que a carne que alimenta,
Um vasto cabedal que nos sustenta -
O colágeno, o estrume e o próprio couro.

E o couro é, do mais caro caro item, vário,
Pois mesmo o jacaré e a avestruz
Fornecem a pele dura que reluz
Em bota, cinto, bolsa e escapulário.

Eu tenho uma carteira em couro fino
Com espaço pra talão, cartão e grana
E, ao menos, faça dela um escrutínio.

Do preço que paguei, não valeu nada!
Se ao menos eu fosse filho de bacana
Podia dar, também, minha carteirada.


(F.N.A)

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

“Velho Índio do Uruguay”




“Eu conheci um velho índio do Uruguay, que fez e que faz coisas belas que branco não faz. Disse que o mar pára na areia; e disse que fome de amor é só amor o que serve de ceia.”


(Para ARNAUD in memorian)



“Velho Índio do Uruguay”



Ninguém soube cantar a própria dor
Com a forma tão elegante em estar sorrindo –
E lembro de escutar-lhe se esvaindo
Num disco de meu pai como um condor.

O velho índio que ele foi, em bruxarias
De versos livres amarrados com cipó,
Cumpriu-lhe a taba, como rei de Caicó
E afilhado de Lampião e suas Marias.

Arnaud teceu no riso rouco o próprio vulto
Da extensão da graça magra quando acalma
O furacão de si num mar absoluto.

Magro sorriso em rouca voz partiu canora –
Arnaud, o vento nas palmeiras leva a alma,
Só quando o Pai nos torna brisa, mundo afora...



(F.N.A)

"Vitamina de Caboclo"


...Uma tigela de açaí, uma cuia de tacacá...
...Pará: terra da minha saudade!



"Vitamina de Caboclo"


Lampejo de candeia à querosene,
Tapera na baixada e um igarapé,
Minha índia preparando meu chibé
E a água da cacimba mais perene...

Assim era minha casa feita à regua
Cabocla, que um dia abandonei;
E com ela meu idioma enterrei -
"Ventrexa", "Putitanga", meu "Pai d´égua"...

Depois de muitas noites de sereno,
Conforme a rouquidão aperta a goela,
Cantar? Nem em novena mais aceno;

Um paraense sofre - eu mesmo aqui -
Distante dessa terra-seriguela,
Em que o tônico caboclo é o açaí.


(F.N.A)

"Agulha de Vitrola"


...Um lp velho profetiza: faz um tempão, meu irmão, que suspensório e tubaína saíram de moda...


“Agulha de Vitrola”


Um disco eu já tirei do gramofone
E pus numa bandeja de radiola;
Já ouvi fita k-7 com um só fone
Em cópia de cartucho sem bitola;

Depois eu consegui um walkman
E nada demorou pra um laserdisc –
Morreram o LP e o compact disc,
Pois hoje é o blu-ray o som mais zen.

Até eu, que tenho trinta e poucos anos,
Já enjoei de música quadrada
Em ritmo e compasso provincianos.

Agora, tem uma turma que é um risco:
Insiste só em política cansada...
Nem pensa em se tocar e virar o disco!


(F.N.A)

"Beiju com Manteiga"



...As comidas nas aldeias do Pará acertam o nó na tripa igual um cartucho...




“Beiju com Manteiga”


Não herdo uma só sombra do Pará,
Da profusão das raças misturadas –
Eu sou um arabês com pó da estrada
Moldado na acidez tamba-tajá.

Não herdo dos indígenas que forjam
A casta dos meus primos consangüíneos,
Como a zarabatana engoma espinhos
Nas costas dos tatus que se alojam

No oco de meu bucho, quando como
A herança das comidas de meu estado –
As ervas, o açaí, o caju no pomo...

De todas as delícias que há na feira,
É a goma queimadinha do beiju
Que faz eu virar índio, sexta-feira.


II


Eu amasso o inhame e a caça com a mão
E cuspo em meu fermento de aluá
A liga de um sabor que, em Marudá,
Uma tribo matuxi comia com pão.

Pupunha com café. Na tarde, ao fim,
O fastio da bacaba e o tucupi
Sangrando um pato gordo... Um tucuxi
Encarno atrás de piaba e surubim.

Faminto como um búfalo, nos igapós,
Lambendo, nas juçaras, a rouquidão
Do canto esfomeado dos kai´pós...

Pará, panela velha, as tuas comidas
Me deixam à língua um rastro de extinção
No gosto de mil tribos esquecidas.


(F.N.A)

domingo, 14 de fevereiro de 2010

"A Arca da Aliança"


...Acordos, acordos, acordos...

..Sem vergonhice pura em gostosas putarias??

Eleições!!




“A Arca da Aliança”


A Arca que guardou, para os judeus,
As tábuas de Moisés era a aliança
Firmada com os homens pelo Deus
De Aarão, José e Jacó na confiança

De que não basta ser circuncidado
Ou entregar o sangue de um ovino –
O homem sempre cumpre seu destino,
De afeiçoar-se em contratar o pecado.

Agora, seja esse contrato diferente –
Não com o Senhor, mas com o cão por fiador,
Esse acordo não se quebra facilmente.

Cúpulas rasas, em alianças no intestino,
Encruem fezes nas palavras com sabor
E refrigeram os corações que são malinos.


(F.N.A)

sábado, 13 de fevereiro de 2010

"A Tecnocracia do Suicídio"







...Um feriadão prolongado e a insolência divagada por quem não morre de um simples pulo da Ponte...









"A Tecnocracia do Suicídio"



I


Ponte Fernando Henrique Cardoso.
Uma noite de visões e sem filamento.
Sigo esfolado como a costa de um jumento
E espanto a vida pelo rio, meu cão raivoso.

O mole asfalto do aterro não é a ponte
Que vai de Asgard a Midgard, mas uma roça,
Unida por suas águas pútridas à outra roça,
Que fica a léguas de fumaça no horizonte.

Aqui, a noite empapuçada de fumaça
Amortiza em gelo seco minha narina;
E assim um rastro de faróis me alucina
Na luz ultrapsicodélica da Ayahuasca.

Vão as formas de desvãos e ferro bruto,
Que vi a treliçadeira pôr um a um;
E assentado sobre as costas do guaiamum,
Entorto os fios de cobre do meu furto.

Rechaço esse patíbulo de alferes,
Daqueles que se dão nessa derrama
Ao mouco que deitar por esta cama
De arame com fagulhas e ampéres.

Não quero, esquartejado num buzu,
Meus membros ou minhas articulações
- Numa desova de anônimos culhões,
Incinerados pela Praia do Caju.

Mais um inimigo afogado num porão
Ao humor da sociedade e do regime,
Na ousadia ao falar e ter feito o crime
De apontar a mão de Tântalo ao ladrão.

Vem-me desejo de pular por sobre as pedras
E nelas descer amortecendo meu esterno;
Ver o meu baço perfurar num spleen mais terno
Perante os olhos petrificados dessas Hydras.

Não caibo na avareza dos mudernos
O grito de "anauê!" aos integralistas;
Ou sabão feito de infante a um comunista
Que umecta sua ética ao Baixo Clero.



II


Disposto com as chagas da Imprensa,
Que vende a própria mãe por Abadá,
Eu sinto as convulsões de Shangri-la
Na cura inexistente à minha doença.

Eu vôo a este cartão de treva e ócio
E sinto só os anzóis dos que infringem
Fisgar minha moral, e muitos cingem,
Que Bloom tipificou de mau negócio.

Caim que foi Caim é nesta terra
Louvado como Hermes e Dionísio;
E o Abel, morto – não fora nos Elíseos –
Aqui se esquece, pois o Bom se enterra.

Dos Aurenys às putas da União,
Não há um só tumular Ser dos baixios
- Monstros incultos, desses quais eu rio –
Que não seja um muar em seu quarteirão.

Terra de rudes e de bem rudes em feição
Do mau atendimento à porta do boteco,
Como se fosse o cliente um marreco
Que leva tapa por cagar no próprio pão.

Desconfiança, desfavor, ódio e vileza
Se espalham ao vento seco pela serra
- Olhos esquivos, traição e o pó da terra
Retemperados com conluio e malvadeza.



III


Há desperdício de futurismo a estes cães
- Ícones fartos, que entopem seus gracejos
Do que pior o lixo inculto sertanejo
Legou incólume aos úteros de suas mães.

Porque a mente belicosa desses Seres
Não engoliu, não digeriu e nem pensou.
E o que valeu a quem o Estado planejou
Petra erigida ao abandono dos saberes?

Penam Niemeyer, o cavaleiro da Esperança
E o panteão deposto os sóis numa tragédia –
A ignorância (língua herege que faz média)
Venceu o peso e o fiel dessa balança.

Morte à Arte e à Cultura por revanche,
Que engata um hino nazi-cômico e afã
Tão parecido com os tais hinos Talibãs,
Que destruíram pobre Buda num desmanche.

E algo pior no Maoísmo do Cerrado
É a conivência da estrutura das Notícias:
Morta Inês, a Dinamarca e a Galícia,
Tudo que afronte o velho rei é censurado.

Os co-autores da tragédia em Leningrado
Puseram tanques midiáticos de Dresden,
Afora os cercos inimigos que ora seguem
E que alteram até o peso de Avogrado.

Sobra de Hunos, burgo mestre de coiotes,
Restos de casas sem ardor da independência,
Que lhes valeu esta cisão de flatulências,
Senão um peido aprisionado entre magotes?!?!

Como lambemos o ementhal com caruru
Em sanitárias condições de dar suspeita,
Dessa lavagem cerebral espero a receita
Que talhará o sang´real do Gabiru.

Cetro sem linha hereditária não vigora –
Não de Borgonha, Carolíngia ou de Bourbon –
Mas essa linha de genoma do jeton
Toda cidade engole aos risos da Pandora.

Terra fantasma, pelo visto, na contagem
- Porque o caos duma tragédia ergonômica
Do populismo numa força super-sônica –
Expurgará os deserdados da pilhagem.



IV


Vejo MacCarthy quando eu encaro algum
Jovem colega sedentário e omisso –
Com a moral igual a ponta de um caniço
Bem vergastada delatando qualquer um.

Abaixo seguem oitenta metros de mergulho
Que o mau jeito no pescoço me espera.
Sinto um resquício – a Sagração da Primavera –
De um amoral que vive às custas do orgulho.

Quais os sensíveis domam deste passarinho
Aquele canto? Dorivã - talvez o primeiro –
Desceu o acorde acrobata em morte e cheiro
Verde de praça sem coreto nos caminhos.

É um sabiá que senta à grade e me acorda,
Porque não dormem os que matinam na verdade.
E aquele impulso de pular morre em metade
Como um suicida que esquece a própria corda.

Porque o suicida é, do pior, o perdedor;
E sobre ele e a mim aguarda o purgatório,
Como John Milton versejando o redentório
De um paraíso destinado ao malfeitor.

Mas, sei, até pra desistir do próprio fado
Do sentimento de tristeza que incomoda,
Nunca encarnei De Lacroix o calor da moda
Filosofando com pigarro derrotado.

Enfrento a dor do humilhado e do banido,
Porque a vida é o Habeas Corpus de vilão
E uma Ordem de Prisão ao sem culhão,
Que muito passa pela dor sem ter sofrido.

A revoada da Siriema desvela a noite,
Como as mensagens solitárias do Pierre –
Telas e Luzes pra que essa sombra encerre
Tudo que o ácido quebra fórmulas de açoite.

Daqui da ponte, Palmas já não vê a aurora
Cobrir de ventos e de poeira seu calor.
Sinto a presença que a mão do Redentor
Pesa tristíssima sentença que apavora.

Do que ao passado as estátuas foram sal,
Sobre esta casa que criamos e usurpamos,
Futuro negro sobrará por nosso engano
E sal seremos por bebermos mesmo Mal.



(F.N.A)

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

"Moisés da Caatinga"





“...O século XXI contempla o hebreu que nos conduzirá a uma terra onde brota leite condensado e rapadura dos cofres públicos!”





“Moisés da Caatinga”


Na curva, o Mar Vermelho entorna o caldo
E um monte de hebreus volta pra casa.
De seu cajado, já se vislumbra a causa,
Que quer Moisés em atestado e laudo.

Depois de tantos anos no deserto,
Vagando e procurando um novo pleito,
O Messias da Caatinga estufa o peito
E se anuncia Deus a quem está por perto.

Não sabe mais Moisés que o faraó,
Na ordem da vigília sobre escravos,
Pretende amotinar-lhe sem dar dó.

E Moisés, em suas sandálias nordestinas,
Prepara-se pra guerra dos conchavos
Pregando suas mentiras cabotinas.


(F.N.A)

"A Festa de Babete"





...Vamos seguindo nesta vida besta, como os mais destemidos suicidas e os mais desajustados dessa terra...





"A Festa de Babete"


São tardes de silêncio e agonia.
Nem mais a solidão me bate à porta.
Assisto ao ostracismo a cada dia
Na grata condição de mosca morta.

Província, aldeões - Oh, minha aldeia! -
A brasa da fogueira que me ateiam,
Oferta aos canibais que, hoje, me ceiam
uma carne mal passada e cheia de veia.

A corda atada espera-me na sala,
Com todos meus fantasmas a meu lado
Pedindo minha ida sem escala.

Mas quero ver até onde esse retrete
Irá embutir meu sangue coagulado
No chouriço artesanal desse banquete.


(F.N.A)

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

"Taquaruçu Way Of Life - III"


...Taquaruçu é a sinfonia da serra...

...Mãe do Mato e Mapinguari, meus ouvidos zumbem seus grunhidos...




"Taquaruçu Way Of Life III"


O canto da siriema assusta o brejo,
O grito da guariba rasga a goela,
A onça anda chupando siriguela,
E o rato faz coral junto com o Tejo;

A muriçoca entoa seu lundu,
Conforme bate a asa e bebe sangue;
No fundo do quintal, habita a gangue
De patos a tocar o baticundum...

A natureza afina a sinfonia,
Quando os bichos o tom assumem
Na orquestra do lual que aguarda o dia...

Assim é Taquaruçu... Não é bravata!
Inda ontem, em minha sala, um vagalume
Compunha com o zangão uma serenata.


(F.N.A)

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

"O Baile da Ilha Fiscal"


...Disse D.Pedro II, ao tropeçar na entrada do salão de festas da Ilha Fiscal:

“- Cai o rei, não o império!”



“O Baile da Ilha Fiscal”


A dança alegra o Baile da Saudade
E o par mais animado no salão
É a Ternurinha e o velho Tremendão –
Os pés de valsa da terceira idade.

Nem lembram o casal que, há alguns dias,
Trocava agressões pelos panfletos.
Ah, hoje, o romantismo está perfeito...
“- Querida, isso é veia ou é estria?”

Vestidos com bolinhas, serpentinas...
A claque que aplaude o doce enlace
Tem astros do Tempo da Brilhantina.

A contradança insurge o mau critério
E não sei quê, um deja vu me assombra a face,
Pois talvez seja o Último Baile do Império.


(F.N.A)

"Agenda Positiva"


...Rei não despacha com mendigo, após as eleições. Antes, concede até comenda a bêbado de feira...


“Agenda Positiva”


Pra quem não atendia nem ao Papa,
Se acaso o sacerdote lhe implorasse,
Agora, o Ramalhão dá a quem passe,
Na porta de sua casa, uma garapa.

Dos reis e afoxés chefes de estado,
Que em tantas audiências lhe esperaram,
Agora, quando muito, uns ratos param
Na boca da armadilha, enfadados.

Alguma multidão, em romaria,
Composta de famintos e saudosos
Ainda lhe visita todo dia.

Vão lá buscar sua cota de ração:
Um esporro e um esculacho caprichosos,
Uma foto autografada e um beliscão.


(F.N.A)

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

"Varanda Azul"






...Melancolia, mãe de todos os sentimentos de suicídio, faça-me um favor:

- "Vá à porra!!"







“Varanda Azul”


Sentindo a solidão batendo à porta,
Nem penso ir atendê-la de cueca.
Nem teimo olhar a faca que me corta...
- Me assusta tanto sangue na caneca!!

Um maço de cigarros me namora
E a velha porta abaixo vai rangendo.
Não filtro nos ponteiros se é hora
De ver meus cogumelos florescendo.

Posso optar: um chá ou suicídio??
E azuis chapéus, em sonho Elemental,
Dão um gosto sideral de lantanídeo.

- Benditas ruas ermas, doce lama,
Deixastes em minha porta esse animal
Pedir pra vir dormir em minha cama?!?!


(F.N.A)

"O Dote"


...Jornalista é bicho sem dinheiro. Se encontrares um que parece ter, desconfie: ou ele finge ou faz parte da máfia...




“O Dote”


Status no interior é um outro plano,
Que mesmo as damas da sociedade
Não sabem como surge na cidade
E some igual comboio de ciganos.

Me lembro. A cidadinha em que eu morava,
Há vinte e cinco anos, tinha um critério –
Bancário, jornalista e magistério
Ganhavam o que um doutor sequer sonhava.

Pra mãe era um sonho ter a filha
Casada, namorada ou estrumbicada
Com forasteiros desses lá na ilha.

Agora, enlace assim ninguém se atreve.
A mãe já alerta a filha da roubada:
- Mal comem, ganham mal e vivem em greve.


(F.N.A)

"A Cabana do Pai Tomás"






...Meu caro amigo de pitar cigarro em época de vacas magras, como mudastes...

...Mas, como diz o ditado, "quem pariu seu Mateus, que o embale"...







“A Cabana do Pai Tomás”


Na praça em que Saddam fez seu castelo
- O centro espectógrafo da serra –
O banzo dos escribas se descerra
Num choro de saudade do marmelo.

Ninguém aluga mais máquina velha
Às custas de tutu do cofre público.
Por isso é que há saudade a metro cúbico
Bramindo às escondidas em Marselha.

Algum poeta disse à longa idade:
“Saudade é como rastro de veneno –
Perfuma-se na morte à eternidade!”

Por lá, eu não aguentaria uma semana
Os filhos da Febem me dando aceno
Pra me esfolar o couro na cabana.


(F.N.A)

"Nem às paredes confesso..."







...Fotos de suruba em alta escala não são nada. Pior que elas?? Só os arranjos políticos ao som do twist e do udigrudi na vitrola da direita...







“Nem às Paredes Confesso...”


Paredes, desta terra, se pudésses
Dizer segredos bárbaros que escutas
Das sodomias mais absolutas,
Ninguém iria ouvir as tuas preces!!

Ninguém, e me incluo nesta joça,
Consegue suportar o próprio cheiro
Que o falso bom mocismo, em meio à fossa,
Consegue feder mais que um cú inteiro.

Paredes são tão bons confessionários,
Que tu – pau de tarado – nem cogitas,
Da lista de luxúria, o abecedário...

Aqui, parece até a Arca de Noé,
No dia em que o macaco deu uma festa,
Daquelas de deixar cabelo em pé.


(F.N.A)

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

"Lanterna Japonesa"



...A grande celeuma da aculturação chega ao fim.

...Não sei como conseguimos viver sem esta tralha em nossas vidas?





“Lanterna Japonesa”


Na cancela da fazenda, o coronel
Marcando o latifúndio pôs, acesas,
Duas bolas luminárias de papel
Ardendo, igual lanternas japonesas.

Na glória, o Sol Nascente de seu fado
Servia a fim nenhum e, sem sentido,
Alumiava nada mais que seu umbigo
E o ferro com que marcava o gado.

Um outro fazendeiro, afiando espinho,
Derrubou essas lanternas, num verão,
Pois cobiçava a posse do vizinho.

E nisso o coronel chutou a porca,
Pois lhe botaram, além daquilo, ao chão
O pedestal dessa cultura morta.


(F.N.A)