O "Rabo da Porca" ficará nesse limiar absurdo que só as figurinhas de bastidores e o mais desanimado leitor podem perceber: o ensaísmo pragmático à imbecilidade. São sonetos políticos que refletem a vida num chiqueiro da Fazenda do Manguaço. O que passará, aos nossos olhos lassos e subrepticios, é a bandalheira de uma ação social que acontece entre porcos, mas que poderia ser refletida por nós, neste plano supra-racional. AH! TUDO AQUI É DO TEMPO DE ANTES DESSA IDIOTA REFORMA ORTOGRÁFICA
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
"O Dragão Mecânico"
...Monstros fabulosos desconstroem-se no feitio de suas magias.
...Este foi criado aparvalhado, descomunal, perfumado e... datado.
"O Dragão Mecânico"
Na era industrial, quem logo comerá
De um a um os filhos da bandalha,
Será uma grossa máquina que espalha
Fumaça sem usar carapiá.
Um monstro inane, em roldanas preso,
Batendo asas e cuspindo chama,
O Dragão Tecnicista do Dalai Lama:
Corpo em raça humana; tecnocrata em peso.
Diplomas saltam aos olhos dessa grossa fera,
Não forma-lhe um peão ou companheiro
A estrutura óssea, nem em seu globo a esfera.
Mas formam-lhe anônimos e uns medalhões,
Que na primeira lança de Jorge Guerreiro
Vão se mijar inteiro e arroxear os culhões.
(F.N.A)
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
"Mão de Tarado"
...A mão que afaga é a mesma que apedreja. (Augusto dos Anjos)
"Mão de Tarado"
Cansando com a ordem nas escolhas,
Retiro minha intenção a qualquer merda -
Serei a bunda onde se limpa a cerda
Da escova sanitária em cinco folhas.
Ninguém indica nada, nada indica
No paço complacente entre os peões -
Cabe somente à sua boca rica
A dentadura gorda em comissões.
Não diga-se: "ninguém foi avisado!"
O peso de sua mão é insensato
Sufoco em parte baixa de tarado,
Que aperta nos culhões até que o suco
Da última macheza estoure o fato
E a trolha de um político maluco.
(F.N.A)
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
"Condução Coercitiva"
Ô, Eufemismo pra bandido, pô?
"Condução Coercitiva"
Coercitivamente alguém me impeça
De planejar um atentado pr´esta porra -
Chega! Uma praga furiosa me aferroa:
Mutilar-me num chacal que em coisa dessa.
Mas, não me impeça em odiar cada segundo
Como uma leproso anseia a própria amputação;
Dizer: Maldita seja a escarificação
Que nos tatua a imundície lá no fundo.
Não é POSSÍVEL - e nem me ilustro o dicionário
Com o semantismo que o próprio nome encerra -
Seja POSSÍVEL evoluirmos ao contrário?!
Porque aonde há um cachorro, há um latido
E aonde há mais um ladrão nesta taberna
Surge um juiz, um advogado e um Partido.
(F.N.A)
"Os Homens da Capa Preta"
...Tenório Cavalcante, no trajar, é ficha!!
...Toga, dindin e sacanagem sempre foram irmãs no vício...
"Os Homens da Capa Preta"
A diferença é básica em habitação.
Deduz-se: mora bem quem tem dinheiro -
O mala faz de lar a Vila Cruzeiro;
E o Douto faz por toca uma mansão.
Enfim, tudo é bandido e por que não
Prendê-los numa cela onde o poleiro
Ajunta todo mundo no banheiro
Dormindo e dividindo o mesmo pão?
Nem tente se animar com o moralismo!!
Entenda: há uma alforria no país
Que livra do pecado os sem-batismo!!
E não leva vinte horas de arruaça
A festa de civismo, pois Juiz
Tem foro pra trair como o Calaça.
(F.N.A)
"Fissura no Partido"
...Racha no partido envolve racha, amigo e dor de cotovelo...
...Rico também sofre por amor, só que inda mais pela pensão...
"Fissura no Partido"
Distúrbio entre feições gera um abismo -
Se for no casamento, então, nem diga...
Tome o exemplo da morena rapariga
E do velhaco maridão por prosaísmo.
Feio demais, linda demais - é um mau negócio;
Rico demais, rica demais - Sempre alguém sofre
Na dor que a traição entorta o cofre -
Machuca mais que as dores do divórcio.
Agora, o que não pode é companheiro
Meter pela esquerda, no melado,
Na racha de um partido do terceiro!!
Assim é a condução de um casamento -
O pobre só é fiel porque é obrigado;
O rico quando trai é um passatempo.
(F.N.A)
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
"Elvis no Forevis"
...Pra que cérebro, militância, racionalismo ou it´s now or never??
...Seja um merda, ria das piadas do chefe e puxe muito o saco que o mundo lhe sorrirá.
"Elvis no Forevis"
Quem sabe de jornal como um coelho,
Que muito se entoca quando aperta
A coisa em seu mundinho de boneca,
Não serve de modelo frente ao espelho.
Nem serve pra usar o cerebelo,
Pois causa confusão no movimento -
Se anda, não formula um pensamento;
Se pensa, queima as luzes do cabelo
Engomado, com látex e brilhantina
Comprados numa feira de Las Vegas
No dia em que foi Elvis na latrina.
Pois, mesmo sendo um belo rola-bosta
É o novo Susserano em terras-cegas...
- É desses que Richelieu mais gosta!
(F.N.A)
"Pedra na Geni"
...Rala o tchan e rala a tcheca...
..."Já fomos mais prolixos!", chora a megera apedrejada.
"Pedra na Geni"
Não foi de todo o mal que ela um dia
Foi mais que governanta, foi patroa -
Tinha mansão, amigos e era a Boa
Opção pra se casar, não fosse a azia
De se perder mandato com a Fera;
Daí caiu mansão, sumiu amigo
E o furo na carteira igual seu umbigo
Tornou-a excomungada, má e megera.
Aqueles que cantavam suas obras,
Desafinaram junto com as artes
Ao passo que mordiam-lhe as cobras.
Mas, hoje, com papai em nova alçada,
Não há quem não lhe adore em qualquer parte
Ou ouse lhe punir dando pedrada.
(F.N.A)
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
"My Golden Chainsaw"
...Troféu infeliz ofertado, aquele.
...Coisa de quem não entende que a arte da sobrevivência anula valores e encerra qualquer moralismo - sexual, ecológico, religioso, social.
"My Golden Chainsaw"
Sabiam os quilombolas da Prainha
Que Dona Sinhá Moça enfim seria
Viúva e nada moça na entrelinha;
Custosa, cabra macho e boa Maria.
Mulher que está sozinha ao amor não fala;
Sobreviver sem o par é uma jornada.
Daí ter na boiada da invernada
A fina herança que forrou sua mala.
Subir cada degrau é um processo,
No mundo masculino onde a prosa
Enjaula o olhar menina do Universo.
Por isso é sua alma tão inquieta -
Viúva Negra a que ninguém desposa;
Mulher Inteira que não se completa.
(F.N.A)
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
"Super Toddy"
...Menino criado a Toddy merece contemplar nossas necessidades. Como ninguém, sabe dos problemas sociais, olhando pela janela de sua Ferrari...
"Super Toddy"
A mãe é que é culpada pois melou
Com fécula e chumbinho sua chupeta -
E o gosto nem mudou sua careta,
Porque o leitãozinho viciou.
Cresceu e é esse inútil que hoje vemos -
Falando sem saber sobre política;
Dançando como múmia paralítica,
Nos bailes sertanejos que nós temos.
Foi ontem que fudeu com imaginável -
Dom Pedro que abdica do legado,
Pois sabe: juventude é um naufrágio.
O invejo, igual epilético em pagode -
Tremendo por um pai lá no Senado,
Que houvesse me criado a leite e Toddy.
(F.N.A)
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
"Formigueiro Azul"
...Ex-baleia, ex-batom, ex-carioca sangue bom, ex-banana-federal, ex-otária sem enxoval... Agora a tribufu é chefe!
"Formigueiro Azul"
Depois que o Velho pôs no formigueiro
Uma saúva anã de outra colônia,
Eu disse: "Mas, ói que catzo sem-vergonha!
Envenenou a rainha por primeiro."
"Meteu-lhe uma saúva bem nutrida
Da pele bem vermelha e cara inchada.
Enfim, Ele estrepou com essa danada -
Fudeu com Educação sua ferida."
E não é que essa Rainha rebaixada,
Sem posto na coroa e sem espécie,
Está de volta à sanha e animada??
O posto de Rainha entre as Colméias,
Ganhou do Lobisomem em "dá-ou-desce"
Na liga em que preside outras tetéias.
(F.N.A)
"Meu Querido Donatello"
...O que é que anda cinco kms, pára um pouquinho, descansa um pouquinho??
Minha caranga envenenada, mui envenenada, ora bolas!
"Meu Querido Donatello"
Meu carro, já nem falo, pois escuta -
Bichinho imprevisível e bem danado,
Consegue magoar-se na labuta
E muito mais bem quando está cansado.
Lhe falta um parafuso como o dono;
As molas são pra si pernas de pau;
Um olho do farol enxerga mal
E o outro, quando acende, está com sono.
Nem fale! Quando eu vou a Taquaralto,
Precisa sete dias de reparo
E olha que andou só no asfalto?!?!
E eu, um jornalista sem trocado,
Prossigo em meu carango pois é caro
Fingir de carro novo, pendurado.
(F.N.A)
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
"Um Estranho no Ninho"
...I´m the Kiwi Master!
"Um Estranho no Ninho"
Por muitos, muitos anos nesta casa,
Eu, hoje, já nem sei aonde é a porta
Que enxote-me daqui ferindo a asa
Da mosca que eu fui e hoje é morta.
Se antes, os corredores eram imensos;
Agora, é pouco quarto a tanta estrela.
E o mofo que aspergia o ar com incensos,
Sumiu. Mansão impossível descrevê-la.
Quem tinha a ditador o novo patrão,
As bençãos do poder tem por primeiro
Aos cães que lhe beijavam a mão.
E eu sinto uma vergonha, de mansinho,
Por ser um pinto velho sem poleiro,
Servido como frango a passarinho.
(F.N.A)
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
"Um Índio"
...A aldeia rende voto? Índio pra Associação, ora.
...Mas, isso foi até ontem.
"Um Índio"
Um índio é só um índio, pois, contudo,
Aos pares de seu cargo em eleição
Consegue ser tratado em distinção,
Pois é mais que prefeito - é um bicho mudo.
Mas ele é só um guerreiro botocudo
E não vale assumir Associação
(Valia até bem antes da eleição),
Pois pode envergonhar: não tem estudo.
Na urna, em que votou com seus caciques,
Seu voto foi igual a tantos votos -
Suado, empenhado e sem trambiques...
Agora, que o cacique-rei ganhou,
O pobre do Aritana é só um devoto -
Não come mais à mesa em que sentou.
(F.N.A)
"Comensal Come Sal"
...Tá com fome? A partilha explode como um bolo recheado de vento...
"Comensal Come Sal"
Ei, tu, idiota que te fazes de conta
Por defensor de Capitão no arraial,
Pois cuide de plantar no teu quintal
Um vendaval que te entorte a ponta!
Recheie tua boroca com cuidado,
Pois não será aqui tua morada!
Melhor pegar, enfim, uma nova estrada
E algo que apague teu passado.
Palavra de Doutor não vale nada!
Nem vale compromisso, muito menos,
Cantiga de sereia na enseada...
E dê-se satisfeito com tua herança,
Pois és do que tem sorte em comer feno
Na mesa, após a sobra das crianças.
(F.N.A)
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
"O Sax Romântico de Randercleisson Sandoval"
...Não canto, não assovio, não componho... Só aplaudo!
...Me senti um turista na Praia do Jacaré....
"O Sax Romântico de Randercleisson Sandoval"
É uma arte, um mise en scène, a apoteose...
Prepare a claque e a disponha enfileirada,
Bote dois bobos controlando acesso à escada
E, voilá!, iniciou a metamorfose...
Um bobo alegre, novo clown da Dinamarca,
E quatro ases do baralho (ou são valetes?)
Dançam a canção "O despertar da marionete",
E o contra-mestre dita o remo pela barca.
Abre a cortina. E eis o astro triunfante!
- Seria Morfeu nos sonhos lúbricos de gozo
A excitar a corte em fábulas de amante?
Mela-cueca sem discurso é um parto astral!
Então saudemos o novo século no fosso
No cantochão de Randercleisson Sandoval.
(F.N.A)
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
"Boi de Piranha"
...Claro Enigma: perdeu holofote? Chama a atenção doutro jeito, meu!!
...Eu nem chamaria de dekassegui, mas de esperto, mesmo. E tem quem vá cair nessa malandragem...
"Boi de Piranha"
Tropeiro quando cruza o pantanal,
Destaca da manada o boi mais velho,
Pra fome das piranhas, em seu parelho,
Livrando as outras reses no final.
De boa, o pobre boi sacrificado
Não vai para degola - ele é imposto,
Conforme a ocasião. Sempre disposto,
Não pode escapar ao ser chamado.
Mas, tem situação e situação -
Tem rio em que piranha não faz nada;
Tem rio em que o boi vira ração.
Tem corda em que já vi faltar pescoço,
Mas boi que desembesta na arrancada,
Tem séria condição de virar osso.
(F.N.A)
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
"Certidão do Caos"
...Quando um advogado diz que a coisa não tá bem e pede moralidade, é preciso se reconsiderar o nível de corrupção a que chegamos.
...Mas se há advogado do diabo, haveria também cartorário? No caso de gestor do cão, isso eu sei que tem.
"Certidão do Caos"
Disse o Diabo, assim, na porta do cartório:
"-A lide está abaulada e o aval no documento!
Diga ao Gestor que, hoje, dou consentimento
Pra que transforme o Estado em inferno compulsório!"
Dali saiu feliz o jovem advogado
Com a ação na certidão enxuta e assinada,
Lhe disfarçando as regras pra manter a fachada
Que sirva de desculpa caso esteja errado.
Assim, juramentado o caos na estrutura,
Ganha o gestor a briga que mantém acesa
Pois deixará de herança o rombo na fatura.
E se Legal o vício ao pé do documento,
Vislumbramos o Inferno a nos chegar à mesa
Pois faltamos em vigília e posicionamento.
(F.N.A)
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
"O Amor... sem Vinícius"
Vinícius dizia “em tudo a meu Amor serei atento”. Contanto, sendo infinito enquanto DURO.
Fidelidade conjugal baseada em acordo político é como pau de tarado em bunda de viúva.
Pior. Com amor assim é bunda gasta, amor sem graxa; sem mandato, amor pro saco.
“O Amor... sem Vinícius”
“Em tudo ao meu amor serei atento,”
Conforme ele me guarde em sua trama,
Como uma puta que arruma a cama
Em que deitou depois do desalento
Da velha clientela do Chiqueiro,
Que amarga a carne nua com conchavos
E paga o coito dela com centavos
E exige tratamento de empreiteiro.
Zeloso em tanto amor serei leal,
Igual um marido solto sem a esposa,
Liberto pra brincar no Carnaval.
Zeloso, mas fadado ao moralismo –
Não vale amor fatal com mariposa!
- Assim farei valer meu catecismo.
(F.N.A)
"O Pacto dos Bobos"
...O óbvio não surpreende pela causa esperada, mas pelo fato de ser... óbvio.
...Só quem não percebeu foram os Leões! E a oposição segue como o óbvio que se revela.
"O Pacto dos Bobos"
Numa taverna. É tarde a noite e se reúnem
Quinze centúrias sem espadas e escudos.
Mais se assemelham a velhos índios botocudos,
Que a guerreiros feito vespas quando zunem.
Assim, com beiços cinco metros palmo fora,
Fazem concílio, onde exortam o perdedor
E as orações nas armaduras causam horror,
Pois escolheram alguém pior por chefe, agora.
Na tasca pobre, onde o vinho se avinagra,
Alguns o gole enferrujado tomam à força
Como se houvessem degustado um copo d´água.
E assim o Império do Marmelo é só declínio -
Nero por si seria mais líder como moça,
Que o tartamudo, esse Calígula-menino.
(F.N.A)
"A Herança de Elisa Lynch"
...Numa ação justa sobre as causas, o efeito demorou, mas veio.
...Nosso Tiririca nem precisou ser analfabeto, apenas o que é - um notório corrupto.
"A Herança de Elisa Lynch"
Não conheço além um mouco mais intenso
Em start, euforia e prevaricações,
Que este jovem rapaz, depois das eleições,
A buscar no Congresso o que lhe falta em senso.
Mas, a vida é insegura e seu caminho denso
E o tempo encerrou as suas pretensões -
Empreiteira, comparsas e uns cinco barões
Lhe ornavam grandeza em seu corpo penso.
Deu trabalho, esmeraram e tudo foi em vão -
Menos moucos, juízes conhecem espantalho
Que divide com corvos o pomar no verão.
Só lhe falta herdar, como Solano Lopes,
A grandeza de um galho em seu ar de paspalho,
Que Elisa dará, por desgraça, a reboque.
(F.N.A)
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
"Aula de Amputação"
...Se me amputam ou imputam, estou na degola. Óbvio!!
...Se este amputamento fosse judicial, renderia açougue de provas.
"Aula de Amputação"
Tem horas, a Idade Média está por terra
Ou presente em medicinas tão diversas,
Que eu lembro das torturas persas
E dos médicos do Rei da Inglaterra.
Na época em que alguém perdia um dedo,
Cortado à força de amputamento -
Sem éter, mescalina, ópio, unguento,
Anestesia. A dor beijava o medo...
Ninguém ameaçava alguém por dor -
Gritavam, como gritam os sofredores
No umbral longe da luz do bom Senhor.
Agora, há falastrão que é rabugento -
Depois que rouba e grassa investidores,
Reclama estar a sofrer amputamento.
(F.N.A)
terça-feira, 9 de novembro de 2010
"Espírito de Porco"
Se Robin Hood contasse com um Little John sacana como o que contamos nesta jornada, Sherwood estaria entregue às mãos do Rei antes do amanhecer de um primeiro confronto.
Belicoso, vaidoso, bugre e nocivo, nosso Iago torceu contra, não apenas por inveja, mas por agrado às hostes contrárias – é que sempre foi homem de bando... bando multipartidário.
"Espírito de Porco"
Maledigna missão humana entre os valores
Contrários ao bom senso e à retidão dos puros,
A inveja aflora espinho (o roseiral impuro)
No coração do ímpio em mui diversas cores.
O espírito sem escalas no umbral que sofre
A infeliz natureza da energia abandonada
Não sente a luz vingar após a madrugada
E a senha da razão a destravar o cofre.
O velho e mau Bigode tem essa azia grave,
Que agoura e desdém com olhar de enfado
A pelota chutada pra bater na trave;
Como nessa vitória que custou trabalho,
Onde o pouco que olhou em gordo bocado
Fez arruda secar lhe apodrecendo o galho.
(F.N.A)
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
"Dulcinéia de Toboso"
...Tanto lá como cá, ainda há madamas persistindo suas futilidades, escoradas na fama e títulos nobiliárquicos tupiniquins dos maridos...
...As escalas sociais nas quais se acoplam são diversas: de mulher-jaburu de secretário à perua de magistrado federal.
"Dulcinéia de Toboso"
Não apenas Quixote, enganado em cheio
Nos sonhos pueris românticos que tinha,
Engoliu este angú como um purê de pinha,
Disfarçando o canhão que sonhou sem recheio.
A aldeã mais bela se mostrou o contrário
Na vila de Toboso - uma criada feia;
Assim pôs-se mostrada outra vilã da aldeia,
Postergada à fileira de um calão secundário.
A madama implicou: "Não sentar com ministro",
Sendo o esposo um bastião, "É acinte doloso
E passível a tortura como sofreu Cristo!"
E assim, relocada a seu posto de extremo,
Reluziu Dulcinéia, ao botox lustroso,
Como a fera que doma o leão do Supremo.
(F.N.A)
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
"Monstros na Vizinhança"
...Não sabemos aonde vamos parar, porque perdemos a noção dos limites...
...Há mulheres sem guarda nas ruas; crianças nas mãos desses monstros: Eis nosso Vilipendiável Mundo Novo!
“Monstros na Vizinhança”
Não sabes viajar sem deixar filhos
Na casa de parentes, pois seguros
Não poderiam estar sobre os monturos
No rego de um vizinho em seus fundilhos?
Então confie, amigo, na Justiça
E nos doutos homens magros a seu dispor:
Sujeitos que transmitem real valor!!!
"Por baixo dessa toga há carniça..."
O Estado fracassou, ruiu e está morto.
Ninguém mais se confia, nem parente,
Polícia, Magistrado, peão de Porto...
Maldito o que deixar a própria cria
Nas mãos, zelosas mãos, de um delinqüente
Que finge proteger, mas que alicia.
(F.N.A)
"A Vingança de Lesbos"
...Aquele sorriso dentuço que transmite um riso silenciosamente psicopata não engana.
...Feliz ao lado do idiota, conjectura a forma com que lhe dará a primeira punhalada...
"A Vingança de Lesbos"
É uma comédia pastelão onde o bufão
Se jacta feliz à própria causa -
Sapo Barbudo, que transmite náusea,
Enche de enjôo quem lhe beija a mão.
Na dúvida, a robô, sem permissão,
Num tilt involuntário dando choque,
Prepara um grosso plano que a reboque
Trará até a Arena em sua missão:
Dar chute bem na bunda do paspalho,
Que entende de governo como um corvo
Entende milharal sem espantalho.
O Monstro que assumiu tem cara chata
E logo mostrará que é um estorvo,
Atrás daquela lata de sapata.
(F.N.A)
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
"Happy Birthday, Motherfucker!!"
...Se todo sujeito pudesse lhe dar uma sonora cacetada de presente, Presidente...
"Happy Birhtday, Motherfucker!!"
Como eu queria ter a chance de um penetra,
Que enfim transpõe todas barreiras partidárias
E aquela cerca que há em terras donatárias,
Como no torto, onde a festa é igual ao tetra...
Eu levaria é um porrete bem embrulhado
Em um papel fino e lustroso, reluzente;
Grossa borduna de amassar paçoca quente
E de sentar na cara lisa de safado.
Entregaria, empunhando o corpo inteiro,
Como fez Thor em seu martelo ao ser forjado
À mão de Odin, botando em cú de mensaleiro...
Assim daria, nesse cão, uma bordoada,
Como levei, quando enfrentei o meu cunhado,
Porque emprenhei sem permissão minha namorada.
(F.N.A)
"Happy Birhtday, Motherfucker!!"
Como eu queria ter a chance de um penetra,
Que enfim transpõe todas barreiras partidárias
E aquela cerca que há em terras donatárias,
Como no torto, onde a festa é igual ao tetra...
Eu levaria é um porrete bem embrulhado
Em um papel fino e lustroso, reluzente;
Grossa borduna de amassar paçoca quente
E de sentar na cara lisa de safado.
Entregaria, empunhando o corpo inteiro,
Como fez Thor em seu martelo ao ser forjado
À mão de Odin, botando em cú de mensaleiro...
Assim daria, nesse cão, uma bordoada,
Como levei, quando enfrentei o meu cunhado,
Porque emprenhei sem permissão minha namorada.
(F.N.A)
"Cícero de Ébano"
...Se todo jurista, que supostamente propaga possuir douto saber jurídico, se portasse assim, estaríamos salvos de tempos tão sujos e assustadores.
...Joaquim Barbosa, o Cícero de Ébano???
Sou fã, incondicional!!!
"Cícero de Ébano"
Mas essa Lei que nos enforca em casuísmos,
Não a entendemos no rigor de sua essência;
Mas entendemos que é preciso transparência
Quando alguém quer lhe empurrar rumo ao abismo.
Quando uma Lei a camuflaram por batismo
Além do pleno, ungido e posto na cabeça
Pelo maior Bem da nação - seu povo besta -
É que devemos entender o hedonismo.
Mas, a Moral dos tempos magros e famintos
Será a Moral revisitada, a bem do Povo,
Por cinco, apenas, em seu ópio e absinto.
Graças ao Cícero de Ébano e outros pares,
Que ante à luz do olhar das plebes, vem de novo,
Fazer farol à Lei Romana em sujos mares.
(F.N.A)
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
"Refeição Entre Amigos"
...A coisa ainda nem começou e um racha fisiológico manda seus sinais...
...Sanha, partidarismos, elucubrações, legendas, amigos, mais que amigos, inimigos valorizados, a claque inteira... Não vai sobrar pra quem quer!!
"Refeição Entre Amigos"
Imagine um presídio, onde um tarado
Não vê uma mulher faz uns três anos -
Isso se não se enrolou nos panos
E com algum membro de cela é amaziado.
Pois bem, agora veja o tratamento
Que o grosso agressor dará à carne -
Um tapa na aranha que, da Arne,
Alguém se esconderá desse jumento.
Assim é que vislumbro o novo estágio:
Tarados com desejos reprimidos
E toda aquela sorte de contágio...
E a carne é muito pouca pra vender -
Doada, assim de graça, entre amigos,
Não sobrará a quem quiser comer.
(F.N.A)
"Preto Incolor"
...Companheiro é companheiro; hijo de puta és...
...A tragédia natural daqueles que são abandonados pelo caminho não faz escola, pelo cerrado, apenas no método pardo do petit prince, mas também em lastro presidencial... Que o diga o ex-companheiro Preto.
“Preto Incolor”
Diz a política mineira que entre quartos
A lealdade num paulista é passageira.
É como alguém entregar às mãos de uma parteira
Uma tesoura enferrujada para o parto.
O nosso acordo é não enfrentar o holofote
E arranjar composição entre as bandeiras
Corporativas da estatal; passar rasteira
Caso o engodo nos entale pela glote.
Mais que café, menos que leite ou paulicéia,
Deixaram o Preto sem Tucano, além da pena,
Numa gaiola, sem alpiste e sem alcatéia.
E o que era Preto, cor funesta a seu mentor,
Descoloriu, emurcheceu, saiu de cena,
Sangrando tanto que virou preto incolor.
(F.N.A)
“Estado Muderno”
...Temendo que o salário escoe pelo ralo, servidor faz o quê? Trabalha ou cruza os braços?
...Na república dos Horácios, nem juramento sobre a bíblia atesta sinal de franqueza... Na verdade, nunca atestou!
“Estado Muderno”
Depois de estourar cofre e puteiro
Em farra de um trilhão, veio a real:
A teta já secou e o gás deu pau...
A ordem? Combater o fogo com aceiro.
Cortar gasto em café e chupar dinheiro
De fonte em paradeiro ilegal,
Sangrar diária e a fila do Hospital,
Acelerando rumo ao desfiladeiro.
Até verba a gestante em pré-natal,
A idéia é sucatear e orar que, um dia,
O arrocho zere a dívida fiscal.
E a merda vai chegar a tal problema,
Que nego vai roubar à luz do dia...
Polícia tem dinheiro nem pra algema.
(F.N.A)
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
"Tropa Vermelha 2"
...Tijolo, piston de carro, bolinha de papel... Não importa o objeto da agressão, mas a agressão em si.
...Nosso Hommer Simpson é afetado por natureza, sabemos todos. Mas, nem por isso merece hostilidade de um bando de idiotas que apóiam a professora Baader-Meinhof do Khmer Vermelho...
"Tropa Vermelha 2"
Daí subiram o Dona Marta e abriram fogo
Ideológico contrário a adversários
E na descida quando alguém foi a Vigário,
Lá encontrou opositores sob um toldo.
Policiando, igual milícia na Chechênia,
Arremesando de tijolo a papel...
Assim se portam os mercenários de aluguel,
Que se protegem sob escusa data venia.
Mas não se acanhe quem não foi bem agredido,
Porque passada as eleições e caso ganhem,
Receberá seu pão amargo e mal dormido.
Assim serão os anos de chumbo que o partido,
Pretende impor a bordoada caso assanhem
Seu democrático governo de bandido.
(F.N.A)
sábado, 16 de outubro de 2010
"O Banquete dos Vampiros"
...Vergonha? Propina não escandaliza mais. Quem paga, acha que pagou pouco; quem recebe, acha o mesmo.
...Numa Casa Civilíssima, vampiros, como o velho conde Vlad, alimentam-se e se aliam!
"O Banquete dos Vampiros"
Não há jugular pulsando no planalto,
- Em Casa similar à Transilvânia -
Que sangue não escapula à sua sanha,
Quando a propina está sem salto alto.
Nem alho, escuta ou estaca o afugenta,
Nem mesmo ações de grampo em comitês!
O idioma do seu vício? o juridiquês.
E, sós, seus largos dentes não aguentam.
Precisa repartir, antes que coagule,
O bolso do explorado com mais duas vampiras,
Pra garantir o caixão, antes que outro adule.
Em 'coisa de patrícios' tudo acaba bem -
Vampiros são vampiros; tiras sempre tiras.
Só entra pro banquete, quem chupar também.
(F.N.A)
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
"Erro de Cálculo"
...O aborto deveria ser legalizado? Por controle social, casos de violência, eugenia, talvez nem tivessemos que nos preocupar em suportar um barbudo: teríamos nos livrado dele ainda no ventre. Não é, companheira?
"Erro de Cálculo"
Se o entendimento abarca nesse porto
Que agrega uns mil cachorros companheiros,
Então contravenção de pais solteiros
Seria minimizada pelo aborto.
Não mais existiria mãe-cadela
Com filho em cada teta - enfim seria,
País com menos taxa de alforria:
Escravos sem patrão, menos favela.
Talvez até teríamos corrigido
Um erro que nasceu de mãe solteira
E que hoje nos enraba sem prurido.
Se o aborto que mais querem, retroagisse,
Talvez o cão barbudo, companheira,
Houvesse sido morto e nem existisse.
(F.N.A)
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
"Fort Knox"
...Daí entregaram o cofre em mãos ligeiras...
...Cremos que está seguro. Se alguém avançar, leva chumbo nas fuças.
"Fort Knox"
Pois para mim, tesouro é uma contenda,
Que mesmo forte segurança é sempre pouca -
Precisa-se de esquema e cala boca
Pra proteger o que há de bom na tenda.
Repare o Sheik... Cuida da odalisca
Pondo um eunuco pra vigiar o cabaço
De Sherazade, enquanto guarda o espaço
Pra que a tarada não lhe traia à vista.
Em terra Yankee, existe um cofre em inox,
Que todo ouro do planeta encerra
E nem Goldfinger entrou no Fort Knox.
Ninguém descuida nem de geringonça -
Nosso tesouro está em mãos de fera...
Nas mãos do grande matador de onça.
(F.N.A)
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
"A Lista"
...Se lhe coubesse a sanha de Schindler, teria em suas mãos o documento que decretaria os que seriam salvos da Câmara de Gás e os que a ela seriam conduzidos. E tudo isso restrito numa única lista!
...Mas, uma nuvem sugere melindre no ato genuíno de governar que é... guardar segredo.
...Camaradas, faz parte!!
"A Lista"
Não pode a palavra rubricada valer,
Mas pode a palavra solta por cautela?
Essa é a boa Imprensa Cinderela -
Espevitada e até sem compreender,
Que sigilo no tratado é algo básico,
Não fosse assim, coitados os portugueses -
Seriam dos espanhóis as suas reses
Na antagonia desse embate clássico.
Governo está ao segredo, conforme está
O segredo ao governo, pois o reino
Depende do silêncio pra vingar.
Ninguém solta com a língua pelo dente
Se tem mínimo zelo neste treino
Que avança a jogo sério, seriamente.
(F.N.A)
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
"Na Conta do Abreu"
...Tocar empreendimento onde os custos quem paga é a União, é fácil...
...Mais fácil ainda é manter a clientela, quando o ponto muda de dono: cliente é mais fiel às mordomias que leal à bondade do antigo proprietário...
“Na Conta do Abreu”
As contas do boteco já não fecham –
Vendeu-se mais fiado que à vista.
Bar repartido entre cães socialistas
Leva calote, quando as putas deixam.
O dono, um doido ególatra e avoado,
Cingiu desde o batente até o banheiro
Com pincelada rubra e pôs dinheiro
Disposto a lotear sem ter quitado.
No fim, após os bêbados da rua,
O caminhão de lixo fecha a conta
E a travesti do beco dança nua...
Assim é que se toca investimento
Em casa, onde quem manda faz-de-conta
Que a farra sofrerá apostilamento.
(F.N.A)
sexta-feira, 18 de junho de 2010
"Ficha Corrida"
...A Justiça é cega, mas, às vezes, suspende a tira dos olhos!!
"Ficha Corrida"
Bandido que tem ficha quilométrica
Em arquivo de DePol entende a gíria -
"-Esse doutor, que não morou em Brasília,
Bem merecia ir pra cadeira elétrica!"
Mas, cá, neste cercado, se um é punido
Com o mínimo de pena já conforta a alma -
Hoje, depois de já ter perdido a calma,
Pude alegrar meu coração ferido!
A Justiça Divina agiu com certo atraso,
Mas um exemplo impune, que andava sorrindo,
Chora os planos desfeitos de seu vôo raso.
Só daqui doze anos, se inda houver Justiça,
É que alguém lembrará dessa lesma mentindo.
Quem foi rei já não é mais que uma podre carniça!
(F.N.A)
quinta-feira, 17 de junho de 2010
"A Contradança"
...Um albatroz que se prepara para o vôo e desengonça com o balé entre suas pernas...
...Não é fácil dançar sem ter sido tirado. Pior é tirar, não ser aceito, e ter de dançar sozinho...
"A Contradança"
Não sei dançar tango no escuro
E sei bem menos pular frevo na ladeira,
Mas sei dançar aquela arte brasileira:
Sobreviver a caos político sob o muro,
Dançando sob caco, prego e gerânio,
Sangrando e retorcendo-se inteiro -
Igual o malabarista ao picadeiro:
Caiu do arame, inda rachou o crânio
Dançando com meus passos de idiota,
Redimo os que não sabem nem dançar,
Conforme a oblação que alguém provoca -
Gritos e vaias, convulsões e histeria,
Loucos varrendo suas garras a alcançar
Minha goela, por eu dançar sem companhia.
(F.N.A)
"Laranja Sadia"
...Mais uma vez, a corrida está ganha e não precisam mais de bestas leais... Agora!
"Laranja Sadia"
O tiro no pé circunda a mesma quadra,
Aonde ninguém sabe o necessário -
É um estado de euforia e o mandatário
Ilude a cada besta quando ladra.
Os apoios fictícios e o abecedário
De contas no papel em que se esquadra
Com números de votos e a patuscada
Enganam até bandidos partidários.
De erro em erro, na falta de conversa,
Por causa de arrogância e causa ganha
Já mudam a votação sem muita pressa.
Ali, quem é correto é posto a besta -
Laranja que é sadia e mais apanha
Por discordar das podres que hão na cesta.
(F.N.A)
segunda-feira, 14 de junho de 2010
"Ladrões de Bicicleta"
...Mais um clássico do canal TCM - a tv ideal para cinéfilos, como eu...
...Filme clássico italiano de Vittorio de Sica, num lindo contexto - momento de tragédia ante a farra feliz dos que não andam a pé....
"Ladrões de Bicicleta"
Se, neste cercado, morasse Antônio Ricci
- Desempregado: dois anos de miséria -
Por falta da magrela (coisa séria!)
É que não ficaria sem holerith.
Na depressão pós-guerra desse estado,
Em que eu, um paranóico sem ofício,
Sou tanto, como os que passam suplício
E exibem a honestidade por atestado.
Nesta terra, o mundo não nos é tão perto -
Na avenida distante, vislumbro os poderes:
Da favela ao Sultão, a distância é um deserto.
Pelo bem e pelo voto, logo um decreta:
"Um menino não vota, mas tem seus deveres -
Trocar voto do Pai pra ganhar bicicleta!"
(F.N.A)
sábado, 12 de junho de 2010
"Mendigo de Partido"
...Peregrino entre dois templos, acudindo ajuda, piedade e prestígio tardio...
...Todos os santos, por lá, já tem seu andor, pois cheguei atrasado na missa de reconhecimento por trabalhos prestados...
“Mendigo de Partido”
O partido é a minha porta de igreja
E a cara de paspalho com que olho
A extrema unção que alguém balança o óleo
À forma parasita em minha peleja,
Me deixa igual um legitimo abestado,
Que achou em chegar atrasado na partilha
E, enfim, se contentou com a armadilha
Que fisga legionários sem passado
De mendigar que nem um sibarita,
Que irrita quem se atrasa à pregação,
Porque lhes obstrui acesso à cripta.
Eu, hoje, sou igual cego de escola
Que aguarda a molecada no portão,
Sujeito a levar cuspe por esmola.
(F.N.A)
"Marcelino, Pão & Vinho"
...A ficha limpa deste pobre órfão contaminou as platéias do país, em 1955...
...Gosto desse filme clássico – a arte de dividir o pão, Marcelino entendia bem...
“Marcelino, Pão & Vinho”
Amigo oculto ao sótão, Marcelino
Podia alimentar e estar presente,
Na fina evolução que habita um crente –
A fé move montanhas do caminho.
Suado, como um gordo num SPA,
Já o órfão da cadeira chora as mágoas –
“Eu fui um homem bom! Pequei por dar
Esmola, marmitex e colchão d´água...”
Alguém cedeu ao santo o microfone
E nem bem lançou campanha sem mandato
Pra trinta lhe acionarem ao telefone.
Amigos de orfanato – empresas “sérias”-
Cansados dessa fome de contratos...
“Celinho, tira a gente da miséria!”
(F.N.A)
sexta-feira, 11 de junho de 2010
"Pais de Família"
...Num território vitimado por espólios de guerra política, ser Pai de Família é isso...
"Pais de Família"
No tempo em que ser Homem era negócio,
Quem tinha honra e zelo com a sua imagem
Distava-se bem longe da bandidagem,
Pois Homem não é Artesão de Puta e Ócio.
Se era Pai, mantenedor, sujeito honrado,
Exemplo de moral e Amor aos filhos;
Apego à tradição, mesmo que o brilho
Da mansidão fosse um altar quebrado.
O mundo foi girando e, hoje, o conceito
De ser Pai de Família é ter emprego
Fantasma, é ser ladrão e é ser suspeito,
É ter um pistolão, é ser traíra e meliante
E, ao fim dessa jornada, achar o apego
Do Lar, depois ter fudido a nova Amante.
(F.N.A)
terça-feira, 8 de junho de 2010
"Castelo Branco"
...Quem te conquistará, Blanc Chateau? Tu que és o último resquício do feudo do Norte.
"Castelo Branco"
Branco Castelo que a todos enamora
E faz romper, do calabouço, um novo amante,
Entre teus muros, um cavaleiro bem distante
Já trespassou tua guarda frouxa de senhora.
Todos que, hoje, te anseiam por domínio
E todos outros que, um dia, em ti entraram,
Ninguém te sabe como é triste o vaticínio:
Ser fortaleza num condado onde enterraram
A própria história dos Barões e Coronéis;
E, hoje, como um palacete sem monarca,
Ninguém invade teus salões em gris corcéis.
Não obstante, descartado, não és mais belo,
Alguém te soube da estrutura ruim e parca,
Pois és de areia construído, meu Castelo.
(F.N.A)
"Siameses"
Ok, ando nostálgico, existencialista e melancólico.
Pô, o mundo não é só críticas, críticas e críticas.
"Siameses"
Vislumbre, meu amor - há uma sina:
De sermos siameses nesta vida -
Em ti grudado e, em mim, você, querida,
Como duas reses a tomar vacina;
Ou, então, duas estrelas pequeninas
Que orbitam, como elétrons frente ao núcleo
De um átomo, bailando absolutos
Seres do Espaço à luz matutina.
Firmados, como velcro e aderente;
Grudados, como sola e superbond;
Ligados, como cárie e dor de dente:
Irmãos, mais que amantes e amigos;
Pois finda a vida, ao se cruzar a ponte,
Quero cruzá-la, meu Amor, contigo!
(F.N.A)
sábado, 5 de junho de 2010
"Desconhecido"
...Nem os morcegos de Rorschach me espantam mais!
“Desconhecido”
Eu sou a própria dúvida, um equívoco,
O viço da incerteza em ser mais alma.
Talvez eu não tivesse, hoje, essa calma,
Se eu descobrisse em mim como sou louco.
Um canibal que se resume, um pouco,
Na própria fome e a herança de estrangeiros –
Em temperar quem irei comer primeiro,
Amaciando a carne dando soco.
Desconfiado com minha carcaça,
Tomo a dar voltas, quando vou pra casa,
Vendo tocaias ao redor da praça.
Nada me fio – Deus, haxixe, algum amigo...
Somente a fera, em Rorschach, abre a asa
Na psicose que me acolhe em seu abrigo.
(F.N.A)
"Munch"
...Na maioria das vezes, me sinto o personagem desse quadro, onde se desespera a simbiose perfeita entre o que sou e meu estado d´alma...
“Munch”
Uma ponte. Essa é a ponte em que grito terrificado.
As mãos me arrancam da face o horror extremo no pânico –
Grosso prospecto cadáver do desespero, onde grito:
Garganta irritada ateando fogo às cordas vocais.
Quero gritar, mas nenhum som quer se aliar comigo:
Sem diafragma ou alarido acuando cachorros.
O sol sangra o arrebol por trás da minha tesa nuca;
A garganta expele escuridão para um horizonte distante.
Essa é a mortalha cinza e negra igual teus olhos,
Que visto como fosse a malha nevral de tua retina
E, só daí, desse instante, começo a ver os horrores que vês.
Fosse isso, talvez, minha angústia na ponte –
O ensaio da tarde desmaiando no ocaso
E o grito incapaz de impedir que eu morra.
(F.N.A)
"Fóssil Irresoluto"
...É uma questão de rebeldia e genética da hombridade, mesmo.
...Sabe aquele foda-se definitivo aos perdulários? Pois é. Taí!!
“Fóssil Irresoluto”
No dia em que o cerrado virar sal
E do sal virar oceano e abaixo um sismo,
Da plataforma, a sonda, ao denso abismo,
Alguém achará meu fóssil de metal.
Porque daqui não saio – além por própria conta
À busca do saber, dos livros e do frio,
Da luz do continente que afundou no rio,
Mas não irei por medo de quem me afronta.
A solidão do bravo e a sanha do atrevido
Percorrem minha medula com o veneno ósseo
De pragas, como eu, em pastos combalidos.
Ninguém, além de Deus, irá me impor degredo!!
Mesmo a Terra cuspindo o próprio sacerdócio
E o mar se afogando, eu não arredo um dedo.
(F.N.A)
"Cardápio"
...No final das contas, vamos todos ser papados!!
“Cardápio”
Uma panela grande – isso é o mundo!!
E, nós, uma carne solta e diversa.
Enfim, simplificando essa conversa:
A graxa óssea no teu prato fundo.
Djins e ghulz, Frost e Nixon, um segundo!
Não somos mais que gansos na travessa,
Por isso o medo de morrer nos interessa
Em não sofrer neste umbral profundo.
Iblis perfuma os fracassados e os descrentes,
Que morrem à míngua no complexo sabor
De maturado sangue espesso entre os dentes.
A humanidade está servida nesta janta,
Onde o Diabo é o convidado do Senhor
E sua gula por comida nos espanta.
(F.N.A)
"Abismo"
...Na verdade, não anseio muitas guerras e nem correspondências do front.
...Viver já é foda!
“Abismo”
Salinger sabia da vertigem ao precipício
E nada mais sei, que não seja queda livre.
Não há ninguém para frear minha derrocada,
Nem me apanhar pelos braços ou me dar a mão.
Desde que a vida me descobriu moleque,
Quietinho e seviciado no açaizal,
Nunca mais tive paz ou permaneci camaleão:
Outdoor sem anúncio a sorrir aos pichadores
Carro das pamonhas a gritar enfados,
Achei de abismar horóscopos e muiraquitãs
Nas horas úteis e inúteis dessa peleja.
O conselho pra me jogar recebi do ostracismo –
Tantos quilos de orgulho a espalmar o chão,
Tantos gritos de súplica aos indiferentes.
(F.N.A)
"Conclusão"
...Nossa vida e o sentido dela é a síntese da máxima: do nada pra lugar nenhum!"
“Conclusão”
Não iremos a lugar algum, pois já morremos!
Não ter desdobres em arroubos de caráter!
Nada que existe segue a fina dura mater –
Para o universo em nada importa o que sabemos.
A antimatéria está aí e nós não vemos,
Porque seguimos enfurnados num capuz.
O absurdo consciente em Albert Camus
Foi deduzir-nos imbecis - nem mais, nem menos.
Um transplantado, esse sim entende a vida
Em seu valor de respirar e sentir-se vivo –
O factível do sentido é a natureza!
Fora extremados, qualquer força está esquecida,
Pois, mesmo o carma com algum princípio ativo,
Já formulou-nos muito mal em sua grandeza.
(F.N.A)
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