quinta-feira, 30 de julho de 2009

"Cachorro de Igreja"


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...Cego Aderaldo, esse cachorro morde muito?
- Só quando tá com a boca aberta, seu padre!”



“Cachorro de Igreja”


A renca da matilha chega ao rancho
E lota duas fileiras no açougue –
“Eu, hoje, encomendei aquele azougue
Que irá sugar o bife do garrancho!”

Um poodle, um vira-lata e um capão
Reclamam, olhos vidrados na espera:
“Esse açougueiro vai abrir a tapera
Ou voltaremos com a fome de um cão?

Mas, o pobre magarefe adoentado
Não vai e a cachorrada fica à capa
Com fome e com estômago furado;

Tal qual o servidor que vai à peleja
Da corte, atrás de osso e leva um tapa
Igual cachorro que mijou na igreja.


(F.N.A)

"Houdini do Cerrado"



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...Presto! Não presto!! Presto! Não Presto! Agenda Positiva?? Bagaça Radioativa!!



“Houdini do Cerrado”


O sapo empanturrado com a verba,
Avisa ao ex-amigo, o pobre pato:
"Em agosto, eu vou cagar aí no mato
E preciso de uns rolos na conserva

De ânfora embebida com chourume
De esgoto em aldeia que não existe."
Acho, por isso, que o cacique é triste
Com caipora que lhe dá azedume.

"Enfim, eu quero uma agenda apertada –
No hospital, a UTI e as macas prontas;
Na malha eu quero asfalto na estrada."

E o pato, enfim, lamenta a seu credor:
“Amigo Presidente, minhas contas
Não dão nem pra pagar o servidor.”


(F.N.A)

"A Sagração do Cometa"


...Recebi emails solicitando a publicação de um poema, de 2007, que fiz em época natalina e que cheguei a distribuir a amigos.

Atendendo à solicitação, ei-lo postado, logo abaixo... E tenham paciência os que não conhecem, pois ele é longo, mesmo...



"A Sagração do Cometa"


A flébil conjunção dessas partículas
Baixíssimas de água e de mercúrio
Repartem, como seiva nas cutículas
De Deus cobrindo o mundo a mil espúrios.

Eu rasgo, como um grande terremoto,
Os céus das geodésicas balanças;
E o rastro de terror ao rincão remoto,
Farei cuspir ao chão sobre as crianças.

Na minha ignota cauda suicida
De astro de infinitésima grandeza,
Agrego um panteão de pesticidas
No enxerto moluscal da alma tesa.

Eu sou este cometa que aproxima
No resto de impulso magnético,
Que aos pólos do esplendor se alcalina
E cospe o Aeon num mundo cético.

O bólido previsto em pergaminhos,
O astro imortal dos povos Maias,
A estrela comensal do extermínio,
A estúpida explosão que seca as praias.

Eu venho das províncias dos quasares
E o próprio ser Galactus não sabe,
Que minha nanotérmica nos ares
Extingue o sabor álacre do wasabi.

E foi por esta Terra em meus espaços
E gramas duma escala em GPS,
Que a raiva do esplendor dos sóis de aço,
Mandou-me extinguir o mal que cresce:

Das águas que as usinas toldam o leito
Às pontes vacilosas sem energia,
Dos homens que partilham o pão e o jeito
Com porcos numa esplêndida bacia.

Eu venho sobre as minhas radiações
Das forças do Urânio e do argônio,
Dos elementos ricos em frações
Nas fábricas divinas do Plutônio.

Dançando a balalaika em assustados
Prontuários dos bacilos virulentos;
E as pragas de Moisés e os cães danados
Trarei, inanimado pelos ventos.

A faca que estripa a velha freira,
O tiro que assassina a missionária,
O falso homicídio à ilha inteira
E um corpo consumido em causa vária.

Eu trago sobre as árvores dos campos
E os rios que te cortam entre dois fins,
As chagas que azedaram pirilampos
E amaram por ter ódio a teus confins.

Do nada que deu certo e tudo errado,
Eu busco combalir num pé de cabra
O filo hereditário de um capado
E o hansen num bacilo à força braba.

Porque o sacrilégio desta terra
Foi dar as mãos às mãos do lisongeiro
Encarnado que os pecados vocifera
E come com enxofre o mundo inteiro.

Oh! Terra de traição e mesquinharia,
Que herdou de todos cantos suas castas
- Do sul, do norte, oeste e pradarias –
Em bases de celenterados que lhe engasta.

Assim que meu ocaso abrir a esfera,
Num ergástulo e em sêmen liqueifeito,
Irei desfecundar tua atmosfera
E o leite do cerrado no teu peito.

Irei secar os poços e as cacimbas,
Tornar inférteis campos e mulheres,
Arder brasa nos ossos, como guimbas
E o resto esquartejado do Alferes,

Cegar de um a um os cães inválidos,
Os velhos e os moços irão também
Comer da pasta amarga dos Ramalhicos
E a orquídea negra às praças de Belém.

Enquanto houver terror em minha cauda
Funesta de um anjo do senhor
- Alçado à condição de vingador –
Imolarei os ventres numa lauda.

Escrita pelo próprio Nostradamus,
E um anônimo eremita e um essênio.
Porque minha incerteza seca ramos
Da árvore infrutífera dos Helenos.

E o óleo nodulento de um veneno
Irá matar nos cantos do cerrado,
Como um vampiro além do Rio Reno
Aos pastos esquartejando a grei de gado.

Subindo às plantações, evoluíndo,
O gérmen de um trigo condenado,
Que singrará por trilhos, consumindo
O diesel nesses cofres refinados.

Eu trago a nebulosa pelos flancos
Em retrotransmissores de ondas raras
E as lástimas de Eckens nos Saaras
E Halley no meu gelo seco e branco;

A sexta profecia dos perdidos
A doze de dezembro deste século,
Um múltiplo de dois, abaixo o sétuplo –
Futuro de um elíptico rotativo;

O canto obsidiado dos aidéticos
E o fungo que roeu teus dedos lassos
E o quanto eu dispersar nos próprios passos
De um astro que vagueia, cibernético;

Eu raspo as costas nuas da Eritréia
E as civilizações disseminadas
Conhecem-me na alcunha praguejada
De "Anjo Ceifador de Laodicéia";

Meu rastro destruidor de pó e halos
É o mesmo que João mirou de Patmos
Num fosso indefinido de estáticos
Segredos, castiçais e medos claros;

O dobrador de espaço em ato inverso,
Sucumbe à minha grandiosidade
E os seres que aniquilo são a metade
Do cancro respirado no Universo;

Daí, os que habitam este cerrado,
Espelhem meus idílicos clarões,
Na crista da retina em convulsões
E a bílis besuntada em pão minguado.

E o cheiro armagedônico que trago
É a síncope do breu e da amônia,
Colhida pelos céus da Macedônia,
No iaque estrangulado pelo bago.

Porque não sagrarei pelo meu canto
No olor do cuspo cósmico e intenso
A benzer corpos queimados de incenso,
Que é a oração dos castos santos.

Despencarei por entre paliçadas,
Caindo em negros sacos de silício,
Carbonizando o sol num precipício
E todo Jalapão em mil braçadas.

Farei na engenharia do coveiro,
O túnel que unirá a Terra ao Umbral,
Rasgando em cânions o Brasil Central,
Em falhas naturais até Pequizeiro.

Não sobrarão varões de Manassés
E a velha telurista em Natividade;
E, em Tiatira, soprará esta Verdade –
Que minha Ira afogou-os pelos pés.

Galoparei o lençol freático na barra,
Desse tecido de estratégia equivocada
E manterei em líbio cárcere a enxada
Que fura artesianos pela marra.

Quem fez Natal palanque interesseiro
Às custas da ameaça no carguismo,
Destinarei seu cú no priapismo
E ao sádico Abadom, o Carniceiro.

Àqueles que a pulstar da histeria
E ao cálculo bazófio de seus genes
Clamarem meu perdão, pois me acenem,
Que assim, os chamuscarei com chamas frias.

Nem gritos ou abalos... Nada. Nada
Terá da minha magnificência
A piedade tosca da luminescência
De minhas fotocélulas zangadas.

Assim que o céu espocar que nem um crânio
E a massa atmosférica rarefeita
Queimar diuretada à baioneta,
Irei pulverizar o teu gerânio.

E os mortos subirão dos breves quartos,
Louvando meus pavores quanticistas
Ao Demolonomicon dos satanistas
E ao livro de Balkan que sangra partos.

Porque nenhum ruído dessa queda
(Estampido que deixou o diabo surdo
Ou bala de fuzil às mãos de um curdo)
Irá se sobrepor à minha moeda:

Sestércios de catodos e raios raros,
Minados da cratera em Wolf Creek
E nas jóias da cabeça de um cacique
Que faz do inimigo, penduricalho.

E até os poraquês que estão nos tanques,
Numa fritada cósmica, deixarei,
Discriminando os valetes desse rei
E os cães que delataram Anne Frank.

Um rei tão ilegítimo, um mouco;
E uns nobres tão incautos e bisonhos –
A corja que herdou o Poder medonho
E, nele, enlouqueceu de pouco a pouco.

Por isso, na patrol de minha pisada
(A retroescavadeira intra-estelar)
Irei terraplanar de lar em lar,
Plainando a lassidão dessa privada.

Raspando, das paredes duma fossa,
Os poucos vermes baixos que sobrarem
E o creolinilizando os que atacarem
Com raivas de albedo em ondas grossas.

E quando os imolados desse Graal,
Da raça das Figueiras e das Dianas,
Arderem em fogo-fátuo uma semana,
Meu Corso irá ao Último Portal.

No meu contratualismo medieval,
A lógica de Hobbes está cingida;
E não diferenciarei gente fingida
E a todos queimarei num forno igual.

O guarda, o carpinteiro e o Fontenelle,
O prefeito, o jurista e o açougueiro,
Na brasa, eles é que serão os primeiros
Churrascos na fornalha de Menghelle.

Na graça de um pavilhão de sóis,
Que implodem radiações desconhecidas,
O último planeta encontra vida
No ar alambicado dos álcoois.

Em cada casa e quadra de arlequim,
Atentem temerários reis do Norte:
A marca ensangüentada ao passaporte
Os impingirá o Tratado de Nanquim.

Na espada de meu halo incandescente,
Que irá, que nem um anjo de Moisés,
Cortar pela cabeça os infantes pés,
Há um sopro de cerrado em meu presente.

Porque, na hecatombe que haverá,
O conto de Munchausen é de verdade,
Pimenta malagueta já não arde
E pedófilo padreco cessará;

Os Bórgia do Cerrado não irão
Roubar, como já agem há trinta anos;
E o Nicolau com sangue de goiano,
Capado, há de morrer sem ter perdão.

E sob meus impactos de supernova,
As gangas desta terra tão austera,
Ao solo crescerão em meio às feras,
Numa Era Gemológica das covas.

Em quartzos, topázios e ametistas
E o quilate agourado de Heron-Allen,
Dos ínferos, espero que me falem
Se alguns hão de os salvar os Kardecistas.

Porque na minha mira de obus,
Cingido pelo cofre de Rei Luís,
Nas jóias que a jovem Tudor quis,
Galantemente as explodirei num pus.

E quando meus sonoros meteoritos
Bradarem num abre-alas meu alarme,
No anúncio astro-bélico da carne,
Verão que não adiantam tantos gritos.

Mas temo, caso Deus esteja atento,
(Na hora universal que nunca dorme
Aonde há os planetas mais disformes)
Influa na energia do aposento.

No seu rincão e luto de Deus-Longe,
No chambre – a casa mágica do átomo –,
No fungo que azeda este pão ázimo,
No mundo espiritual onde se esconde,

Que venha o Arquiteto em intervenção
- Ação fora do prumo em meia Era –
Depois de tantos mortos nas crateras
Nas valas de Saigon e de Assunção,

Nas clandestinas covas em Carajás
E no fosso escravocrata de um sujeito,
Que afina no bigode o mau preceito
E passa por bom pai dos Orixás;

Ou nas cadeiras rotas dos inválidos
- Umas vítimas de tiro em Papagaio
A mando de um patrão em cavalo baio,
Que arma traição em votos válidos;

Que venha como a Luz antecessora
Do Ser que me interpôs os rodopios
Na Terra de Levi, onde Papas Pios
Degolam os mouros na masmorra.

Eu temo que essa Luz que se apieda
De monstros incomuns entre outros monstros
Acoite esta escala de mil angstrons
Na força negativa que azeda.

Aos broncos seres rudes do cangaço
- Herdeiros que cultivam este solo –
Lhes dando o que bem deu a Marco Pólo:
O tempo a descobrir da seda um traço.

Porque na Mansidão do Ser que rege
Os sóis e os desencontros de estrelas,
A sua solidão não deixa enchê-las
Do ódio do cristão sobre o herege.

E sei que meus estrábicos melotrons
- Os sons armagedônicos do impacto -
Num psicodelismo bem barato,
Emulam um coral cósmico de sons,

Abaixo da ianosfera numa concha,
Cobrindo o Tocantins numa redoma,
Nas curvas de um teatro de Sodoma
E que os sons do Apocalipse destroncha.

Um misto de Rembrandt e Mendelssohn,
A música do Caos destruindo abrigos
Até sentir furar meu próprio umbigo
À voz de Karin Dreijer Andersson.

E sei que sobrará a Cruz dos Pretos
E os arcos do Palácio e o frevedouro;
E de ninguém lhes arderá o couro
Do fogo que possuo em carburetos.

Porque muito imagino que o Senhor,
Num ato redemptório da Consciência,
Anule sua omissão e a concupiscência
Em ignorar os mortos no Terror

Ao longo destes séculos fingidos
- Do Reich, de Cabul e de Angola -
Aonde corpos vários nas sacolas
Enchiam a cruz dos cães arrependidos.

E temo que, às mãos do meu destino,
O Ser que engendra os eixos cartesianos,
Anule a sagração dos meus radianos
De meteoro impávido e assassino;

E estanque meu trinar de Anacreonte
E o grito de Cyndel que, à voz ranzinza,
Viria pra infestar o ar da cinza,
Que exterminou na Terra o mastodonte.

Porque na minha linhagem de cometas,
Que são Anjos da Morte sofredores,
O mundo que conhece os dissabores,
Já sabe até o sabor dos meus gametas:

Claros torrões da lava de Mercúrio
E sôfregas, de Hades, ondas mortas –
Fina cangalha em labaredas tortas
E o conceito oriental de Furyo.

Mas, pode vir o Pai sobre este domo
De gentes e animais da Zona Norte,
Cuspir um vendaval de cosmos, forte,
E estraçalhar as fibras do meu gomo.

A Ira que desando é um Mal curável
E o Begbie raivoso do meu Eu
Anula minha lerdeza de Morpheus
Num código Matrix indigitável.

E muito antevejo, antes que rompa
As nuvens rarefeitas deste estado,
O ato contra-ataque beligerado
Da força do Divino ao som da trompa;

Porque se já o conheço doutro Lar,
Na paz de sua lágrima perfeita,
A Rendição de Deus que aos homens espreita,
Talvez me pulverize em pleno ar.



Palmas, 18 de Dezembro de 2007



(F.N.A)

"Trac de São João"


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...Passa o calote adiante, mano!



“Trac de São João”


Um servidor revoltado é uma proeza –
Dá birra, pede colo e faz beicinho.
Precisa de reajuste e um carguinho,
Senão lhe ferem os ares de princesa.

Sujeito põe na bunda dos capangas
E a raça de escravos inda discute
Se pára ou continua o cuti-cuti;
Se morde ou lambe o saco do Paxanga.

Daí, alguém com o bolso endividado,
Sugere: “Nós paramos por um dia
E um choque, assim daremos no estado”.

Mas pula da fileira um partidário –
“Que é isso, companheiro? Que agonia...”
“Cobremos do mais novo mandatário!”


(F.N.A)

"S.O.S Igarapé"



...Que fauna linda!! Olha!! Aquilo é um jacaré?
...Quase. É o Tribunal Eleitoral...
...Óóóóó... clic clic clic clic...


“S.O.S Igarapé”


Dejeto que flutua em rio dormente
(Das bocas de esgoto das cidades
Ribeiras que deságuam amenidades)
Nos cega ou então deixa doente.

Um bando de cientistas empedernidos,
Que coliformes busca nas marés,
Irá deixar mais sujos nossos pés,
Enchendo a fossa negra dos partidos.

“O rio há de ser salvo, mas o campo
Precisa de queimada e derrubada
Pra combater pulgão e pirilampo!”

"E, assim, tirando o foco dessa sina,
Que é a soja pelas roças cultivadas,
Salvamos nosso rio de tanta usina."


(F.N.A)

quarta-feira, 29 de julho de 2009

"RadioAtividade"


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“...A rádio atividade leva até você, mais um programa – dedique uma outorga a quem você ama!”



“RadioAtividade”


Era um punhado de emissoras num rateio
Em ondas curtas, médias e fraternas –
Quando, no meio da jazida desse seio,
Um rato narigudo ergueu suas pernas.

Trincando dedos, infla o peito e suspira,
Já repassando a um comparsa das antigas –
“Ô nego véio, sabe aquelas raparigas
Da oposição, tão só os ossos e a pira!”

“Tem o patrão, dono de fato, esse consigo
Ludibriar e sugerir uma sociedade,
Numa emissora bem distante de seu umbigo

Que esse feudo notará bastante tarde.
Daí lançamos tua chapa de amigo
E implodiremos muitas urnas na cidade".


II


"Meu presidente, essa oferta é muito boa,
Logo eu, ingrato ex-amigo de ocasião,
Que já subi numa carreta na União
E achincalhei o teu patrão e a patroa,

Creio: a outorga poderá me ser um passo
Até à cadeira da Assembléia do Chiqueiro.
Eu, que divido com um Cumpadi do Manguaço,
Umas antenas, poderei ser o primeiro

Dos maus traíras que andaram noutro rio
E que, conforme tu me drenes dessa lama,
Eu poderei chamar o amigo de “meu tio”

E iremos juntos confortar a União –
Tu, nos papéis e na devassa da derrama;
Eu, deputado, irradiando a comissão".


(F.N.A)

"Colar de Linguiça"


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...Conforme a regra ortográfica, sem trema na linguiça, não trema!!




“Colar de Línguiça”


Eu tenho os meus dedos decepados
Pra amigo algum levar em minhas mãos,
Pois livro alguém da ingrata condição
De a lágrima fingir ao me ver finado.

Por Cícero que andou em lugar errado,
Plutarco que, em bordéis, se fez capão,
Eu tenho é uma sagrada afeição
Àqueles que não fazem-se tapados.

Do muito que nutri em viciosas
Rodinhas e futricagens de leitoas,
Sobrou-me uma sentença tenebrosa:

Mais vale um cão sozinho sem coleira,
Que muita casa cheia de patroas
E quilos de lingüiça à geladeira.


(F.N.A)

"Pigtográficas" by Jean Teixeira

CCZ, vigiai e dedetizai!

terça-feira, 28 de julho de 2009

“Companhia de Rodeio Aliance”


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...cavalo bravio dá tombo que até parece encomendado...



“Companhia de Rodeio Aliance”



A festa se desdobra entre as garrafas.
A serra descortina-se ao sereno.
Alguém bebeu demais e num aceno
Convoca o capataz pra coisas safas.

Sentindo ao peito o nó da liberdade
Do vento pela serra lhe cortando,
Alguém lhe arria um potro da cidade
E a nobre vereadora sai marchando.

Mas, do cavalo, o arreio se desprende,
E num pulo do alazão pelo terreiro
A pobre amazona se transcende

Num tombo de lhe inchar a cara inteira.
Mas, qual foi a surpresa do ferreiro:
O nome do cavalo? Quarta-Feira!!


(F.N.A)

"Dama de Igapós"


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...Soneto dedicado à minha amiga e conterrânea JOELZA - uma paraense do pé rachado, bebedora de açaí e dançarina de carimbó!!

Quanta saudade da terrinha!!!



"Dama de Igapós"


Tu bebes do Pará, em tuas veias,
O sumo do açaí em hemoglobinas -
Destrinchas, em teus ossos, parafinas
De cuias pintadinhas em Oeiras;

A suma pajelança em tuas ameias
Paredes de taboca nas retinas,
São luzes de igapó - são lamparinas -
Que guiam a procissão em marés cheias;

Tu sabes como é o Mapinguari -
Um bicho tão revolto como somos:
Caboclos fermentados em tipiti;

Tu sabes porque és da terra, rouca
Manhã ximanga de cajás nos pomos,
Fúria poranga em lágrima cabocla.


(F.N.A)

"A Parábola dos Escravos"


...Um quarto de cem: promessas, promessas, promessas... ...O bom é que os escravos são mansos!...


“A Parábola dos Escravos”


Na véspera de mais um ramadã,
O amo, peregrino indo à Meca,
Promete a três escravos a tarefa:
Fazer valer cumprido o seu afã –

De a cada um dos pobres, a maçã
Do paraíso pô-la em suas mãos.
“Cumprindo o que deves, bom Hassan,
Terás de nós, os servos, gratidão!”

A cada um dos pobres, ele vendeu
Três quartos de um cento de promessas,
Que o cinco vezes cinco se perdeu.

Não vale ir à medina, o homem mau,
Se o diabo está no bolso com suas rezas
Plantando, entre as moedas, vendaval.


(F.N.A)

"O Bedel das Comissões"



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...Dizem que vão julgar, mas nem explicam como quem acabou punido foi um simples caseiro.




“O Bedel das Comissões”


Eu lembro do bedel da antiga escola
De irmãs que estudei na tenra idade –
Afeito a dar chutões e jogar balde
Com merda em quem foi pego dando cola,

O velho - ele era magro e aleijado -
Jogava terno, dupla e no milhar
Do bicho, numa banca do bilhar
Que tinha lá na esquina do Reinaldo.

“Mãozinha”, lhe xingavam à cara nua
E ele, com a capanga, (havia cimento!),
Saía a dar pedradas pela rua.

No fim, era um monstrinho sem perigo,
Igual às comissões de parlamento
Que fingem dar pedrada entre amigos.


(F.N.A)

"Anel de Rubi"


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“...Eu é que não boto o pé em beira da campina pra cobra me morder! Eu sou é advogado!”



“Anel de Rubi”


Era um cantor de kizumba e de biboca,
Que fez da vida artística um pastel,
Em ser uma versão de Dom e Ravel,
Pulando na fazenda igual pipoca.

Elogiava até se à boca tinha paçoca,
Cuspindo rimas pobres em seu tropel.
Do jeito que um sapo cai do céu,
Tornou-se bacharel e rei da taboca.

No dia em que virou autoridade,
Em meio à crise ao seio da autarquia,
Esqueceu de onde veio (qual cidade?);

Quando gritou com um pobre assalariado,
Que lhe cobrava o apurado do dia...
“Cuidado, que eu sou advogado!”


(F.N.A)

"Burro de Cigano"


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...À degola que está por vir. Compromisso com porra nenhuma! Mas pra quê, mesmo??



“Burro de Cigano”


Depois de vinte anos bem vividos
Na pauta, no ofício e na amargura,
Me surpreendo, ainda, com a candura
Que tratam nossos vivos bem morridos –

O jornalista é esse cão arrependido,
Sem rabo, carrapato e ferradura,
Que serve como lombo de uma mula
À prática do hipismo consentido:

Patrão explora, chuta e manda o pé
À bunda e ao retrorêgo do malandro,
Que vive o idealismo porque quer -

Dispensa, manda às favas... foi engano!
E, assim, sigo na marcha, apanhando,
Alegre feito burro de cigano.


(F.N.A)

segunda-feira, 27 de julho de 2009

"Pigtográficas" by Jean Teixeira


"A Pedra e o Pré-Datado"



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...pra sustentar o vício, vale o malefício?




“A Pedra e o Pré-Datado”


O clima na favela é de alegria.
Perante tanta crise financeira:
Com cheque circulando a noite inteira,
Me bate um não-sei-quê de nostalgia...

Lembrança quando a vida na Fazenda
Era rude e na base do chicote -
Um tempo em não via-se magote
De modernete usando nossa renda

Em boca, nas quebradas, em talão farto,
Prensando uma pedrinha no cachimbo,
Escondendo viatura ao meio do mato.

E eis o que virou a aldeia modelo –
Lugar onde bandido tem carimbo
E bate-pau se droga até o cabelo.


(F.N.A)

quinta-feira, 23 de julho de 2009

"Cofrinho Artesanal"


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...tá explicado, artisticamente, porque, dali, dinheiro some! Rita Pavone, por favor, me passe um martelo!


“Cofrinho Artesanal”


A terra se amolece no eântaro,
Que asperge goles finos de argila,
As mãos do artesão moldam a vasilha
Na molde obturatório de um ântero –

Um cofre: de uma massa bem macia
Que funde o dinheiro pago em produtos
Com nobres interesses do oleoduto
Que escorre do Palácio à Autarquia.

A arca é este invólucro rentável,
Que toda venda em arte deveria
Poupar, mas tem destino condenável:

A rata rouba a moeda. Nem o faro!
E assim ninguém impede a quebraria,
Porque o cofre tem corpo de barro.


(F.N.A)

"Pigtográficas" by Jean Teixeira


Ensino à Distância: Novos Tempos

quarta-feira, 22 de julho de 2009

"Lei Maria da Peia"



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...Mas quem nos protege, afinal?




“Lei Maria da Peia”


Distinto e nobilíssimo senhor,
A que devemos a honra da visita
Que fazes à DP sem que a birita
O tenha conduzido a este setor?

Notei que a perna inchada (indolor?)
Lhe sangra como vêio de bauxita –
O senhor caxanga por ser sibarita
Ou é aleijado ou gosta de ter dor?

“Que aleijado... O corte nesta perna,
Pois, foi-me feito por navalha cega
Que afiaram no tempo das cavernas!”

“Minha ex-mulher, na ira que a rege,
Rasgou na faca o crime que não pega
Em agressoras, pois a lei protege.


(F.N.A)

"O Dragão Colombiano"


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...Essa cova em que estás, com palmo medida, é a cota menor que tiraste em vida. É de bom tamanho, nem largo, nem fundo - é a parte que te cabe neste latifúndio... (João Cabral de Melo Neto)


“O Dragão Colombiano”


Esquema à distância bem educativo
Lampeja o bafo quente desse Granamir,
Que atravessou os Andes pra cair aqui
E transformar em torrada seres radioativos.

Os ratos que o Dragão assusta no cerrado –
Mucuras bem inchadas de tanto comer –
São ratos que roeram até não mais poder
La plata que pingava em cofre de estado.

Daí um jornalista, um pobre cão na terra,
Assusta a ratazana e espeta esse dragão
E cai numa sarjeta, sob o luar da serra.

Pagou na própria vida a conta do mistério –
As ratazas passam e o Jorge sem Dragão
Habita nova casa em pobre cemitério.


(F.N.A)

"Pigtográficas" by Jean Teixeira




terça-feira, 21 de julho de 2009

“O Descanso de Jorge”


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A Jorge Gouveia (In memorian)


...Tua pena riscou a história - apagastes o livro do conhecimento e escrevestes teu mundo nele.



“O Descanso de Jorge”


Jorge de Capadócia, Jorge bom guerreiro
Da luta que o dragão desdobra em contra-ataque,
Tivestes no breve plano que suportar o baque
De ter ninguém em vida e ninguém tê-lo inteiro;

Jorge de Lima, O Jorge desses lampiões
Que o acendedor, na rua, acende e apaga,
Talharam-te um poeta em tua cara magra
E nela é que teus versos foram iguais tufões;

Jorge Sozinho, o Jorge de uma mesa ao canto,
O oráculo escrevestes (com o silêncio, um dia),
Num copo de bebida, o teu olhar de espanto;

Jorge, Morto Jorge, o mundo te foi pouco,
Porque ninguém entende um gênio na agonia,
Porque ninguém decifra o coração de um louco!


(F.N.A)

segunda-feira, 20 de julho de 2009

"Forte Apache"





...A um amigo querido que anda meio esquecido!



“Forte Apache”


Aos doze anos, sem ter dinheiro ao bolso,
Na mira de um presente, fui até meu pai,
Igual a um mamulengo velho quando cai
Ladeira abaixo alegre em carnaval insosso.

- Um forte apache, quero! E bem que poderias,
Meu pai, doar a um filho que te dá orgulho?
O velho, lobo arisco, fino igual um gorgulho:
- Tu tens casa e comida! Por que deveria?

Um instante de memória, um ensinamento:
Não pude ter na vida tudo que bem quis,
Porque a vida é mais que um sopro, é um vento.

E, hoje, quando esnobo coisas sem ter medo,
Recordo de meu pai, pois fui seu aprendiz,
E lembro que o orgulho é o pior brinquedo.



(F.N.A)

“Reaja, Marshmallow!!”


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...Apatia, incerteza, marqueteiro motivacional... Afinal, quem mudará Marshmallow??




“Reaja, Marshmallow!!”


Tentando ver-se viva, até uma ameba
Desdobra no intestino o rastro anzol
Que vence as drágeas de Albendazol
E aplica, em nosso bucho, dor nó cega.

Ou mesmo uma toupeira num buraco,
Que cai o teto e o pó lhe tampa a fuça,
Resiste dando unhadas e lhe aguça
O tino em não viver coçando o saco.

Mas há umas espécies que procriam
Em cargos e em culturas de micróbio
Parasitando as verbas que viciam –

São seres incapazes e depressivos,
Que ao perder o cargo sentem o opróbio
De serem mais que amebas – Mortos Vivos!!


(F.N.A)

"Taquaruçu Way Of Life - I"


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...Taquaru céu, taquaru sol, taquaruçu... taquara mata azul...




“Taquaruçu Way Of Life - I”


Um tapa na soneca bem à tardinha,
Uns pássaros retrinam na soleira,
Um velho capiau volta da feira
E as velhas vão comendo paçoquinha;

O estouro da cascata ao pé do ouvido,
A serra que se eleva ao meu quintal,
Um frio em minha coluna cervical
Congela os meus pés de falecido.

Viver no paraíso... eis como vivo!
Lugar onde o duende está chapado
Com Ufo, daime e pan-esoterismo;

Amar Taquaruçú... é a minha sina,
Mas antes se eu tivesse me casado
Com um dono de posto de gasolina.


(F.N.A)

domingo, 19 de julho de 2009

“O Combalido Exército do Tigre”


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...Os caras até que tentam, mas, por aqui, ninguém investe sério em coisa séria.




O time entra em campo e o português,
Distante lusitano em campo magro,
Comanda uma peleja que é um estrago –
Elenco acostumado a ser freguês.

Tristeza, até porque eu bem queria
Que a garra desse escrete azulino,
Forçasse o gol alheio sem escrutínio
Fazendo o bom José virar Maria,

Tamanha fosse o tento a sua alegria,
Mas tudo do que é vemos é tragédia –
Fraqueza, compaixão e inda comédia.

Esse é o cenário amargo da sangria –
Federação sem pulso que faz média
E um torcedor que sofre todo dia.


(F.N.A)

sábado, 18 de julho de 2009

“Repelente de Mosca Azul"


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...mas há salvação, antes de subir a rampa. É só ouvir mais!!



“Repelente de Mosca Azul"


I

Mas um bom lepecid deslacrado, tenho
Que possa o livrar do soro, lentamente –
Mata-Bicheira de ego é como um emoliente
Em encosto de peroba e raiva de portenho.

Calado, enquanto atinge-se sem perceber,
Meu pobre amigo pode nem lembrar quem é
Que muito lhe ajudou a não esmorecer –
Não era amigo rico ou pobre garnizé...

Era um sujeito bronco de ideal sincero,
Que não abanava mosca que pousava ao copo
De sua cerveja doce, como os ludogeros

Que só faltavam pôr bebida em sua boca,
Ansiando se lamber do resto desse copo –
Um cargo, um laranjal, uma mamata louca.


II

Porque um Ideal, a besta que eu sou, construiu:
Decoro, transparência, um bom zelar do alheio -
A verba contribuída por uns cancões no seio
Por essa república cujo alicerce já ruiu.

Mas bom aprendizado, me sendo mal o efeito:
Não tenho mais amor naqueles sonhos tolos –
E se não tiver pão, que possam comer bolos,
As antonietas de seus tempos de re-eleito.

Porque meu pobre amigo gosta é de sacana –
Quem passa a mão na bunda do guardinha,
Ou, ante aberta porta, mija na empresa.

E as antas que constroem abrigo na choupana
Da Esperança morta serão as sardinhas
Que servirá aos cães de sobremesa.


(F.N.A)

"A Mosca Azul"


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...Nem chegaram os dias de Glória (se virão), e já surge uma vítima deste inseto nocivo.



“A Mosca Azul”


Mordendo arroxeado nervo do pescoço,
É, esta mosca azul, o díptero que assombra
Quem bebe do poder, estando mesmo à sombra,
De não se perceber que arranca nosso osso.

Ela é a Hemissinantrópica variância
Que sobrevive à ausência de um lar humano,
Mas pode injetar, em seu tatear de pano,
Mil ovos arrogantes em nossa ganância.

De novo essa drosófila infecta um amigo -
Ele que se distava das asas, em Istambul,
Volta à mordida antiga que já teve ao umbigo,

Enquanto era um nobre em anos supersônicos.
Aqueles que não enxergam essa mosca azul
É porque vivem cegos ou são bem daltônicos.


(F.N.A)

sexta-feira, 17 de julho de 2009

“O ProLIXO Discurso do Adeus”


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...Com certeza. Estou Muito feliz. Graças a Deus, que vais embora, Bobo do Mal. Livramo-nos de vós!!




“O ProLIXO Discurso do Adeus”


Com certeza. Estou muito feliz. Com fé em Deus.
Homens de Bem. Gente do Mal. É de todos nós.
Com certeza. Estou muito feliz. Com fé em Deus.
Homens de Bem. Gente do Mal. É de todos nós.

Com certeza. Estou muito feliz. Com fé em Deus.
Homens de Bem. Gente do Mal. É de todos nós.
Com certeza. Estou muito feliz. Com fé em Deus.
Homens de Bem. Gente do Mal. É de todos nós.

Com certeza. Estou muito feliz. Com fé em Deus.
Homens de Bem. Gente do Mal. É de todos nós.
Com certeza. Estou muito feliz. Com fé em Deus.

Homens de Bem. Gente do Mal. É de todos nós.
Com certeza. Estou muito feliz. Graças a Deus.
Homens de Bem..... - Gente do Mal, que será de vós??


(F.N.A)

"Galactus Está Entre Nós!"





...Mr. Reed Richards, acaso poderias me emprestar teu nulificador total?



“A Fome de Galactus”


Arauto insaciável em mundos e astros,
A fome que lhe move é rastro gênico –
Tentei correr de si tomando arsênico,
Bebendo demissão num alabastro.

Pois leva, entre seus poros, o higiênico
Suor de estricnina com emplastro.
Ele é o Galactus Primário dos Arsênius –
O que devora emissoras em seu rastro

De demissões sumárias e ingerência.
O conheci depois que ter comido
Duas tvs, uma rádio e uma agência.

Agora, vejo dentes largos (outra vez)
Desse vampiro a me causar prurido
A cada quinze dias ou fim de mês.



(F.N.A)

"Solavanco Geral"


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“...liderança ainda que tardia!” – vociferam os poetas do noticiário. Alguém poderia me chamar aí o Silvério dos Reis, please!?!?



“Solavanco Geral”


Solavanca, Brasil! Aqui a miséria
É o insosso foie-gras de puta e pobre.
Um resto de vt vira matéria
De classe exibida em horário nobre.

Na hora do almoço, não os livramos
Da ida até o banheiro pro baldeio –
Mas vale vomitar e pôr no meio
O faro jornalístico que estragamos.

Trocar por meia sola um tênis novo
É o mesmo que jogar comida fora
E se banquetear com um gouro ovo.

É como se limpar antes que a bosta
Saia rompendo as pregas, cú afora,
Sujando do joelho até a costa.


(F.N.A)

"Mon Petit Prince"



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...Na asa de teu avião, Exupéry, um astro se confunde com um óvni! Não, não é nada. É apenas um balão de ensaio.



“Mon Petit Prince”


O mundo pequenino de seus sonhos
Não cabe o baobá de sua vaidade –
Pois ele quer inteiro e não a metade
Até do que tiverdes mais tristonho.

Um giro na sua ânsia tão indecisa
Completa a translação em que gravita –
Mulher, puta, cerveja, show e birita,
Conluio, amigo falso e aquela brisa.

Ó meu pequeno príncipe, eu queria
Que toda a tua pompa de Rei Cego
Me fosse mais real, menos magia.

Quem sabe eu te enviasse um bastião
Pra ir te resgatar do próprio ego
Que te engoliu em ti – vosso dragão.


(F.N.A)

quarta-feira, 15 de julho de 2009

"O Esposo Bom Partido"

...daí expulsaram o esquerda que era direita. Peraí, o direita que era esquerda, mas que agia duplamente em ser direita por estar na esquerda... hum... Política.


“Esposo Bom Partido”


Ninguém serve ao senhor e ao diabo!
Pois digo: em política isso é balela –
Neguinho esconde o jeito de donzela
Nas calças de peão socada ao rabo.

E aqueles messiânicos nababos,
Que cosem as bandeiras na panela
Das lutas partidárias com a flanela...
Se limpam na vassoura até o cabo.

Então, o trai-não-trai é dos casados -
Aqueles que desposam uma bruaca
E não as comem porque são capados.

E sem comê-las, miram a do vizinho.
Essa é a tal fidelidade de babaca:
Um faz-de-conta de partidozinho.

(F.N.A)

"Canibalismo Já!"



...Guajajaras, tamoios, tapuias, todos timbiras, tupis... todos no chão. (Lô & Márcio Borges)


“Canibalismo Já!”


I

O Carajá caga no mato e não na louça,
O javaé só toma banho em Igarapé;
Nem o xerente com sabão lava seu pé;
Xambioá mal põem escova à própria boca.

Assim trabalha o sentimento democrático
Dos velhos caraíbas que agenciam
A grana que sumiu ao lençol freático,
Em tubos e privadas que viciam.

É quando penso: a besta do Anchieta
Com papo de amor, paz e confeito
Tocou há quinhentos anos a trombeta

Da apatia auto-destrutiva dos Ancestrais.
Queria ver se roubariam desse jeito,
Se nessas tribos vivessem canibais?!


II

Se Hans Staden cozido servido fosse
E não escapado testemunha do jantar,
Quem sabe ao menos, um velho tupinambá
Saberia: nossa carne é bem mais doce.

E se essa protéica dieta perpetuasse
Desde os tempos que Caminha copulava
Com amazia uma tapuia feita escrava,
Talvez, aqui, nem mais um branco se encontrasse.

E se vivessem, nem kulina que preserva
A fome amarga à carne branca e quente,
Mal comeria esses velhotes na conserva,

Porque cairia pelo chão como a aftosa
Desprende espasmos numa vaca doente
Carne de velho é feito caça: bem reimosa.

(F.N.A)

terça-feira, 14 de julho de 2009

"Credo Capitalis"


Vou abrir uma exceção. Em época de plágio nas redações dos jornais e blogs, o texto logo abaixo, afirmo: NÃO É MEU!!!




Na Igreja do Ai, Jesus, do Mecardo Globalizado dos Últimos Dias, o Concílio de Wall Street aprovou o novo credo do mercado de capitais:


"Credo Capitalis"


Creio no Capital todo-poderoso
Criador do Céu e da Terra
E no Livre-Mercado
Seu único filho, nosso Senhor.

Que foi concebido pela lei da oferta e da procura,
Nasceu de nossa ganância,
Padeceu na baixa dos mercados,
Foi incorporado,
Refinanciado e desvalorizado,
Despencou no índice Dow-Jones,
Recuperou-se com viés de alta no terceiro dia,
Subiu para as Ilhas Cayman,
Está depositado em conta numerada numa empresa de fachada,
Donde podem vir a resgatá-lo
Os vivos e os mortos.

Creio na bolsa de valores,
No sistema financeiro internacional,
Na auto-regulamentação dos mercados,
Na remissão dos títulos públicos,
Na repartição dos dividendos,
No Estado mínimo,
Na livre-iniciativa,
Na dívida eterna.

Amém


(Do blog "O Sinistro")

"A Originalidade é Incolor"


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Ao aniversariante do dia: um companheiro jornalista, vascaíno por excelência!!




"A Originalidade é Incolor"


A queda da Bastilha é um casuísmo
Daquele liberalismo que tornamo-nos -
O tempo já nos falta e nem notamos
Que o dia a dia é nosso reumatismo;

Nem conto que esquecemos do abismo,
Que em tanta coisa fútil compensamos
Em ser, viver, morrer - perdemos planos,
Que ser mouco de pedra é um maneirismo.

Mas, antes que o resto da jazida,
Mercúrio dessa água envenenada,
Nos sobre na bateia igual comida,

Tu vens para mudar à tua maneira -
Tangendo ao infinito essa boiada,
Sangrando no ofício a vida inteira.


(F.N.A)

segunda-feira, 13 de julho de 2009

"Hamlet ou Omelet?"




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...são fidalgos que voltam da caçada... ("A Cavalgada" - Raimundo Correia)





“Hamlet ou Omelet?”


Ser contra ou não ser? Eis a questão!
Por isso me deparo com o Choque
Da tropa que defende o nosso escroque,
Na banda podre intacta ao fardão.

Eu não que sou boi velho em arribação,
Mas sei de um jornalista que se joga
À boca da piranha e ainda se afoga
Em nome desse santo da União.

A mídia não entende a própria Igreja
Do parlamento em cleros por estado,
Pois não lhe sabe os custos da sobeja.

Culpado ou não culpado? Não importa!
Atos secretos também são contados
Milagres numa canonização torta.


(F.N.A)

“Até tu, Lucius?”


O soneto abaixo é sobre uma injustiça cometida contra Lúcio Flávio Pinto - jornalista do Pará. Ele é a nova vítima do peso desmedido da Justiça quando a informação se choca com o interesse do patronato.


“Até tu, Lucius?”


Senado está arranjado. É feita a cilada...
Surge nuestro Il Capo, às glórias, satisfeito –
Traz o emblema do império sobre o peito
E uma tela LCD na cara inchada.

Mas lhe difere o que a César foi legado –
E os Senadores, um a um, bem a seu jeito,
Invés da faca no tirano, deitam ao leito
E se aliciam com esse nobre grão-ducado.

O jornalista que o punhal trazia às mãos –
Cinzel e escopo de denúncia comprovada
De acusador se torna “alvo”, diz o ladrão.

E o imperador salvo da ceifa a muito custo
Com um juiz à mão esquerda, desce a enxada.
- Não viverá sem que lhe tenha dado um susto!”


(F.N.A)

sábado, 11 de julho de 2009

"O Covil do Lobo"



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"...eu compro, tu compras, ele compra - aquele que comprar primeiro, leva eleitor, juiz e urna juntos!"


“O Covil do Lobo”


“Esse dinheiro que está aqui não é meu,
E nem esse cartão... Nem a digital é minha!!”
Surpreendentemente, essa ladainha
Inocentará, ao delegado, o canalha do Tadeu

Aquele que pegou a minha irmã e comeu,
Sem muito lero-lero ou papo-camisola.
Sua única estratégia foi entrar de sola
Na urna da coitada como um fariseu .

Não vale ter Justiça a quem só descabaça.
Mister que haja pena para o introdutor
Do falo eleitoral na junta da cabaça.

Porque assim é fácil, mediante a prova,
De se negar, mais sendo lobo-corruptor,
Enquanto arrasta a ovelha ao fundo dessa cova.


(F.N.A)

sexta-feira, 10 de julho de 2009

"A Loteria Secreta"



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...a liturgia do cargo obriga uma fézinha antes do voto!






“A Loteria Secreta”


I


Eu penso nas pedrinhas do Abi-Ackel
No cheiro de esquema quando surge –
Maleta parda, negra ou mesmo rouge
Maior que o Neverland de Seu Michael;

Mas desses quem mais lembro é o João,
Um suspeito ganhador de loteria,
Que se armou na cleptomania
E era, da quadrilha, o mais anão.

De todos os sortudos sem Congresso,
Nem Oswald de Souza arriscaria
Aqueles que aqui terão progresso

Conforme o cochichar do Deputado
E da banda que vier a nota fria,
O prêmio não ficará acumulado.


II


O eixo é vinte e quatro noves fora
No reino da abscissa descendente,
Na curva da parábola indecente –
A geratriz que surge me apavora:

Coiote devorado por abutres!
Assim na inversão dessa cadeia
Do alimento puro, além da ceia,
Os votos servirão entre chucrutes.

E não haverá sorteio em caminhão
Na boca das cidades do interior
Que cuspa as bolas da premiação –

Sem arranjo Fibonacci no rateio,
Já supra-inflacionando o comprador
Do cargo, ficarão com bolsos cheios.


(F.N.A)

"O Show do Papai"



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...E pensar que ser chefe de cozinha é bem melhor que isso... Papai? Isso lá é alcunha??



“O Show do Papai”


Papai, um velho cliente de governo,
Um íngua acostumado na mamata,
Agora despe a capa Magnata
E abraça pobre, freira e até pedreiro.

E cá, me agonizo EU por inteiro
Com tanta coqueluche de barata
Exposta numa imprensa que destrata
Da fonte até traveco no canteiro.

Dizer que é isento e que é ético,
Parece o control C do meu teclado
Mais gasto que cabelo de aidético.

Mas vós sois as culpadas, Estatais –
Que deram outorga a esse alucinado
Que envenena cães pelos quintais!


(F.N.A)

"Log do Jerimum"



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...da teoria dos números perfeitos e dos sujeitos suspeitos.


“O Log do Jerimum”


Mas afinal pra que serve um logaritmo?
Dada a potência exponencial do caos,
Nem mesmo sei do infinitésimo degrau
Que um artifício natural alcança o ritmo.

Haja função em que seu mecanicismo,
Não lhe duvide útil em seu complexo,
Vejo que a mente de um macaco Rhesius
Abrange mais que a Aids no organismo.

Por não entender mediante o axioma
No que nos serve ou nos soluciona
Quero saber-lhe se é cão incomum,

Da mesma forma como não entendo
Como um sujeito fica pretendendo
Ser um governador se é um jerimum.


(F.N.A)

quarta-feira, 8 de julho de 2009

"A Secretaria Encantada"


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...Como em Shangrilá: poeira cósmica, mantras e contratos milionários.




“A Secretaria Encantada”


Num canto, está o paletó; e a siriema
Velha desanda num piar à flor da mata;
O secretário desarrocha sua gravata...
E num instante teleporta-se a Ipanema;

É quando ouve murmurar duma cascata
E a ponte range sob o peso do esquema –
E, assim, o transcendental descobre a gema
Que lhe atesta ser o Nirvana da bravata.

Na assepsia de seus dedos de Sidharta,
Contabiliza uma a uma as moedinhas,
Enquanto o ronco da barriga mais desata –

Das muitas gentes lhe cobrando atrasados.
Mas, o Guru, num simples passe da varinha
Faz mouco ouvido a esse canto de finados.


(F.N.A)

"Banana de Pijama"



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...Ó manhãs de tédio de um empregado desempregado!







“Banana de Pijama”


O sol estala às copas densas do Jardim.
São dez da manhã de uma segunda.
Igual sonâmbulo, um sujeito coça a bunda
E esfrega a cara amassada no capim.

Uma olheira desponta sem objetivo
Que o olho triste possa, enfim, fitar –
Pois há uma desesperança em seu olhar,
Que lhe confere um ar de morto-vivo.

Um chute na cachorra e a empregada,
Desponta da cozinha com o suco
E um mangulão assado à madrugada.

O tédio lhe é tanto que eis o panorama –
O que era estrela, hoje, é só um matuto
Que mais parece um banana de pijama.


(F.N.A)

"Bigode de Vassoura"



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...Sarney também já foi criança - prematura, decerto!!



"Bigode de Vassoura"


A mãe varrendo a casa, vem o filho
Com os pés sujos de terra e lamaçal -
De cara e corpo nas poças do quintal
Direto pro azulejo e pro ladrilho.

"Eu que não te criei polindo o trilho
Que liga Garças além de Bacabal,
Por isso, limpe os pés no empecilho
Pano de chão que uso de avental!"

O jovem, bem político antes da idade,
Enrolando o bigode de vassoura,
Mediante a materna autoridade,

Disse: a lama, mãe, não me incomoda,
Quando eu crescer e não usar ceroula,
A merda que eu fizer estará na moda!


(F.N.A)

"Mulher de Bandido"


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...reduzindo, reduzindo, reduzindo as redações morrem, morrem, morrem..
Enquanto isso o discurso é....






“Mulher de Bandido”


O bom do jornalismo é o patrão –
Figura malabar que oscila tanto,
Que muitos dos que sofrem o desencanto
De ver onde trabalham a demissão

Acabam como as musas do Esperanto,
Falando numa língua de capão:
Não sabe-se se choram de emoção
Ou riem da tortura do espanto.

- Lá vem a guilhotina! Baixa agora
A cabeça de macaco que resmunga
Do piso e do salário na penhora!!

E assim, levando tapa, entrando em coma,
Uns bestas, tão covardes, tão calungas
Atacam não o patrão, mas o diploma.


(F.N.A)

terça-feira, 7 de julho de 2009

"Cabeça de Bode"


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Não esmoreças, Lúcio!









"Cabeça de Bode"


A maldição que lanço sobre o feudo
É mais que uma errata no caderno
Num canto de uma página do pseudo
Setenta sociabilíssimo de terno.

Pior que andar pelo Pará, em trupe,
Nesse teatro de fingir seriedade -
Praguearei até afrontar Guadalupe
Que corará a Santa da cidade.

Enterrarei, com notas frias e alianças,
Negra cabeça desse bode magro
Bem no portão de acesso às finanças,

Pra que os cabanos desse Grão-Pará
Saibam quem é a empresa do mal grado,
Que muito finge, sem nem disfarçar.


(F.N.A)

segunda-feira, 6 de julho de 2009

"Notícia Velha News”


...Quem quer ser sério aqui? Você?
...Melhor procurar emprego no Azerbaijão?!?!




“Notícia Velha News”


I

Bombom embalado num papel
Com jeito de Godiva em leite caro,
À doce namorada aguça o faro,
Que nem suspeita o cheiro do pastel,

Que é esse chumbinho disfarçado
Com bem mais glicerina, que cacau.
Assim é que descubro: esse jornal
Que começou com tudo, hoje, é finado.

Eu mesmo me iludo com o doce
Que aos olhos enche a baba do desejo
Mas tem a digestão igual a um coice.

E agora, com a boca amarga e tudo,
Seria bem melhor provar do beijo
De uma banguela, ao vivo, no estúdio.

II

Porque eu já cansei de ser projeto
Mirabolante como Mister M –
Que ilude como obras da Sudene
E faz, do que é sério, só um dejeto.

Promessas? Todas mais não as engulo,
Pois tudo do que faço é sobre elas –
Igual quem se alivia com cadelas
E reza aos pés do padre e do tinhudo.

“Mas, ora, o que interessa é o popular
Do sangue escorrendo no visor
E a bala recortando em pleno ar!!”

Jornal? Quem lhes precisa, seriamente?
Programa Comunitário ao eleitor
Transforma tudo em voto lá na frente!

(F.N.A)

sexta-feira, 3 de julho de 2009

"Bancarrota & Associados"



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...jornal fechou? Pé na bunda de quem, mesmo??








“Bancarrota & Associados”


Fecharam o CCZ. Findou a vacina
Da engorda monetária ao suplemento –
Dois cães tão viciados no alimento
Estão desesperados igual menina

Que perde uma boneca muito cara –
Uns novecentos contos de custeio,
Bem paga com dinheiro do recheio
De notas que nem tem fibra na cara.

A solução, agora é um retrocesso,
Pois posto foi o chefão rua afora
Do cargo que mantinha no congresso.

Pior foi a medida então tomada:
Fazer pagar no cú do jornalista
Um chute bem na bunda descansada.


II


Custeio reduzido como ajuste
Do veda rosca em torna da goteira –
Sem verba de governo pro embuste,
Adeus àquela oncinha na torneira

E o nobre semanário chapa branca
Com folhas que a gráfica vomita,
Terá um fim tristíssimo na tripa:
Papel de limpar cú e forrar tampa.

E toda aquela impáfia de vedete,
Que banca o cafetão, mas fere no ovo
Cliente com estocada a canivete,

Ruiu por terra ao custo de coitados –
Pois paga a meretriz cliente novo –
E jornalista... compra tudo no fiado.


(F.N.A)