quarta-feira, 15 de julho de 2009

"Canibalismo Já!"



...Guajajaras, tamoios, tapuias, todos timbiras, tupis... todos no chão. (Lô & Márcio Borges)


“Canibalismo Já!”


I

O Carajá caga no mato e não na louça,
O javaé só toma banho em Igarapé;
Nem o xerente com sabão lava seu pé;
Xambioá mal põem escova à própria boca.

Assim trabalha o sentimento democrático
Dos velhos caraíbas que agenciam
A grana que sumiu ao lençol freático,
Em tubos e privadas que viciam.

É quando penso: a besta do Anchieta
Com papo de amor, paz e confeito
Tocou há quinhentos anos a trombeta

Da apatia auto-destrutiva dos Ancestrais.
Queria ver se roubariam desse jeito,
Se nessas tribos vivessem canibais?!


II

Se Hans Staden cozido servido fosse
E não escapado testemunha do jantar,
Quem sabe ao menos, um velho tupinambá
Saberia: nossa carne é bem mais doce.

E se essa protéica dieta perpetuasse
Desde os tempos que Caminha copulava
Com amazia uma tapuia feita escrava,
Talvez, aqui, nem mais um branco se encontrasse.

E se vivessem, nem kulina que preserva
A fome amarga à carne branca e quente,
Mal comeria esses velhotes na conserva,

Porque cairia pelo chão como a aftosa
Desprende espasmos numa vaca doente
Carne de velho é feito caça: bem reimosa.

(F.N.A)

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